Nas últimas semanas, temos assistido a um desenvolvimento interessante em relação ao panorama político e às redes sociais. De um lado, temos a Meta, que, como o próprio Zuckerberg denunciou, foi alvo de pressão da administração Biden para censurar diversos conteúdos que não incluem apenas humor e sátiras sobre a covid-19.

Tal como escreve Maria Vieira da Silva para o Observador, também houve pressões do FBI “…para censurar a circulação de um artigo do New York Post detalhando o envolvimento de Biden nos negócios obscuros do filho Hunter…”. A autora acrescenta criticamente sobre a notícia: “O que surpreende, de facto, é a simplicidade desarmante com que [a notícia] foi admitida, considerando que oprimiu, expulsou, suspendeu e ofendeu milhões de utilizadores, não só por lhes ter negado o seu direito à liberdade de opinião e à liberdade de transmitir ou receber ideias, mas também por ter estigmatizado, discriminado e assimilado às franjas mais extremistas.” Lamento a extensão da citação, mas o artigo merece ser lido para uma melhor compreensão deste primeiro ponto.

Por outro lado, temos o X (antigo Twitter), que enfrenta mais um braço de ferro com um país altamente democrático (o Brasil), à semelhança daqueles que impuseram limitações de acesso ao X, como a China, Coreia do Norte, Irão, Rússia, Venezuela, Mianmar, Arábia Saudita, Cuba e outros. A restrição foi encabeçada pelo atual juiz e ministro do Supremo Tribunal Federal brasileiro, Alexandre de Moraes, que, com a sua careca a brilhar originalidade, aplicou multas por rastreabilidade à semelhança desses outros países democráticos, incluindo o acesso ao X por VPN, podendo as multas chegar a valores na ordem dos 8000€.

Para ser justo, a causa é mui nobre. Segundo o juiz, Musk e a sua rede social estariam a incentivar uma postura de discursos extremistas e antidemocráticos. Isto porque, ao contrário da Meta, não acederam aos caprichos políticos e não censuraram os seus utilizadores a ponto de os bloquearem, como era exigido pela Procuradoria. Segundo a mesma, estariam a obstruir a justiça por não bloquearem contas e por não apontarem um representante legal no país.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sobre este último ponto, a plataforma X comunicou que teria sido intimada por ordens judiciais, onde as penas poderiam chegar à prisão da representante legal do X, Rachel de Oliveira Villa Nova Conceição. Isto motivou a empresa a destituir a sua sede no país.

Num primeiro momento, o juiz também deu um prazo de 5 dias à Google e à Apple para que deixassem de oferecer a aplicação do X nas suas respetivas lojas de aplicações. No mesmo texto, também se podia ler que as mesmas não deveriam permitir apps de VPN. Para quem não sabe, uma VPN é uma aplicação que cria uma rede privada criptografada entre o seu dispositivo e um servidor remoto, garantindo que os seus dados sejam protegidos enquanto está online e que a sua localização não possa ser rastreada. Apesar de tudo, esta medida foi suspensa horas depois. Acrescento eu que deve ter sido devido às suas intenções puras e cristalinas.

Não obstante o demérito da medida anterior, o Lex Luthor brasileiro não ficou satisfeito e foi atrás da Starlink, aplicando um boicote a contas desta empresa também detida por Musk, alegando de forma infundada e inconstitucional que a Starlink é responsável pelas multas aplicadas ao X. A meu ver, seria o mesmo que o leitor deste artigo ser impedido de ir ao supermercado porque ainda não pagou a conta do pão na padaria. Tem alguma coisa a ver? Não! Tal e qual o nexo destas medidas.

Um aparte que creio se fundir bem com esta crónica é que quem lê a média internacional e nacional não pode ficar indiferente a uma apreciação da minha esposa. Tal como ela refere, parece que ultimamente estamos a ver à distância um tsunami vermelho orwelliano. Espero que tenha as boias preparadas.