Já só faltam três semanas para uma inesperada eleição legislativa provocada pela derrota do governo PS na aprovação do orçamento de Estado para o presente ano. A rapidez e a insistência com que o presidente da República dissolveu o parlamento, praticamente sem prévio aviso, fazem pensar que o líder do PS aproveitou a oportunidade que lhe era oferecida de ir a votos e conquistar a maioria absoluta parlamentar por quatro anos, a fim de governar sem oposição e aproveitar a montanha de dinheiro oferecida pela UE a fim de tentar recuperar o enorme rombo económico do país.

É isso que se verá. Com o actual surto da pandemia em curso e com perdas económicas significativas por recuperar interna e externamente, o PS anseia pela maioria absoluta a fim de usar o fundo gratuito da UE à maneira dele e dos seus próximos. Pior que as quebras sanitárias e económicas é a incapacidade política de o país se recuperar a si próprio. Entretanto, a inflação despertou da acalmia em que a economia mundial vivia desde finais do século passado até a pandemia surgir. Isto não deixará de afectar a dívida pública, a qual já ultrapassa largamente o PIB anual e só diminui um instante para voltar a aumentar de novo.

É este o quadro que espera uma dezena de partidos que se apresentarão à eleição: dois grandes, o PS e o PSD, que abarcarão à vontade, segundo as sondagens, dois terços dos votos; depois, os pequenos partidos, por ordem da votação prevista pela sondagem do ICS-ISCTE: o Chega (o primeiro até agora com 7%), o BE, o PCP, a IL, o PAN, o CDS e, por ora, o Livre em último… Para já, acentua-se cada vez mais a monopolização dos dois partidos situados ao centro do leque ideológico esquerda-direita, enquanto aumenta a abstenção e diminui o apoio popular a antigos partidos relevantes como o PCP e o CDS, mas também aos novos candidatos à representação parlamentar.

Este processo partidário, simultaneamente redutor e abusador, para não dizer autoritário e clientelista, é ao mesmo tempo uma consequência e uma causa da precipitação e incompetência com que o sucessor de Cavaco Silva – António Guterres – agiu a partir de 1995. A época dos anteriores governos de Cavaco Silva – o primeiro minoritário (1983-1985) e depois com maioria de 50% — Portugal teve um progresso económico e social significativo e continuado, sobretudo a partir da adesão à então CEE. Com efeito, tal não ocorria desde a quinzena de anos que vai da década de 1950 até à crise do petróleo em 1972, a qual levou por sua vez ao levantamento militar de 1974. A «esquerdização» da política dá sempre um mau resultado económico!

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Com a subida ao poder de Guterres, este apressou-se a aderir ao recém-criado «euro» por um preço que Portugal nunca teve condições para pagar, conforme se tem visto até agora! É bom recordar que a adesão à «Europa» promovida por Mário Soares contra gente do seu próprio partido, para não falar do PCP e dos grupúsculos esquerdistas, assim como das reticências do CDS e do próprio PSD, tinha como alvo exclusivo obter a protecção da Europa para a frágil democracia portuguesa. Como Pessoa, Soares «não sabia nada de finanças», mas sabia o que era e o que não era uma democracia!

Se dúvida houvesse acerca do resultado económico dos últimos 25 anos, sobretudo os «anos loucos» de Sócrates, cuja sombra se projecta há mais de 10 anos e daí que não possa ser julgado de vez, a pandemia pôs a nu o arrastamento da economia, ao mesmo tempo que os governos continuavam a ignorar o galopante envelhecimento do país. Foi assim que, num só ano (2020), a economia já caiu metade do que aumentara durante a geringonça.

Entretanto, a dívida não cessa de subir mas agora a inflação e os juros parecem querer aumentar também de forma a «limpar» os bancos, grandes empresas e dirigentes partidários! Estamos de volta a 2011 quando Sócrates foi afastado mas ficou livre…Neste momento, o PIB português está ao nível de 2005, quando Jorge Sampaio entregou o poder a Sócrates a fim de este enterrar o escândalo da Casa Pia e… restaurar o «socialismo». O resultado foi a corrupção seguida da pré-falência e, por causa disso, a austeridade!

A votação do domingo 30 apanhou toda a gente de surpresa e os seus fins não foram bem explicados. Antes pelo contrário: o primeiro ministro limitou-se a prometer aumentos de salários, esquecendo o aumento dos preços e juros. Ficaram à vista, contudo, a extrema profundidade da crise económica a que o país chegou assim como revelou uma crise social que vai do envelhecimento e a saúde à justiça e a educação! É preciso pôr termo a isto.