Às vezes dou por mim a pensar se a Europa não estará irremediavelmente perdida. Mas depois chega toda a cor, toda a luz, todo o som do Festival Eurovisão da Canção e passa-me. Fico mesmo com a certeza absoluta que a Europa está irremediavelmente perdida. O Festival Eurovisão do Inferno da Canção Péssima não deixa margem para optimismos.

Na edição deste ano aconteceu de tudo um pouco. O vencedor, anunciado num intervalo de se sugerir o extermínio dos judeus, foi um, digamos, ser – acho que humano, mas não quero arriscar discriminar ninguém – suíço, que diz não ser menino, nem menina. Houve uma bruxa irlandesa, também ela “não-binária”, que guinchou demoniacamente, num intervalo de sugerir o extermínio dos judeus. E houve a concorrente grega que, numa conferência de imprensa, não conseguiu disfarçar o seu desejo, não tanto de requinte, mas mais de extermínio dos judeus.

E depois houve, claro, milhares de pessoas à porta do hotel onde ficou instalada a concorrente israelita, a sugerirem o extermínio dos judeus. Porque não começando logo pelos ali albergados, que estavam tão à mão? Foi o que se perguntaram os terroristas do Hamas, que seguiam as incidências do Festival Eurovisão da Canção em directo. Só que, entretanto, distraíram-se a tentar descobrir onde pintar as unhas como as da nossa representante, Iolanda, com cores e motivos palestinianos, mesmo apropriadas para quem está no ramo do extermínio de judeus.

Ainda se lembram quando as famílias se reuniam à frente da televisão para assistir ao Festival Eurovisão da Canção? A esta distância, era algo deprimente, não era? Mesmo na altura, era algo deprimente, convenhamos. Mas, pelo menos, proporcionava um belo momento em família. Proporcionava um momento em família, vá. Já bem bom. Hoje, o Festival Eurovisão da Canção só proporciona um belo momento em família se a família em causa for a família Addams. Ou se a família tiver como apelido Goebbels, ou algo do género. Ui, aí sim, o Festival é diversão pela noite das facas longas dentro.

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Sem ter estado no Festival da Eurovisão, Francisco Paupério foi cabeça de cartaz num outro certame onde também não se escutou nada de jeito, o congresso do Livre. Francisco Paupério – e não “Paupérrimo”, como o meu corrector automático insiste em escrever -, o cabeça de lista do Livre às eleições europeias, salientou, segundo o Observador, que “a luta pela paz não está a concurso e que o televoto não trava o genocídio, numa referência à Eurovisão”. Duplamente certo, Paupério – não é à toa que não é Paupérrimo, este menino.

Primeiro, é verdade que “a luta pela paz não está a concurso”. E não está a concurso pela simples razão do Hamas não ter qualquer interesse em lançar esse concurso para que se construa a paz. Em termos de lançamentos, o Hamas foca-se em lançar rockets contra civis israelitas. E sempre que mete construção, o Hamas prefere rebentar com tudo. A menos que estejamos a falar de túneis. De construção de túneis o Hamas gosta. Contando que sejam túneis para levar a cabo missões terroristas com o intuito de rebentar com tudo o que é judeu.

Segundo, é correctíssimo dizer que “o televoto não trava o genocídio”. Da mesma forma que, por exemplo, engomar roupa de cama não trava o monstro do lago Ness, ou a condução de retro-escavadoras não trava a fada dos dentes. O “genocídio” de Israel sobre a população de Gaza está, em termos de fantasia, ao nível dessas duas míticas criaturas.

A propósito de criaturas míticas, e ainda do congresso do Livre, o partido voltou a eleger Rui Tavares para a liderança. Rui Tavares que já se mostrou ansioso por substituir Mariana Mortágua como BFF de Pedro Nuno Santos. É uma manobra traquina de Rui Tavares, porque já se percebeu que Pedro Nuno Santos é comunista o suficiente para fazer desaparecer o Livre e o Bloco de Esquerda do mapa, qual homem do saco.