No dia em que se celebra o primeiro ano sobre a sua morte, vale a pena relembrar a figura de Gonçalo Ribeiro Telles. O engenheiro agrónomo e arquitecto paisagista que procurou saber Filosofia, o pedagogo que marcou gerações de estudantes e que dizia que parte do que sabia aprendia todos os dias nos lugares por onde passava, o responsável político visionário presente em etapas fundamentais da nossa história recente, que implementou medidas no campo do ambiente e da paisagem só muito mais tarde compreendidas, o monárquico que o era pelo seu espírito de serviço, o Português inquieto e livre que via em cada etapa uma oportunidade de conhecimento e de construção.
A sua autenticidade e dedicação à causa pública, numa visão humanista em que o Ser está e vez do Estar, deve ser para nós todos, e numa época tão decisiva como esta, fonte de reflexão e de ensinamento. Dizia que a melhor forma de aprender era dando o exemplo, que as grandes lições eram dadas pela obra, pela postura e pelas acções. E quando lhe perguntaram se se tinha dado bem com o poder respondeu: Dei, dei. Porque achei que estava lá para servir qualquer coisa. Ainda bem que lá estive.
Tomara nós todos que este fosse o espírito daqueles que em breve vão ser eleitos como nossos representantes nas próximas eleições legislativas. Precisamos de gente assim, que conheçam e queiram o País. De líderes. E de coragem. De alguém que se preocupe com o bem estar de cada um porque se sabe que só assim se pode transformar uma comunidade; que conceba um pensamento estratégico que seja capaz de potenciar o desenvolvimento humano com o equilíbrio da natureza; que cuide da memória colectiva como fonte de inspiração tão à semelhança dos jardins e dos espaços verdes que Gonçalo Ribeiro Telles ajudou a criar e a sonhar. Que não se fique pelo que lhes é dado ou sugerido mas que busque e mantenha uma inquietação consciente e activa sobre a realidade e a transversalidade das escolhas que são feitas. E que saiba fazer pontes onde elas podem ser feitas e diga não ao que não releva para o bem comum.
É que, ao contrário do que muitas vezes se quer fazer crer, vale a pena lutar pelo que se acredita mesmo quando tudo, ou quase tudo, nos diz que não. Vale a pena ter razão antes de tempo, vale a pena chegar ao fim, olhar para trás e saber que não se foi apenas mais um mas que se foi capaz de, mantendo aquilo que se é, mudar a terra onde se nasce e o país onde se cresceu. Não desistir, relativizar o que à nossa volta é medíocre ou nocivo , focar naquilo e em quem pode fazer diferente. Para além do seu inquestionável saber, há e fica o seu carácter, o não conformismo e o seu enorme amor a Portugal. É essa, sem dúvida, a sua grande lição, o melhor dos seus exemplos e a nossa enorme responsabilidade.
Como escreveu a arquitecta Aurora Carapinha, galardoada da II edição do Prémio Gonçalo Ribeiro Telles para o Ambiente e Paisagem: “O importante em Ribeiro Telles é a compreensão da paisagem sob o ponto de vista holístico — o todo. Um todo que inclui ecologia e estética, o saber que a beleza da paisagem é um facto cultural”. Estaremos todos de acordo em dizer que não foi só a paisagem, foi um país todo. Obrigado Gonçalo Ribeiro Telles.