Na manhã de quinta-feira acordámos com a inesperada notícia do secretário de Estado André Mendes – do ministério dos Transportes e outros assuntos governamentais – informando que o chefe dos «esquerdistas» que assaltaram o actual governo, Pedro Nuno Santos, havia programado por lei a construção de dois aeroportos na Outra Banda: um no Montijo daqui a 4 anos e outro daqui a 15 em Alcochete… O valor de tal promessa vale o que vale, isto é, pouco ou nada!

A propaganda dessa notícia arrasta-se desde o tempo funesto em que Sócrates anunciava a construção do aeroporto na Ota. Esta enésima proclamação do mesmo tema foi tal que já ontem se aguardava a confirmação pública do 1.º ministro ao anunciar que desautorizava o ministro. Só que não o demitira nem este apresentou a aguardada demissão… Aparentemente, Santos tem menos medo que Costa do que o contrário… Quanto ao PR, tão falador por hábito, nada disse… Apesar da irregularidade deste assina-não assina, a decisão final tardou até tarde!

Segundo o 1.º ministro, o encarregado das obras é ele e, segundo diz, tencionava falar primeiro com o maior partido da oposição – actualmente inane até o novo líder assumir a chefia – e com o PR, que é o supremo representante da nação e, como tal, não poderia subscrever o decreto sem este ter sido discutido com ele e debatido com os deputados, muitos dos quais se opõem à construção destes aeroportos, apesar de os seus votos não terem peso perante a «maioria absoluta» reconquistada com 41% dos votos depois dos escassos 45% de Sócrates… Cada vez menos!

Foi no contexto do novo golpe parlamentar do PS, que fez cair o parlamento de 2019 com a colaboração do PR e o apoio do BE, que chegámos ao afastamento do desorientado líder da oposição, Rui Rio, e que António Costa pretendeu surgir sozinho à frente do país. Em contrapartida, o actual governo maioritário tem sido incapaz de investir os rios de dinheiro que escorrem de Bruxelas e declarou em plena guerra não querer pagar a quota da NATO, conforme esta solicitou mas Portugal nunca cumpriu desde 1949 quando Salazar foi forçado a aderir à organização!

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O mal-estar cada vez maior que se sente em Portugal desde o surgimento da pandemia e de a Rússia ter lançado a guerra contra a Ucrânia, assunto do qual o governo português nada quer saber apesar das aparências, esse mal-estar acaba de ser sacudido tardiamente por António Costa no fim do dia de ontem ao denunciar que o ministro dos Transportes – eterno candidato a suceder ao actual líder do PS – tinha ousado anunciar um decreto-lei publicitando um programa gigantesco de obras a construir nos próximos 15 anos a fim de substituir o aeroporto de Lisboa.

Trata-se de dois mirabolantes novos aeroportos na Outra Banda, cada um com a sua ponte sobre o Tejo, que viriam a ser substituídos daqui quinze anos a contar de hoje por um único aeroporto no Alcochete, o qual faria desaparecer simultaneamente o do Montijo e o de Lisboa! Entretanto, o primeiro-ministro declarou ao fim da tarde de ontem que o decreto anunciado pelo ministro dos Transportes era para rasgar e que ele e só ele tinha competência para decretar tal coisa depois de consultar o presidente da República e o principal partido da oposição à data ainda à espera do seu novo chefe.

Conforme o público teve oportunidade de ir sabendo, o PM começou por se revelar zangadíssimo enquanto o seu badalado substituinte num futuro mais ou menos próximo declarava não se demitir: por outras palavras, Costa que decidisse! A troca de galhardetes foi intensa até se perceber, com grande espanto, que nenhum dos altercantes se demitiria. Umas horas depois, veio-se a saber com grande surpresa que o presidente da República não tinha sido informado de nada e que o l.º ministro afinal mandava a toalha ao chão depois de o seu adversário pedir desculpa do mau jeito…

Quanto à comunicação social, sobretudo a financiada pelo governo, achou naturalíssima uma contenda desta envergadura, sem qualquer comparação com a resistência da ministra da Saúde a apresentar a demissão, como seria normal perante a incompetência revelada na gestão do SNS, dando também ela a entender que tudo voltara à «normalidade socialista», o que está longe de ser verdade…

A maioria da população perguntará como é possível que um ministro que assumira – momentaneamente que fosse! – as funções do primeiro-ministro sem o avisar lograva mesmo assim permanecer no governo. Para além da monstruosidade dos projectos anunciados, quando o atraso da renovação do aeroporto de Lisboa prossegue há décadas e o ambicioso ministro em causa continua a agravar a situação da TAP, o PS este a desprezar os eleitores?