Um professor da Universidade de Aveiro que assumiu ser homofóbico e que pediu “uma ‘inquisição’” para “limpar o lixo humano” foi suspenso (temporariamente) na passada semana.

Sempre que se levanta uma discussão sobre uma situação que seja polémica, estamos a abrir espaço à tolerância para mais pessoas se sentirem livres para fazerem o mesmo tipo de comentários e para agredirem verbalmente (os) outros ou para expressarem ódios reprimidos. Estando aberta a discussão, todos participam e passam a considerar válido dizer-se (tudo) o que se pensa, em especial, crenças limitadoras e disseminadoras de ódio e violência psicológica.

Até onde vai o nosso direito à liberdade de expressão? Há limites? Colocar limites à liberdade de expressão é negar um direito ou é simplesmente ser capaz de se colocar no lugar do outro e entender que, à luz do que dizia Herbert Spencer, “a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro”? Mencionar a “censura” e o “lápis-azul” em nome do “vale tudo” é viável? Não! E sim, a liberdade de expressão tem limites!

Costumo dizer que o amor-próprio não é imodéstia… é segurança, maturidade, confiança, auto-conhecimento.  Eu não sou psicóloga, tampouco tenho formação na área, mas ao ouvir as declarações dadas à televisão, com tanta “certeza” e tanto ódio (inclusive no olhar), vi nessa pessoa muita falta de amor, muita solidão e muita revolta, acima de tudo interior, porque quem é feliz, não odeia, não deseja mal nem incita à violência, em especial daquela forma doentia, como o Senhor Doutor Paulo Lopes fala e escreve.

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Esta situação em particular, faz-me recordar uma frase muito conhecida e várias vezes já utilizada por grandes líderes no decurso da História (Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt, Ben Parker (o tio do Homem-Aranha, Peter Parker)): “Com grande poder vem grande responsabilidade” (em inglês: “With great power, comes great responsibility.”). Existe, inclusive, um artigo de 2018 que fala precisamente dessa expressão, destacando o aviso do Uncle Ben a Peter Parker.

Na minha vida, tento fazer, quanto possível, bom uso do autoconhecimento, mas o mesmo se aplica ao conhecimento em geral: para que serve, se não o soubermos usar e/ou aplicar? As Universidades estão repletas de Professores ditos catedráticos que, pelos títulos e graus (e pela síndrome do pequeno poder – diga-se mais pelo poder de coisa nenhuma), têm mais cargos (poder) do que muitos jovens talentos — cheios de potencial desaproveitado — mais competentes para o efeito.

Quantos estudantes, e familiares destes, temeram os dias de aulas com este docente, pelas palavras proferidas? Quantos estudantes, pais, familiares, colegas, temeram mesmo vir a ser agredidos? Pois, como é óbvio, uma pessoa que pensa na violência como solução e que o diz, nas declarações à SIC Notícias, é — ela própria — capaz de a pôr em prática e deve ser considerada um perigo para a sociedade.

Devo recordar que, em abril passado, outra Universidade – a de Lisboa, no espaço de apenas 11 dias, recebeu 50 queixas por assédio e discriminação relativas a 31 docentes, nos quais sete concentram mais de metade das queixas. Só este ano (segundo os dados do Relatório do Comissão para a Igualdade de Género (CIG) em início de junho) já morreram 13 mulheres vítimas de violência doméstica em Portugal. No Brasil, em 2021, foram assassinadas 316 pessoas LGBTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, Intersexuais e outros). O discurso de ódio incita ao crime e à violência! O discurso de ódio, por si só, é uma forma de violência (não-verbal e psicológica, que deixa igualmente danos e repercussões mentais graves ao longo da vida).

