Caro leitor: peço desde já desculpa por este plágio. Copia praticamente, adaptada ao presente, uma crónica escrita neste jornal no dia 14 de Julho de 2014, com o título: “Não sei se Marcelo Rebelo de Sousa concorrerá à Presidência da República. Mas se concorrer, ganha”.
Agora já sei que Marcelo concorre. E volto a afirmar (agora é fácil): vai ganhar. O que não é a mesma coisa que dizer “já ganhou”. Eis a crónica:
“Marcelo Rebelo de Sousa concorre à Presidência da República e vai ganhar. Claro que sim. À direita, aliás, é mesmo o único capaz de vencer uma disputa com um candidato de esquerda do calibre de António Guterres, caso este se candidatasse (ou na remota hipótese, nunca descartável, de ainda por aí aparecer).
As eleições legislativas condicionam decisivamente a escolha do Presidente da República. Já comentado por muita gente, pode resumir-se da seguinte forma:
A vitória incerta (porque não absoluta) da coligação e o difícil exercício de constituição de um governo estável em condição de minoria parlamentar, associada à precária situação de António Costa como líder socialista, desaconselham o apoio partidário a qualquer candidato. Ainda assim, é possível que isso suceda no caso do PSD, não se vendo aliás como a dinâmica imparável da candidatura ora anunciada de Marcelo possa permitir outras candidaturas viáveis na sua área política; e muito menos de pessoas com ambições ou prestígio a defender. Mas não julgo que esse apoio, já solicitado por Relvas, seja aconselhável, pois o favoritismo evidente de Marcelo torná-lo-ia, aos olhos do eleitorado, um mero exercício de oportunismo e tacticismo partidário reprovável.
Sobre o PS e a teia em que se enredou já muito se escreveu: não podendo desacreditar o putativamente apoiado Nóvoa nem renegar uma ex-presidente do Partido, e ainda menos arriscar uma fractura interna – outra, melhor dizendo – com reflexo no congresso já anunciado mas ainda não agendado, a melhor solução acaba por ser a que foi tomada: o PS não terá um candidato oficial.
Contra Guterres, caso o antigo primeiro-ministro se apresentasse ao sufrágio, quase todos os putativos candidatos de direita com excepção de Marcelo teriam a derrota como inevitável destino. Dos outros contendores possíveis à direita, Durão Barroso tem o ónus da saída de Portugal a meio de um mandato para além de uma injusta colagem à austeridade “imposta” pela troika (nas suas vestes de Presidente da Comissão), Santana Lopes saiu da corrida e Rui Rio ou muito me engano ou fará o mesmo. E à esquerda? A ver vamos, mas sem Guterres não se vislumbra competidor à altura; como hoje está na moda dizer, de forma um bocadinho irritante, “temos pena”. Mas é a realidade: nem Maria de Belém, nem Sampaio da Nóvoa parecem poder fazer frente ao “Professor”.
Marcelo Rebelo de Sousa é o nome mais forte da direita política (até porque, paradoxalmente, a sua popularidade é de direita, de centro, de esquerda). As sondagens demonstram-no. Dele se dizem muitas coisas, mas nenhuma parece ser séria. Séria é sua popularidade. E é frequente a crítica que explica a popularidade de Marcelo com a sua crónica de comentário televisivo longa de anos (agora na TVI, nem por acaso a televisão com maior audiência). Muita gente boa, comentadores da vida política portuguesa, diz que Marcelo não passa de um “comentador”, acrescentando em geral “um mero comentador”. Pois eu, que não passo de um mero comentador, recordo aos meus amigos comentadores que Marcelo Rebelo de Sousa é tudo menos mero. Sendo um comentador será o príncipe dos comentadores. Quantos de entre nós, comentadores, logram manter um espaço de comentário anos a fio, com grandes audiências e influência? As opiniões de Rebelo de Sousa são escutadas e comentadas um pouco por todo o país. A sua palavra tem peso e força persuasiva.
Marcelo é rejeitado por uma boa parte dos comentadores, por muitos politólogos e cientistas políticos – que lhe apontam a tendência para a errância ou uma boa dose de maquiavelismo político -, por utentes das redes sociais, por parte das elites políticas, económicas e sociais: Marcelo é apoiado (prefiro não usar verbos mais fortes, como adorado ou idolatrado) pela classe média, pelo povo, por um bom par de milhão de portugueses (um ou dois).
Também é acusado de mudar de opinião com frequência. No âmbito da sua campanha, corre o risco de vir a ser confrontado com afirmações suas contraditórias: é fácil, material não falta; mas seria confundir o essencial com o acessório, pois alguém que anda há décadas a comentar a vida política em Portugal arrisca-se a contradizer-se ocasionalmente. É quase inevitável. Acontece a quantos se exprimem na praça pública, por dever de ofício ou devoção. E afinal, como bem sabemos, mudar de opinião é também uma prova de inteligência. Não que Marcelo o precise de provar, julgo eu.
Marcelo tem fortes possibilidades de se tornar o próximo Presidente da República de Portugal. Confesso que, como português, me daria gozo ter um Presidente com a sua capacidade intelectual, compreensão profunda da coisa pública, do “jogo” político, dos fundamentos do comportamento dos agentes políticos, para além dos seus conhecimentos e competência técnica do direito, em particular do constitucional, administrativo e da ciência política.
Acrescento um ponto que me parece fundamental: ao contrário do seu (futuro) antecessor, mas também de Passos Coelho e Sócrates, Marcelo Rebelo de Sousa tem uma imagem de afectividade, disponibilidade e simpatia que contrastam fortemente com o rigor, a austeridade (não é essa…) e a sisudez – ou a truculência – dos mais recentes líderes do país.
E é a isso que as pessoas de domingo, o povo de Marcelo, aspiram: alguém que, sendo um foco de estabilidade, seja em simultâneo um objecto de afecto. Já basta de tristezas”.
PS. Aproveito para reagir antecipadamente a quanto virem neste plágio um mero exercício de auto-contentamento jubiloso, salientando a quantidade de erros de análise e previsão que a crónica original continha, por exemplo sobre a vitória quase certa do PS ou a mais que possível emergência, vitoriosa, de um partido não tradicional.