Das primeiras lições que a Democracia moderna nos tentou ensinar foi, precisamente, sobre a necessidade da temporalidade, rotatividade e pluralismo no acesso e exercício do Poder Político.
No rescaldo da Revolução Americana, no que era uma proposição verdadeiramente apropriada no séc. XVIII, foi sugerido a George Washington que assumisse, não a Presidência, mas uma Coroa dos Estados Unidos da América (EUA).
O, na altura, General da milícia provocou o sucesso da Revolução, exercendo um poder de facto praticamente ilimitado, contudo, perante esta sugestão imediatamente a repudiou, indicando que tal significava desonra e uma conduta inapropriada. E a sua transferência pacífica da Presidência para John Adams, inaugurou uma honrosa tradição democrática moderna.
Outro fundador Americano, Benjamin Franklin, está associado a uma narrativa, talvez histórica, que, saindo do Congresso Constitucional, terá sido abordado por um grupo de ávidos populares pela movimento revolucionário, que lhe terão perguntado qual seria a forma Estadual dos EUA, ao que Franklin terá respondido: “Uma República, se a conseguires manter!”. A resposta, embora curta, é altamente densa no seu significado democrático, alertando para a necessidade do Povo manter a Democracia pelo seu envolvimento, proatividade, exigência e intervenção.
Avançando no tempo e no espaço, temos o eclodir público da operação sugestivamente apelidada de operação “Tutti Frutti”, avançada ao público pela TVI/CNN, num exclusivo que parece demonstrar uma cartelização política para distribuição de cargos políticos autárquicos, encabeçada pelo PSD, pela mão de Sérgio Azevedo, com o PS, pela mão de Fernando Medina, onde foi dado ao público a conhecer conteúdos tão inéditos como “Está combinado com o Medina eles apresentarem uns gajos merdosos para garantirmos (PSD) as nossas juntas”.
O que é que liga a primeira construção a este último parágrafo? menos do que deveria, mas têm a ligação de serem ambos instrumentais para avançar uma opinião que perfilho desde que comecei a preparar para ser eleitor, ainda antes de poder exercer tal direito. A ideia de que da insatisfação com a direção política de um país não pode resultar nem a abstenção, nem a conformação, nem a aceitação da sacrossanta “estabilidade política”.
Até agora, o Presidente da República era desculpado por comentadores, profissionais e amadores, porque não existia alternativa. Agora vem o tempo de ponderar: E nós os Cidadãos, o Povo, aqueles a quem está, em Democracia, entregue o Poder de escolher o Poder Legislativo e o Poder Local diretamente, o Executivo do Governo indiretamente, que alternativa temos?
As autarquias têm, em vários pontos do país, eleito outros partidos políticos para a sua direcção política local, mas esta República, desde que o é, que teve o PS e o PSD, sozinhos ou não, a decidir o presente e o futuro de Portugal.
Essa “certeza” de opção e alternância pode ser correlativa com o nível de corrupção que parece estar a eclodir desta Investigação, ou poderá ser causal a esta!
Numa triste analogia com os casos de pedofilia na Igreja Católica… é racional, que se passe de uma instituição séria com casos de pedofilia que, por sairem incólumes, passam a atrair pedófilos para estes se servirem da impunidade da instituição. Ora, se assim conjecturarmos, também se conjectura que não foi a corrupção que formou partidos do “arco do Poder”, mas este que, por tão previsível que será o seu resultado em acesso ao Poder, e tão raro chegar a público este tipo de factos, que todo o “corrupto” (com ou sem e, até, independentemente da ideologia política) se junte a estes partidos, especificamente. Quando se vem descobrir que até entre os 2 principais “rivais” há cumplicidade… vem o desespero de sair deste dramático ataque à própria ideia de Democracia.
A solução é mais complexa que o problema. Na, nada modesta, opinião vertida mais vale a população estar disposta a mudar mais do que uns milímetros, para cada lado. Porque “o poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente”, nas palavras de John Dalberg Acton.