Os estudantes do Superior vivem esta semana uma nova transição do seu percurso académico com a retoma das aulas presenciais.
Os efeitos da pandemia no sistema educativo em Portugal são notórios, desde o pré-escolar ao Ensino Superior. Contudo, este último tem ficado esquecido, instalando-se a falsa sensação de que os problemas foram atenuados ou resolvidos.
Os computadores foram pedidos para os alunos dos doze anos de escolaridade obrigatória, mas os bolseiros de ação social no Superior continuam à espera de uma resposta. Numa primeira fase, o Governo anunciou a realização de testes rápidos apenas em escolas e creches, levando a FAP a pedir que o Ensino Superior não ficasse esquecido no processo de testagem massiva.
O impacto da pandemia no processo de aprendizagem foi sinalizado nos níveis de escolaridade inferiores. E no Ensino Superior, alguém sabe o que se passa?
Num estudo realizado pela FAP (2324 participantes), 2 em cada 10 estudantes ainda não concluíram todas as avaliações das épocas normal e de recurso do 1.º semestre e 69% dos estudantes afirmaram que o seu aproveitamento escolar foi condicionado pela forma como tem vindo a decorrer o ensino remoto de emergência. Estes números demonstram a necessidade de serem estudados enquadramentos regulamentares que permitam a recuperação pedagógica destes estudantes e/ou o acesso a épocas especiais e/ou melhoria de nota.
A pandemia não aponta só novos desafios, como torna demasiado evidentes necessidades identificadas previamente. Foi comprovada a falta que o processo de inovação pedagógica fez no panorama do Ensino Superior. Aliás, tem havido maior investimento em inovação pedagógica no Básico e Secundário comparativamente com o Ensino Superior, o que se traduz numa desilusão para os estudantes quando ingressam no ensino universitário ou politécnico.
É imprescindível nesta fase mobilizar investimento para questões estruturantes ou mesmo reformadoras.
A forma como a situação decorrente do contexto pandémico está a ser gerida constitui o espelho da realidade dos últimos anos e delapida a esperança dos estudantes do Ensino Superior. Há muito que este deixou de estar no topo das prioridades da sociedade portuguesa e da agenda política, sendo o parente pobre da Educação.
Urge conferir a visibilidade necessária ao Ensino Superior, crucial na recuperação do país pós-pandemia, levando ao desenvolvimento de atividades baseadas no conhecimento e capaz de criar diferenciação tendo em vista a competição com outras economias.
Os estudantes de hoje serão os trabalhadores do amanhã que irão ajudar a reerguer Portugal! Mas estes estudantes precisam de esperança e todos devem fazer a sua parte. Tive a oportunidade de o dizer recentemente ao Senhor Presidente da República num encontro com o movimento associativismo estudantil.
Continuamos a precisar de um compromisso maior do Estado com o setor do Ensino Superior. Ao Governo cumpre garantir que a geração qualificada com o “rótulo COVID-19” não se torna em mais uma geração à rasca.
E porque o relógio não pára, o tempo de agir é agora. Cada dia desperdiçado pode tornar-se num sonho adiado!