Tenho algumas premissas pelas quais procuro orientar-me: evitar pessoas que maldizem com frequência e com ideias preconcebidas; ser capaz de gabar as minhas qualidades com a maturidade suficiente de me sentir merecedora das mesmas e dos elogios dos outros (quando não se tratam de lisonja) e sem me sentir arrogante por fazê-lo; e saber fazer bom uso do autoconhecimento, para melhorar continuamente e corrigir os erros pelo caminho, consciente de que todos falham, de que a imperfeição é real e de que nada é mais valioso na vida do que tempo de qualidade: connosco próprios e com quem amamos. Nos ambientes que frequento, é isso que almejo: bem-estar e ambiente propício a relações estáveis e de tolerância.

Nas Universidades, cada vez mais os professores devem ser vistos como um exemplo, como naturalmente sempre foram. É, por isso, essencial trabalhar as soft skills desde o ensino básico nas escolas. Mas num mundo em que, por um lado, a empatia é vista como a liderança do futuro e os líderes adotam, cada vez mais, comportamentos “similares aos dos cidadãos comuns”; por outro, assistimos a um aumento dos níveis de criminalidade, maior aumento dos discursos de ódio – e a internet é uma porta aberta para os mesmos (apesar de todas as censuras e possibilidades de denúncia), pela permissão da criação de perfis falsos e por “nos” permitir que nos sintamos falsamente “escondidos” atrás de um ecrã; acresce ainda a atual circunstância de uma guerra onde proliferam emoções negativas por parte de um país com um líder com características absolutamente desumanas, a desinformação, o negacionismo ou até as fake news. Se os nossos professores não lideram pelo exemplo, muito mais do que através dos conteúdos programáticos – através da atitude de positividade, de motivação, de incitação à solidariedade, empatia, tolerância e entre-ajuda, como é que as Universidades poderão preparar líderes para o futuro?

Na mesma semana em que um professor universitário (o caso já é conhecido há alguns meses) desce tão baixo e poucos fazem disso assunto, todos levantam a voz para criticar o Senhor Presidente da República, Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa por simplesmente ter sido um ser humano normal, acompanhado pelo Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, e terem descontraidamente tomado um banho nas águas de Copacabana. Confesso que, aqui, só me chocam duas coisas: o desnível do senhor professor da Universidade de Aveiro, e o facto da opinião pública voltar a atenção negativa para o lado errado. Pois o que é liderança positiva? É liderar pelo exemplo, com empatia e com proximidade!

Não nos podemos esquecer, também, de que: 1 – liberdade de expressão – mesmo com os seus limites – não é liberdade de agressão; 2 – a liberdade encontra-se sempre de mão dada com o fator responsabilidade. Ou seja, qualquer pessoa que represente uma entidade pública (ou privada, em alguns casos específicos), seja uma universidade, uma associação, um município, ou até o Estado; não pode – nem no Facebook nem na rua, nem de modo algum – fazer comentários agressivos sobre um grupo ou sobre um indivíduo, porque “nós somos o nosso cargo” – isso é a responsabilidade aliada à liberdade (de expressão e não só), e volto a sublinhar a expressão “Com grande poder, vem grande responsabilidade”.

Dizer que o futuro (o presente – porque sempre o foi) é a liderança com empatia não é dizer que ser empático está na moda e que vai passar e que depois alguém vem com outra coisa. As emoções, a autenticidade, a bondade, nunca foi, nem é uma questão de moda – Ghandi liderou pela paz em 1940… A liderança pelo exemplo não é só a melhor forma de liderar, como a única, porque as pessoas gostam de se sentar com os líderes e desfrutarem das mesmas sensações que têm à mesa de casa ou do café – não sendo ofendidas e/ou discriminadas.

Ademais, a liderança pelo exemplo e com/por via da empatia não serve apenas para quem está numa posição de poder a nível profissional. Todos, de alguma forma na nossa vida, ocupamos um lugar de líder – seja para nós mesmos, seja com os nossos filhos, seja com uma equipa num projeto específico, seja numa turma, ou até mesmo num grupo de amigos. Ninguém tem que nos atribuir nenhum papel, de forma formal, para liderarmos: é isso que o líder faz e nada mais – inspira e consegue influenciar, e por isso é que basta ser o exemplo, seja em que papel for. E um dos maiores papéis que temos na vida, é cumprir com o nosso dever como cidadãos.