Quando se envia um representante da autoridade para um local há que pensar no contexto e nas consequências. A probabilidade de que algo corra mal é alta. Especialmente se nesse local há muito se ultrapassaram as condições de razoabilidade no que respeita ao mínimo exigível de cumprimento das regras de comportamento – as mesmas que asseguram uma convivência saudável dos seus membros.
Durante décadas, permitimos a destruição da estrutura da sociedade em diferentes zonas do país onde, por diversas razões, foram surgindo ilegalidades, tanto ao nível da construção (para se estabelecer residência), como na própria forma de inclusão das comunidades aí criadas, que se começaram a autoestruturar em confronto com as estruturas legal e democraticamente estabelecidas pela vontade de todo um povo que forma este Portugal.
Permitimos a criação de núcleos autorregulados, onde naturalmente convivem todos os que aí moram, mas onde se escondem também muitos que desenvolvem as mais diversas atividades proibidas na sociedade, e que tentam manter essas zonas autónomas, para melhor se servirem delas no seu próprio interesse.
No dia em que uma força policial foi chamada para intervir e resolver um conflito na Cova da Moura, de imediato duas reações foram espoletadas. Por parte dos agentes policiais, houve uma reação de desconfiança face aos protagonistas desse incidente e, por parte desses mesmos protagonistas, uma reação de contestação a qualquer ordem que lhes tenha sido dada pela Polícia.
A sensação de desconfiança por parte da Polícia não pode deixar de afetar a sua capacidade de decisão a partir do momento em que começa a ser contestada por esses cidadãos, mas também a reação prepotente de um cidadão confrontar a Polícia não é aceitável, uma vez que é função da polícia dominar a situação e, para isso, é indispensável que a população lhe obedeça para que a situação seja corretamente avaliada.
Para que possam ser defendidos aqueles que têm o direito a ser defendidos e não os que têm poder para ser defendidos. Mas tudo isto resulta de um erro que deixámos singrar na nossa democracia. Os nossos líderes, na procura de agradar a todos e com a perspetiva de assegurar eleições, foram substituindo a tolerância pela permissividade e foram destruindo o conceito de autoridade, permitindo que os setores que pretendem ser marginais à sociedade fossem conotando essa autoridade, fundamental a uma sociedade democrática, como associada a um vício de sociedades totalitaristas.
A permissividade com que tratamos aqueles que não querem cumprir as normas que a enorme maioria dos portugueses considera justas e que cumpre, é a principal razão pela qual assistimos a esta manifestação intolerante por parte daqueles que continuam a querer manter-se marginais a esta sociedade, para se beneficiarem dessa marginalidade em prejuízo daqueles que cumprem com as suas obrigações e responsabilidades.
Que se queira reclamar justiça, se um agente policial não cumpriu com as suas obrigações, é correto e deve ser sempre defendido. Atacar pessoas, destruir património e criar insegurança é, apenas, continuar a defender aqueles que apenas querem aproveitar-se dos outros para o seu próprio benefício e sempre à custa dos mais desprotegidos que nunca lhes poderão fazer frente.
Não devemos ter preconceitos e não devemos dar por certo quem errou neste caso, mas também não devemos continuar a ser permissivos e permitir uma justiça popular que é sempre injusta, destrutiva e manipulada por quem tem mais a ganhar.
A autoridade democrática é uma virtude da democracia e todos nós somos responsáveis por ter falhado na sua defesa. É tempo de mudar e de dizer claramente que queremos justiça, mas sempre reconhecendo que apenas é possível ter justiça quando tivermos autoridade.