A montanha da COP26, como previsível, pariu um rato, assustando muita gente dado estarem aí as mudanças climáticas. Mas só os mais distraídos não saberão que a aventura humana foi, desde sempre (do Toba à Idade do Gelo, de terríveis Feras à Transgressão Marinha), uma história de superação face a um mundo hostil e em constante mudança. De diferente, agora, está a noção da contribuição das atividades humanas para a mudança atual. Efetivamente o Planeta tem aquecido e, maior ou menor, há dedo do Homem pelo meio.

É caso para nos preocuparmos? Sim, claro, as mudanças têm sempre impactos e, como sabiamente diz o povo, mais vale prevenir que remediar (sobre mudanças passadas e suas implicações na história de um povo famoso, veja-se o que se descobriu sobre os Vikings). Contudo, o que temos assistido é ao exacerbar das preocupações – ao ponto de já se falar em transtornos psicológicos nos jovens – a que não serão alheios os cenários apocalípticos (e sim, como volta e meia acontece na ciência – sim, os cientistas são pessoas, e sim, as pessoas mentem – há manipulações), criando uma pressão imensa para fazer qualquer coisa, o que é um perigo em si mesmo. Vamos por partes:

Vem mesmo aí o fim do mundo?

Nadando contra a corrente dos alarmistas, que nos acenam com a extinção, João Corte-Real, o mais antigo investigador português do clima e o único professor catedrático em meteorologia do país, explica porque não, tal como o fazem 500 cientistas de todo o mundo numa carta dirigida a António Guterres.

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Então e as alterações ambientais? Sim, ocorrerão e terão impactos, todavia a sua dimensão é ainda incerta – a Terra, ao contrário do Mito, não é frágil – e algumas até podem ser positivas! Não faltam novamente manipulações – seja na vida marinha australiana, seja nas aves europeias (da recente apresentação do 2º Atlas Europeu, que mostrava alterações de dimensão semelhante em ambos os sentidos, os artigos subsequentes esquecem metade, para se dedicaram só à metade que lhes interessou noticiar) – para pintarem de negro impactos até agora ligeiros… No global, tenderão a contrair-se ambientes frios e a expandir-se regiões tropicais. Ora estas últimas são mais ricas em biodiversidade! Então e a subida do mar? Sim, o mar tem estado a subir… nos últimos 10 000 anos. A costa é instável, dinâmica, e sempre assim o será. E a instabilidade climática? Eventos como os furacões não aumentarão? Talvez, mas até agora não é nenhuma certeza. De qualquer forma, tal como com a subida do mar, ou com cheias, se calhar nós é que nos estamos a expor a riscos que, um pouco mais ou um pouco menos, sempre nos apoquentaram e apoquentarão. Mas, e o ar não ficará irrespirável e a temperatura um forno que nos cozerá? Se atendermos a que foi em períodos quentes que se deu o Neolítico, a Roma Imperial, a Reconquista Cristã ou a Idade Moderna, talvez seja dramatismo a mais, não? A produtividade vegetal deverá aumentar. Uma boa notícia: o frio mata mais pessoas que o calor (muito mais). Era melhor estarmos a arrefecer? Preferimos o Inverno ao Verão? Ou é esta última estação a que escolhemos para ir de férias?

Contudo, seja maior ou menor a ameaça, não fazer nada não pode ser bom, certo?

Não é verdade que estejamos de braços cruzados perante as ameaças. Temos ou não temos acordado e nalguns casos reduzido mesmo emissões? Temos ou não apostado em energias renováveis? Em novas tecnologias, de carros elétricos a ar-condicionado? Na eficiência energética, seja de edifícios ou de equipamentos? Os motores não apresentam hoje menores níveis de poluição e menores consumos? Até as florestas, nos países ocidentais, não têm diminuído, têm pelo contrário aumentado.

Não chega? Talvez não. Mas fazer mais exige prudência, porque tem múltiplas implicações (como se pode ler numa interessante entrevista ao único economista climático laureado com o Prémio Nobel).

E que perigos são esses?

Estão à vista, da economia à geopolítica: ameaças de apagões na Europa, estagnação económica aliada a custos crescentes, gerando revoltas populares, o ressurgimento do lobby nuclear, a imposição de minas a algumas populações. Esfregam as mãos de contentes a Rússia, que sabe da dependência do seu gás natural, ou a China, maior poluidor do mundo, por sinal (três vezes mais que toda a Europa junta), que vê crescer o interesse em muitas novas e raras matérias primas que por lá existem, ambos estes estados ausentes da COP26, ou outros como a Argélia e a Bielorrússia que, ameaçando a Europa, ganham armas diplomáticas.

Com o assentar da poeira, há aspectos que não devemos ignorar:

  • fazer qualquer coisa porque é bem intencionada, muitas vezes dá asneira;
  • as externalidades do processo produtivo – sejam ambientais ou outras – gerem-se, não se atacam, porque, mal ou bem, nada há de melhor para solucionar coisas que esse mesmo processo produtivo.

Sosseguem, não vamos morrer todos. O clima até pode aquecer e complicar-nos a vida, todavia somos cada vez menos afetados pelos seus caprichos (é a tecnologia, estúpido – aquela que desmentiu as previsões de Thomas Malthus, como tem feito ao catastrofismo ao longo da história. E mesmo na pré-história não é difícil imaginar: ai quando acabarem as árvores, ai quando acabarem as pedras).

Sempre vivemos no fio da navalha. Permanentemente condenados… Não obstante, o engenho humano resolve. Esperar avanços até 2072 é negacionismo do fim do mundo? Bem, nessa altura voltará o Cometa Halley!