Buuu buuuu os robots vêm aí! Sim, virão. Mas bastante antes disso (não pense que tal acontecerá ali ao virar da esquina da próxima década) continuaremos a trabalhar muitos dias, muitas semanas e a assistir a uma implacável mudança nos ambientes de trabalho. Da crescente intensificação e complexificação de funções por um lado, à progressiva simplificação de outras, fruto do desenvolvimento tecnológico na automatização de tarefas, por outro.

Se nada de sistemático e generalizável acontecer na forma como se organiza e se realiza o trabalho, os trabalhadores vão continuar a adoecer, a ser menos produtivos, a concretizar menos o seu potencial e a envolverem-se e a comprometerem-se menos com as suas organizações, que constituirão elas mesmas locais de trabalho pouco saudáveis. Todos pagamos essa factura.

Ainda que muitos gestores e donos de empresas assobiem para o lado, não queiram saber e sacudam as suas responsabilidades (para além do mínimo que a lei actual os obriga) na protecção e promoção da saúde e bem-estar dos seus colaboradores, talvez seja melhor aqui lembrar que essa atitude é muito pouco inteligente. Que patrão não estaria interessado em reduzir os custos que tem com perda de produtividade associada ao absentismo e ao presentismo, calculados na ordem dos 329 milhões de euros por ano? É que 2 em cada 10 trabalhadores sofrem de problemas de saúde psicológica causados por efeitos negativos de factores laborais.

Refiro-me às causas do stresse ocupacional, de que são exemplo a falta de autonomia e controlo sobre as tarefas, conteúdo de trabalho sem significado para o colaborador, carga de trabalho superior à capacidade deste, horários de trabalho excessivos ou por turnos e com poucas e curtas pausas para descanso, indefinição de funções e do papel de cada um, a falta de comunicação interna, conflitos e má relação entre os trabalhadores, a ausência de fronteiras entre o trabalho e o lazer ou a dificuldade em equilibrar a vida pessoal, familiar e profissional, falta de oportunidades de promoção e de desenvolvimento, assédio, violência… Poderia continuar…

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Não são cenários de sonho!? Infelizmente são a realidade de trabalho de muitos Portugueses e ainda por cima evitáveis. Patrões inteligentes são aqueles que investem em prevenir estes e outros riscos psicossociais, evitando assim perder 48 milhões de euros por faltas ao trabalho (1,3 dias por ano) e 282 milhões de euros por presentismo (cerca de 2 dias por ano). Patrões inteligentes são os que enfrentam o desafio de manter a sua força de trabalho saudável, produtiva e dedicada ao trabalho porque conhecem o benefício e a eficácia da existência da saúde e bem-estar nas suas organizações, associada a um desempenho financeiro mais forte 2,2 vezes superior à média. Patrões inteligentes são os que utilizam a evidência científica que demonstra que cada euro investido na implementação eficaz de programas de intervenção psicológica produz um retorno correspondente a um aumento 5 vezes superior de produtividade.

Por estas e por outras razões é tão crítico que as pessoas à frente de organizações tenham apoio para desenvolverem competências de gestão do stresse, de gestão do tempo, de gestão emocional, de liderança… É que os locais de trabalho saudáveis são aqueles em que todos os membros da organização (empregadores, trabalhadores – líderes ou não) cooperam com vista a melhorar os processos de protecção e promoção da saúde, segurança e bem-estar. As contas estão feitas. Mais vale prevenir do que remediar, certo?

Psicóloga Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde, Psicologia da Educação, Psicoterapia e Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira. Membro da Direcção da Ordem dos Psicólogos Portugueses