Se tivesse que apresentar razões para explicar uma disposição, diria então que sou conservador por cinco razões principais.

Primeiro porque sou realista. O que é é-o em função de uma miríade de interacções humanas, entre pessoas diferentes, sedimentado pela tradição e pelos costumes e isso tanto pode correr bem como pode correr mal. O Homem não é, portanto, definitivamente bom, mas também não é irremediavelmente mau. Tem afeições e desejos, cobiças e ódios, quer em direcção de boas obras quer em direcção de más. Umas vezes soma, outras subtrai. É nesta natureza que reside a sua humanidade. Projectos políticos que a queiram mudar — rumo, por exemplo, a um ‘Homem Novo’ — são projectos políticos irrealistas e, pelo que aprendemos com a História, irresponsáveis. Para dizer o mínimo.

Segundo, porque amo o Presente. Porque é no Presente que está o que existe e é o que existe que se pode amar. Como nos lembram as sábias palavras de Oakeshott: “usar e desfrutar aquilo que está disponível em vez de desejar ou procurar outra coisa”.

Terceiro – corolário das duas anteriores – porque não gosto de rupturas e porque não acredito em construções artificiais da sociedade: nem as que remetem e querem recuperar passados idílicos que só existem na cabeça de quem os fantasia – os reaccionários – nem em novos futuros radicais desenhados por vanguardistas ou revolucionários.

Quarto, porque amo a Liberdade, a Pluralidade e a separação da(s) Igreja(s) do Estado; sejam aquelas teológicas ou não. Porque sem Liberdade a sobrevida toma o lugar da Vida. Porque tal como Agustina também eu acredito que “a grandeza dum espírito está na pluralidade e plenitude da sua sensibilidade”. Porque como católico levo muito a sério Jesus (Mt 22:21).

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Abro aqui, porém, um parêntesis. Porque o conservadorismo por cá é muitas vezes confundido com catolicismo. E se é verdade que gosto, no domínio da razão, separar a religião da política, também é verdade que o meu catolicismo não se cinde de quem eu sou, e neste domínio gostaria de dar também o meu testemunho. Há três coisas que para mim são essenciais na marca que Jesus tem na minha vida e, por isso, também na forma como olho para o fenómeno político: a primeira é que Deus é amor, abertura ao outro e acolhimento da diferença, e isto por oposição ao rancor, ao fecho sobre si próprio e à exclusão do diferente; a segunda é que Deus fez o Sábado para o Homem e não o Homem para o Sábado, que serve para dizer que mais importante que a regra é o propósito de bondade da regra, e isto por oposição a um certo farisaísmo que por aí vou vendo; e a terceira porque em nenhuma parte do Evangelho Jesus disse ‘vai por aí censurar, disciplinar e impor a tua fé aos outros’, mas antes sempre lançou reptos individuais exigentes e desafios de exemplo pessoal ainda mais exigentes, isto por oposição a um certo self-righteous de tribo que por aí tantas vezes se vê.

Quinto, e finalmente, porque entendo que o Estado existe para me proteger o direito à Vida, à Liberdade e a escolher o meu projecto de vida rumo ao que eu entender ser a minha — sublinho a minhaFelicidade; e em função disto limita-se em meu favor e não me limita em seu favor, sobretudo quando está a fazer outras coisas que não estas.

São estas as razões porque sou conservador. Não sou, portanto, conservador porque sou católico, ou porque sou avesso à mudança, ou porque antigamente é que era bom. E é por estas razões que sou do CDS. Porque apesar de, nestas mais de quatro décadas de centralidade do CDS na democracia portuguesa, eu nem sempre ter concordado com todas as suas bandeiras, com a sua forma ou com o seu tom, é o CDS que desde a sua fundação melhor sintetiza tudo isto.

E eis-nos chegados ao CDS e à sua circunstância presente. Aqui, há mais de dois meses, escrevi um artigo sobre quem deveria ser o seu próximo líder. Por essa altura ainda só era conhecido formalmente um dos agora cinco candidatos. Nesse artigo dizia que «(…) o CDS precisará de um líder que (…) agregue e não divida, que se centre no essencial e no útil, que seja moderado, aberto aos desafios do futuro e prudente nas decisões (…) [E que faça] da moderação a sua força.» Havia nesta minha afirmação algumas características também elas próprias do conservadorismo: a moderação, a prudência e a simpatia.

Quem é que, de entre os cinco candidatos à presidência do CDS, primeiro sublinhou a necessidade do partido se centrar internamente no que une e não no que divide? Quem é que apresentou uma moção com causas de sempre e com novas causas, visando dar resposta aos problemas estruturais do país e aos desafios do futuro? Quem é que, apresentando uma visão prudente, realista e informada, centrada no essencial, não embarcou em rupturas abruptas com o passado? Quem é que, de entre os cinco candidatos, mais experiência política reúne, somando-lhe competência, quer quando foi secretário-geral do partido, e ajudou a recuperar estruturas e catapultar o CDS para alguns dos seus melhores resultados eleitorais dos últimos 25 anos, quer quando foi secretário de Estado e deixou um honroso legado de trabalho e mobilização?

É na convergência do meu conservadorismo estrutural, com a minha avaliação circunstancial da vida do CDS, que estou convencido que é o João Almeida a escolha de que o partido necessita.