Nos últimos tempos muitas tem sido as notícias que falam sobre o estado do Sistema Nacional de Saúde, aliás sobre o estado desastroso em que se encontra o mesmo.

Temos tido demissões em bloco de médicos, obstetrícias a fechar, hospitais que, apesar de não estarmos numa época com muita afluência de pacientes, não conseguem dar uma resposta célere e digna a quem os procura.

Mas a culpa é dos profissionais de saúde? Não, a culpa é do governo.

Como é que podemos culpar quem nos salva a vida? Como é que podemos culpar quem abdica da sua vida familiar para estar a trabalhar sem ser recompensando dignamente em termos monetários? Como podemos culpar quem suporta um dos pilares da sociedade?

Temos sim de culpar o governo pelo desastre a que está vetado o SNS, temos pessoas a morrerem enquanto esperam por consultas durante imensos meses, temos pessoas que tem cirurgias marcadas para daqui a imenso tempo, temos doentes em macas pelos corredores, temos profissionais de saúde exaustos, temos a receita fantástica para um desastre.

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Sou apologista de um sistema nacional de saúde, porque todas as pessoas merecem ter acesso a cuidados de saúde dignos, mas sejamos sinceros, será que neste momento a maioria dos doentes são tratados com dignidade? Eu creio que não, não podemos dizer que os doentes são tratados com dignidade quando se dirigem ao hospital da sua zona de residência e a especialidade de que precisam está fechada, quando ficam horas e horas à espera de uma consulta ou de uma cirurgia e, tão grave como isto e pouco comentado, quando no interior os idosos vão aos centros de saúde e não percebem os médicos porque os mesmos são estrangeiros e não falam português, não existindo assim uma correta comunicação entre médico e paciente.

Mas a ministra da Saúde, Dra. Marta Temido, afirma que se estão a fazer os possíveis para resolver este caos, como se este caos viesse de agora. O que podemos esperar de uma ministra que até há umas semanas atrás não reconhecia problemas no SNS quando os mesmos já existiam?

O que podemos esperar de uma ministra que rejeita parcerias público-privadas?

O que podemos esperar de uma ministra que não sabe o que é estar horas e horas há espera num hospital para finalmente ser atendida?

O que podemos esperar de alguém que não conhece a verdadeira realidade?

E no meio disto tudo, temos dois lados injustiçados. Os profissionais de saúde que trabalham horas e horas a fio e que não vêm o seu esforço e mérito reconhecidos em termos monetários, porque podemos elogiar muito os trabalhadores da área da saúde, mas isso não lhes coloca comida na mesa. Muitas vezes, ainda se pede mais resiliência aos profissionais de saúde, como se eles não tivessem mais resiliência do que a maioria da população, se assim não fosse a maioria dos hospitais já teria fechado.

Do outro lado temos os pacientes. Cada vez se sente mais que existe saúde para ricos e para pobres. As pessoas que tem posses financeiras têm um tratamento digno e de qualidade. Depois temos pessoas que trabalharam uma vida inteira, descontaram uma vida inteira e quando precisam que o Estado responda à altura e lhes dê acesso a cuidados de saúde dignos, o mesmo não é capaz e demonstra que está a falhar enquanto Estado-providência.

Não podemos permitir que haja saúde para ricos e para pobres, temos de lutar por um Serviço Nacional de Saúde que consiga responder às necessidades da população e que tenha as condições para cuidar de quem uma vida inteira trabalhou e tanto deu ao nosso país. Não podemos nos esquecer dos nossos idosos e apenas deixá-los morrer, temos de lhes dar os melhores cuidados médicos possíveis.

É caso para dizer que este SNS abana, abana e esperemos que não caía de vez.