Já escrevi recentemente sobre a necessidade de uma terceira dose de reforço vacinal. E nos últimos dias voltamos a ter notícias preocupantes sobre surtos nos lares de terceira idade, que já levaram a vários casos de morte. Os idosos, mesmo vacinados, estão novamente a ficar infetados por Covid-19.
Estes resultados apontam para a necessidade de vacinarmos já os utentes dos lares. Os artigos científicos mostram que os anticorpos em doentes vacinados vão diminuindo com o tempo. Em Coimbra foi feito um estudo que prova esta afirmação. Os anticorpos dos profissionais de saúde que fizeram parte do referido estudo, reduziram um sexto após três meses da inoculação e ainda mais decorridos seis meses. Nos mais jovens, os anticorpos eram mais elevados comparativamente aos dos seus colegas mais velhos.
Estudos realizados noutros países revelaram que os anticorpos começaram a reduzir após seis meses em doentes vacinados.
Sabe-se que vão ser testados brevemente milhares de utentes em lares, para se avaliar a imunidade atual. Estes resultados irão ser divulgados em Setembro/Outubro e, face aos mesmos, os responsáveis de saúde poderão indicar a necessidade de uma terceira dose da vacina para este grupo de risco.
Isto significa que, no mínimo, teremos de esperar mais dois meses sem qualquer decisão sobre a eventual toma de uma terceira dose.
A pergunta que faço é: esperar para quê, quando temos dois factos que demonstram que os anticorpos dos utentes dos lares estão reduzidos ou inexistentes?
A primeira prova é o aumento de número de casos e de mortes em doentes vacinados. A segunda tem a ver com os resultados do estudo de Coimbra. Se em profissionais de saúde com idades inferiores às dos utentes dos lares os títulos de anticorpos baixaram após 3-6 meses, é mais que evidente que em doentes idosos, que certamente apresentam comorbilidades e defesas imunitárias debilitadas, os títulos de anticorpos são quase ou mesmo inexistentes. Ao esperarem pelo menos dois meses para avançarem com a terceira dose para este grupo de risco, vem-me à memória a fase negra recente da história de saúde pública em Portugal, em que morreram centenas de utentes nos lares.
Não atrasem de novo as decisões, porque o outono está à porta e a imunidade dos utentes vacinados encontra-se reduzida, podendo voltar a ficar infetados.
Não vamos querer assisitir a um cenário idêntico e a uma repetição dos títulos nos jornais, agora “Morte nos Lares 2″. A Medicina preventiva tem de ser feita com passos seguros, mas céleres, para ser eficaz. Neste momento, temos provas evidentes de que não podemos adiar a decisão de vacinar com uma terceira dose os utentes dos lares.
Está na hora de agir e não de adiar. Mais mortes virão! A experiência anterior mostrou-nos que esta afirmação é verdadeira e não é exagerada.
Não tenho intenção de criticar ninguém em particular. A minha contribuição como cidadão e médico tem a ver apenas com a visão que tenho sobre a realidade atual. Podem aceitar, criticar e até concordar. Ou não! É apenas uma opinião que poderá ser válida para algumas pessoas e inútil para outras. A mim, o que importa é que os assuntos sejam discutidos e decididos e que cada um tire as conclusões de acordo com a sua consciência.
Neste tema em particular, apenas espero que não atrasem as decisões. Porque vamos ganhar vidas! E, como médico, é este contrato deontológico que fiz no Juramento de Hipócrates. Diagnosticar, tratar e salvar vidas!