A União Europeia (UE) está num ciclo de mudança política. Mesmo com os casos da Hungria e da Polónia, se ainda havia dúvidas sobre o crescimento da direita radical na Europa, agora, nestas eleições legislativas de Itália ganhas pelo partido Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália) liderado por Giorgia Meloni, essas dúvidas dissiparam-se.
Essa mudança e crescimento da direita também já é notória através do espetro político dos 27 Estados-membros da comunidade europeia. Atualmente está composta pela seguinte maneira:
- Governos de Esquerda/Extrema-esquerda: 0;
- Governos de Centro-esquerda: 8 (Alemanha, Dinamarca, Eslovénia, Espanha, Finlândia, Malta, Portugal e Suécia);
- Governos de Centro: 3 (Bulgária, França e Luxemburgo);
- Governos de Centro-direita: 12 (Áustria, Bélgica, Chéquia, Croácia, Eslováquia, Estónia, Grécia, Irlanda, Letónia, Lituânia, Países Baixos e Roménia);
- Governos de Direita/Extrema-direita: 4 (Chipre, Hungria, Itália e Polónia).
Todavia, os próximos tempos prometem dar frutos aos partidos de direita mais radicais espalhados pela Europa fora graças ao contributo da nova Primeira-ministra de Itália, Giorgia Meloni.
A nova chefe do governo italiano já é vista com algum receio e preocupação por parte de Bruxelas e vários analistas já avisaram para o risco de uma má relação entre Roma e Bruxelas. Curiosamente, a situação entre UE e Meloni/Itália traz aqui um sentimento de nostalgia que faz regressar ao ano de 2015. Para quem não se lembra, 2015 foi um ano péssimo nas relações entre Atenas e Bruxelas, porém, foi um “mal” que deu destaque internacional a um grego que quase mandava a Europa abaixo. Lembra-se dele? O nome desse senhor é Yanis Varoufakis.
Yanis Varoufakis foi Ministro das Finanças da Grécia do governo de esquerda liderado por Aléxis, entre janeiro e julho de 2015. Mesmo não sendo primeiro-ministro, foi o capitão anti-austeridade do povo e do governo grego e foi o que conseguiu mostrar as profundezas da Europa, provocando os Insiders, ou seja, a elite política e financeira europeia. A sua estratégia não trouxe nada de bom nas negociações das relações entre Atenas e Bruxelas, mas o drama político foi tal que a sua história deu origem a um filme que foi inspirado no seu livro Adults in the Room.
Com Giorgia Meloni, a história parece voltar a repetir-se. É verdade que Varoufakis e Meloni têm espectro político completamente opostos. O grego é de esquerda/extrema-esquerda e a italiana é de direita/extrema-direita. Porém, ambos têm características similares que podem ser verificadas nos seus discursos populistas e nas suas críticas às diretrizes de Bruxelas. Mais, ambos têm muitos conhecimentos sobre a UE.
Será a italiana pior que grego? Sim, por duas razões. Primeiro, ao contrário Varoufakis que era um ministro e era um estratega calmo no seu diálogo, Meloni é uma chefe de governo e é uma pessoa que mostra maior agressividade na sua postura e na sua comunicação política. Segundo, a Itália é o país com a 3º maior economia europeia e isso é um fator com peso político maior, que a Grécia não teve. Ora, isto significa que a italiana será um desafio maior que o desafio grego de 2015.
Tal como Yanis Varoufakis fez pela Grécia em 2015, Giorgia Meloni lutará contra as normas políticas de Bruxelas em defesa da Itália e dos seus parceiros estratégicos europeus. A diferença é que em 2015 o conflito entre a Grécia e a UE foi devido à questão da dívida grega e agora com a Itália iram ser os migrantes, a crise energética provocada pela guerra na Ucrânia e a recessão económica que a Europa está a atravessar e que tem afetado seriamente a economia italiana.
Este será um grande teste para a Europa onde a união, os princípios e os valores deste projeto, que é considerado um dos maiores projetos políticos da humanidade, estarão em jogo. Meloni disse que “a festa acabou”. Quando a nova primeira-ministra italiana chegar a Bruxelas, nessa altura é que a festa irá começar e irá ser conhecida como Adults in the Room 2.0.