A propósito do episódio inacreditável de apresentação de um inquérito sociodemográfico a alunos do 5º ano numa escola pública no Porto, parece-me importante parar um pouco para pensar no que está a acontecer no mundo da educação e da saúde.
A educação e a saúde são serviços a que todos temos direito e que no nosso país, segundo a constituição, devem ser tendencialmente gratuitos.
A família é um dos pilares da sociedade, aliás de acordo com a ONU “a família é a célula base da sociedade e por isso deve ser fortalecida”. Por esta razão, cabe ao Estado apoiar e proteger a família para que esta possa cumprir o seu papel nomeadamente no que respeita à formação das crianças.
Temos portanto esclarecido que cabe à família a formação dos seus filhos e ao estado o apoio à família para que possa cumprir a sua tarefa.
O que é a igualdade de género? É a promoção do direito a igual dignidade e iguais oportunidades entre homens e mulheres. Ter iguais oportunidades e igual dignidade deve conferir a cada ser humano a capacidade de escolher, de acordo com as suas preferências e de forma livre. Neste contexto entende-se a existência de dois géneros: o género feminino e o género masculino a que correspondem características biológicas bem distintas, responsáveis por diferentes preferências, por diferente aparência, enfim por um diferente comportamento. A igualdade de género deve promover também o respeito por estas diferenças biológicas através de políticas específicas para a condição por exemplo da mulher grávida, já que não existe a possibilidade de um homem engravidar e políticas genéricas, quando não estão em causa condições específicas, como por exemplo o acesso ao trabalho.
Em suma, a preocupação de um estado com a igualdade de género é louvável e deve ser entendida como uma oportunidade para as famílias repensarem a sua organização e a forma como preparam os filhos para um mundo competitivo, culturalmente diverso e socialmente complexo.
E o que é a ideologia de género? É uma corrente de pensamento que defende que a identidade sexual dos seres humanos não depende da biologia, ou seja, da natureza, mas sim de factores culturais, podendo ser moldada pela educação. Nesta linha de pensamento os seres humanos são aquilo que pensam ser e não o que a biologia diz sobre eles inclusivamente, ignorando a dimensão hormonal. Levada ao extremo, esta ideologia propõe a existência de muitos géneros e não apenas homens e mulheres e ainda a mudança de género ao longo da vida de acordo com a ideia que cada um vai formando de si mesmo.
Os defensores desta ideologia usam o método da apropriação de conceitos mais consensuais para nos confundir. É este o caso da confusão que se gera em torno da igualdade de género e da ideologia de género.
Volto agora à razão por escrevo estas palavras – o inquérito na escola Francisco Torrinha. Para além do apuramento dos factos que desejamos que aconteça de forma cabal, é necessário que as famílias se unam em torno do perigo a que estão sujeitas ao serem relegadas para segundo plano, deixando ao estado o papel de educar os seus filhos. Não é isso que está na constituição. Queremos um ensino tendencialmente gratuito, mas não queremos que o Estado decida qual a ideologia, religião ou modelo educativo que melhor se adequa aos nossos filhos. Isso é tarefa das famílias. Se o Estado quer ter escolas em vez de promover e financiar a iniciativa privada, deve abster-se de impor através de disciplinas específicas ou de forma disseminada nos conteúdos programáticos das diferentes disciplinas, temas que extravasam os saberes específicos (matemática, português, história, ciências, etc). Quaisquer outros temas, sejam ideológicos ou religiosos, podem ser ofertas da escola mas com carácter de livre escolha e apresentados de forma transparente para que os pais possam entender a proposta e aceitá-la ou não para os seus filhos.
O que aconteceu na escola Francisco Torrinha foi a aplicação de conceitos da ideologia de género de forma obrigatória e não consentida.
Este não foi um caso isolado. O Ministério da Educação tem em marcha um plano educativo com acções de formação para professores e outros agentes de educação e com manuais escolares que ensinam a ideologia de género. Os pais devem estar atentos e usar todos os meios para rejeitar liminarmente toda e qualquer ingerência de carácter ideológico na formação dos seus filhos.
As famílias não têm sindicatos que as defendam e cada vez menos partidos se interessam por elas. Mas as famílias têm a maior de todas as forças — o Amor que nos faz até dar a vida pelos nossos filhos. Olhemos com olhos de Amor para a educação dos nossos filhos. Não chega oferecer-lhes bem-estar é preciso formá-los para que estejam preparados para os desafios do mundo. Dá muito trabalho mas só assim poderemos um dia descansar por sentir que cumprimos o nosso dever.