Na Bulgária costuma-se dizer que “uma palavra gentil abre um portão de ferro”. Talvez a palavra “país” seja a palavra ideal para abrir um portão de harmonia política. Será no próximo domingo, dia 14 de novembro, que iremos assistir às terceiras eleições legislativas deste ano na Bulgária. Tal como Portugal, mas por motivos diferentes, este país com sete milhões de habitantes, situado na península Balcânica e que é Estado-membro da União Europeia desde 2007, também se encontra numa situação de instabilidade política, que já perdura desde abril, altura em que foram realizadas as primeiras eleições legislativas de 2021.

Se, no caso português, a crise política que foi instalada recentemente se deveu ao chumbo do Orçamento de Estado em pleno Parlamento, na Bulgária a actual instabilidade política é resulta das tentativas falhadas para a formação de um governo. A falta de convergência entre os partidos políticos após as duas eleições legislativas realizadas em abril e em julho conduzem, uma vez mais, o povo búlgaro às urnas, a decidir pela terceira vez o futuro governativo do seu país.

De facto, esta crise búlgara é uma consequência dos protestos realizados em 2020 contra o governo por alegados actos de corrupção por parte do primeiro-ministro Boyko Borissov. Esses protestos deram origem ao surgimento de três novos partidos que levaram a uma fragmentação partidária no parlamento búlgaro após as eleições de abril, eleições essas que deram a vitória sem maioria aboluta a Borissov. Esses partidos foram: Este Povo Existe (ITN), Levanta-te BG! Nós estamos a caminho (IBG-NI) e Patriotas Unidos (OP).

Nas segundas eleições, realizadas em julho, os resultados acabaram por ser similares aos das eleições de abril, com a existência de divergências entre as forças políticas, resultando assim, na convocação de terceiras eleições parlamentares por parte do Presidente da Bulgária, Rumen Radev, que afirmou dissolver “o parlamento o mais depressa possível, de acordo com o procedimento e os requisitos da Constituição” de forma a poupar tempo e dinheiro aos eleitores.

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Para estas terceiras eleições – que iram coincidir com as eleições presidenciais –, o partido Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária (GERB) surge em primeiro lugar nas sondagens, com 23% e o Partido Socialista aparece na segunda posição com quase 17%. O ITN, um dos partidos fundados nos protestos de 2020, ao não conseguir formar governo após as eleições de julho tem uma enorme queda de confiança eleitoral, passando de 24% para 10% na intenção de voto. Isto significa que para estas eleições é esperada mais uma vez a vitória de Boyko Borissov mas ainda sem maioria absoluta. O que significa isto?

A incerteza política pode continuar, porém os conservadores (GERB) e os socialistas já admitiram que estarão dispostos a unirem-se e assim formar uma aliança governamental. Certamente haverá ou pode já existir um pré-acordo partidário. Se as sondagens baterem certo e se realmente houver um governo de coligação entre estes dois partidos, a solução para o futuro governamental e para o fim da crise política da Bulgária será sem dúvida esta.

É certo que a continuação de uma crise política é possível. Contudo esta prejudica a gestão e o aproveitamento dos fundos provenientes da União Europeia. A Bulgária, que é considerada o Estado-membro mais pobre da União Europeia, necessita, se planeia adoptar o euro em 2024, de uma solução governativa estável para que possa levar o país a bom porto nessa transição monetária em fase de pós-pandemia.

Para o povo búlgaro espera-se que estas sejam as terceiras e as últimas eleições legislativas deste ano, de forma a colocar um ponto final na crise política. É verdade que, havendo eleições, é sinal de que se vive em democracia e que ela própria está em funcionamento, contudo é notório o cansaço social em torno da política búlgara e não é de admirar que a abstenção possa subir nestas eleições.

Na Bulgária costuma-se dizer que “uma palavra gentil abre um portão de ferro”. Talvez a palavra “país” seja a palavra ideal para abrir um portão de harmonia política. Aliás, citando uma frase ex-primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro, relembrada recentemente pelo Presidente do PSD, Rui Rio, “primeiro o país, depois o partido e depois nós próprios”. Só assim é possível acabar com uma crise política.