Como jovem Médico Dentista é com profunda tristeza que me apercebo do pobre estado desta atividade profissional em Portugal. Os sonhos e ilusões de um futuro promissor não são mais do que as utopias de Thomas More. Este texto serve como uma exposição em modo de desabafo da corrente situação da Medicina Dentária em Portugal.

A cada vez maior descredibilização da profissão e a crescente saturação do mercado de trabalho, levam estes a aceitarem condições de trabalho cada vez mais paupérrimas. As imensas dificuldades na entrada no mercado de trabalho, o aparente futuro sombrio e a exasperação provocada por um ambiente de condições viciados fazem vislumbrar para maior parte dos profissionais, a emigração. Entre os principais destinos estão França e os Países Baixos, algo que se acentuou em grandes números nos últimos três anos. Posto isto, deixo uma pergunta: se o caminho é este, fará sentido o custo de formação que o Estado tem perante estes futuros profissionais?

Em segundo lugar, seria então lógico deduzir que devido ao excesso de profissionais deste sector no nosso país, significaria que a população portuguesa estaria eximiamente dotada de Saúde Oral, certo? Errado. Os factos mostram exactamente o contrário.

De acordo com o barómetro de saúde oral em 2019, cerca de 10 % dos portugueses não têm qualquer dente e um em cada 3 portugueses não vão dentista há mais de um ano. Os dados também revelam que, 59 % dos inquiridos desconhece a existência de cuidados dentários primários no Serviço Nacional de Saúde.

O que está mal então? Por certo a Medicina Dentária é o parente pobre do SNS português. Isto e a falta de divulgação da existência destes cuidados, impossibilita os cidadãos com menos posses e recursos de frequentarem um dentista. Além disso, uma tímida aposta na prevenção e na sensibilização da população também não é muito abonatório.

O desejado reconhecimento da carreira no sistema de Saúde, a extensão e melhoria do aproveitamento de parcerias público-privadas como o exemplo do famoso “cheque dentista” e um investimento em efectivas campanhas de rastreio e sensibilização nas escolas e nos espaços sociais seriam bons exemplos de passos a seguir, sendo nisso fundamental a educação para a saúde oral.
Sinto a necessidade de escrever isto, para desmitificar a ideia generalizada que ser Dentista é sinónimo infindável de sucesso e de facilidade. Como qualquer actividade, esta tem as suas vicissitudes e está visivelmente em crescentes dificuldades, merecendo o devido reconhecimento como qualquer outra profissão.

É necessária a definitiva compreensão, que uma boa Saúde Oral também é inequivocamente um dos principais factores de bem-estar físico/psicológico, um dos principais indicadores de desenvolvimento humano e consequentemente de “cultura de saúde” de uma população.
Como em outros parâmetros, em relação à Saúde Oral somos dos países da União Europeia que menos consulta por ano o Médico Dentista.

Pede-se então a nós profissionais e entidades competentes, a contínua acção em termos de educação para saúde oral e medidas para credibilização da profissão. O tempo urge.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR