Já aqui o disse: a designação de João Costa para ministro da Educação foi uma das piores notícias do novo Governo de António Costa. Confirmei-o nos últimos dias com a primeira entrevista que deu ao jornal Expresso. O tema principal, como não podia deixar de ser, foi o plano para resolver o dramático problema de falta de professores que afeta o sistema de educação em Portugal.

Diz o ministro indignado aos jornalistas que o interrogam: “imaginem o que era o Expresso se de dois em dois anos a equipa fosse toda nova. Nas escolas é o que acontece. Temos que acabar com isso.

Pergunto eu: não esteve o senhor ministro no Ministério da Educação nos últimos anos? E não defendeu com unhas e dentes um modelo que saltava à vista de toda a gente que não servia o sistema? Só agora é que descobriu que professores de casa às costas e a saltar de escola em escola é fatal para a educação dos alunos e para a motivação dos mesmos?

Quando os problemas saltam à vista é fácil vir com soluções óbvias e milagrosas. Sobretudo que deem bons títulos de jornal. Mas o problema não nasceu de geração espontânea. Todo o país já sabia o que se passava nas escolas, particularmente pais, alunos e professores. Por maioria de razão, também o sabiam os vários ministros da Educação e as suas equipas, das quais fez parte o atual ministro. A verdade é que tivemos sempre um ministério da Educação refém de um sindicato que impôs regras absurdas que deixaram a educação pública à beira do colapso. Justiça seja feita, só Maria de Lurdes Rodrigues, no Governo de José Sócrates, teve coragem de enfrentar o monstro. Resultado: acabou demitida.

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O que se passa agora nas nossas escolas é resultado da cobardia política, que, neste caso, foi igual à esquerda e à direita. Vários ministros da Educação preferiram evitar a guerra com a FENPROF de Mário Nogueira, mesmo sabendo que isso prejudicava os alunos que deveriam ser o principal foco da política de educação. No fundo, pensaram sempre que quando o problema chegasse, já não seriam eles a enfrentá-lo. Sobrava para outros. Sobrou para João Costa.

É por tudo isto que como cidadã e mãe de filhos na escola pública não posso deixar de me indignar quando oiço um ministro, antes secretário de Estado e tido como grande especialista em educação, dizer que “Este modelo não satisfaz. Afinal serve quem? Valorizar os professores é também dizer: É aqui o teu local de trabalho, é aqui que podes organizar a tua vida.

No dia de hoje, há milhares de alunos por todo o país que não tiveram acesso a uma escola de qualidade por causa do laxismo de João Costa e dos seus antecessores em resolverem a questão da colocação de professores. São responsáveis, juntamente com Mário Nogueira, pela falta de perspetivas de muitos alunos a quem a escola não deu as oportunidades esperadas.

Vir em 2022 constatar que algo está mal na gestão dos professores do ensino público como se só agora se tivesse percebido o problema, é fazer de nós parvos. O ministro João Costa esteve no ministério nos últimos anos e acompanha a educação há muito tempo. João Costa defendeu o status quo na educação e é responsável pelo estado a que isto chegou.