Nasci em 2003, pertenço à tão apregoada “geração mais bem preparada de sempre”. Sou da geração que supostamente mais conhecimentos detém, que mais estudou, que mais aprofundou conhecimentos e que nasceu num mundo completamente tecnológico.

Sou da geração com que os políticos enchem a boca, para falar e para dizerem que fazem coisas por nós. Por nós que não sabemos o que é viver sem uma crise, por nós que não sabemos onde estão todas as promessas que nos fizeram, a nós, em que três em cada quatro jovens recebem menos de novecentos euros por mês, a nós que somos não a geração mais bem preparada, mas a geração mais à rasca de sempre.

Mais à rasca para arranjar um emprego, mais à rasca para recebermos um salário que se equipare ao nosso conhecimento, mais à rasca para conseguirmos ter habitação própria, mais à rasca para conseguirmos formar família, sinceramente, somos a geração mais à rasca em quase todas as áreas, menos numa, no conhecimento. E do que é que nos serve termos tanto conhecimento se não é valorizado?

Nós queremos ficar no nosso país, queremos ficar na pátria que investiu em nós, que nos viu crescer, queremos elevar o nome do nosso país, mas queremos ser reconhecidos e termos oportunidades para tais. Contudo, só conseguimos encontrar oportunidades no estrangeiro, constantemente somos confrontados com o aumento do desemprego jovem, com jovens licenciados a exercerem em áreas completamente diferentes daquelas em que se formaram.

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Há dias um amigo comentava comigo que de nada lhe tinha servido licenciar-se, porque estamos num patamar em que a licenciatura já não é algo que dê destaque a um currículo, mas sim um requisito para a maioria dos empregos. Não vamos receber mais por termos uma licenciatura, temos mais portas abertas no mercado de trabalho, mas isso não nos garante uma base salarial maior como em tempos garantiu.

Somos a geração que saltou de bancarrota em bancarrota, a geração que suspendeu a adolescência devido a uma pandemia, somos a geração que viu rebentar uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia e ainda não sabe se vai envolver mais países. Tenho orgulho na minha geração, porque conseguimos reinventar-nos várias vezes, porque somos constantemente postos à prova, porque temos expectativas muito altas em cima de nós e nem sempre é fácil corresponder ao peso que se coloca nos nossos ombros.

Somos a geração mais bem preparada, mas com menos apoios. Somos a geração mais preparada, mas que não sabe se vai ter a sorte de conseguir formar família no seu país. Somos a geração mais preparada, mas nem assim conseguimos integrar o conselho de estado para que a nossa voz seja ouvida. Somos a geração mais bem preparada, mas deixamos que pessoas externas decidam por nós o nosso rumo. Somos a geração mais bem preparada, mas não é por isso que a nossa representação no parlamento é ampla, muito pelo contrário, são poucos os jovens no parlamento.

Se somos a geração mais bem preparada, porque é que andamos sempre à rasca para tudo e sem oportunidades? Somos a geração mais bem preparada, mas a nossa voz não é ouvida. Tem de haver uma mudança, porque se nós é que somos o futuro não somos ouvidos. Porque se ouvem pessoas que decidem o futuro por nós, mas que não o vão viver?

Somos a geração mais bem preparada de sempre, mas não decidimos nada, afinal andamos apenas à rasca.