Tenho a incomensurável sorte de ter nascido e vivido até hoje em liberdade. Séries, documentários e filmes e o relato das vivências e estórias pelos meus pais acerca desse período têm tido impacto em mim e permitiram-me colmatar as enormes lacunas que os programas do curriculum de História na escola das décadas de 80 e ainda de 90 estranhamente tinham. É sabido que damos mais valor ao que temos quando experimentamos algum nível de perda: experienciando a doença somos mais gratos pela saúde, passando o Inverno apreciamos os dias mais longos de luz, estando mais sozinhos rejubilamos com a presença, o contacto e o convívio…

Se a nossa existência é vivida em dialéctica, também é verdade que os fenómenos sociais e políticos que estão na base da emergência de determinados sistemas ditatoriais não se criam da noite para o dia, assintomáticos e imperscrutáveis, pelo que a perda da liberdade (que muito raramente é absoluta) não é inevitável. No entanto, há-que ser vigilante e sagaz para que o também observável enviesamento emocional da aversão à perda que a todos nos afecta se traduza em políticas e comportamentos que evitem a perda de graus de liberdade, desnecessariamente.

Ninguém poderá afirmar que é inteiramente livre, que pouco ou nada o condiciona, como se a liberdade significasse tão só e apenas a ausência de submissão e de servidão e a autonomia e a espontaneidade não fossem afinal os impulsionadores da possibilidade do agir e por isso de nos definirmos. Poder ou não comportarmo-nos de determinada maneira condiciona, portanto, em diferentes graus a nossa liberdade. Ter uma doença, estar desempregado, ser vítima de violência, não ter acesso a educação mas também a falta de sentido para a vida, a solidão, a transformação da intimidade (procura prioritária de prazer em detrimento de afecto) e a falta de poder pessoal para desenvolver as nossas potencialidades e influenciar os outros são elementos de um binómio composto também pelas variáveis bem-estar, justiça social e igualdade da sociedade e dos contextos em que nos inserimos e que coartam a liberdade individual.

A Psicologia, enquanto ciência-profissão, pode e tem contribuído para que em inúmeras dimensões os indivíduos, as famílias, os grupos, as organizações, as comunidades possam ter mais graus de liberdade. Não é por um qualquer acaso que, em Portugal, a Psicologia só se desenvolveu e teve expressão depois do 25 de Abril, após a autorização do primeiro curso de Psicologia em 1968.

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Hoje, os Psicólogos implementam programas de desenvolvimento de competências sócio-emocionais nas escolas, promovendo a saúde psicológica de crianças e adolescentes, aumentando os factores protectores da saúde. Hoje, os Psicólogos ajudam à mudança de comportamentos e estilos de vida subjacentes a doenças como a diabetes, as cardiovasculares e a obesidade. Hoje, os Psicólogos realizam projectos com vista a aquisição de  estratégias de empowerment e de redução das desigualdades sociais em comunidades e em grupos de risco ou vulneráveis. Hoje, os Psicólogos avaliam o impacto social de fenómenos ambientais como a seca ou as alterações climáticas. Hoje, os Psicólogos realizam avaliação de perigosidade a reclusos. Hoje, os Psicólogos desenham e operacionalizam programas de promoção da motivação e satisfação laborais. Hoje, os Psicólogos contribuem para a construção de políticas públicas e de soluções com vista ao aumento da sua eficácia, tendo em conta o comportamento das pessoas. Hoje, os Psicólogos realizam treino de competências psicológicas relacionadas com o sucesso em contextos desportivos…

Porque procurando ampliar a auto-determinação, cavalgamos a sempre fugidia liberdade pois “Não se trata de saber porque é que somos livres, mas quais são os caminhos da liberdade.” (Jean-Paul Sartre).

Psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde, Psicologia da Educação, Psicoterapia e Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira