Conforme já disse, a pandemia continua a ser o factor que domina o processo eleitoral em curso. Basta notar que ninguém fala do dinheiro que a UE há-de mandar um dia, se e quando a pandemia terminar de vez! Em compensação, o governo cessante gaba-se que Portugal é um dos países onde há mais pessoas vacinadas… Acredito mas, então, como se explica que o país esteja a experimentar o maior número de casos de contágio diários, continuando os mais idosos a morrer às dezenas? O mínimo que se pode concluir é que o efeito esperado da vacinação em massa ficou muito aquém do que seria de esperar, continuando a verificar-se a escassez de recursos sanitários por falta de organização, investimento e candidatos às profissões de saúde!

É certo que o número de óbitos assumido pela DGS é baixo em comparação com a maior parte dos países mas a disrupção continuada da vida normal e da actividade económica do país, devida ao contágio permanente há dois anos ininterruptos, impede não só a plena recuperação económica e a implementação do «plano milagre» europeu, como impede também o bom funcionamento das escolas desde as creches às universidades, assim como os hospitais e os centros de saúde. Diz o governo cessante que tudo está a melhorar… mas o país continua muito longe de ter voltado à normalidade. Entretanto, a inflação, o custo de vida e a dívida pública continuam a aumentar!

É neste contexto que estão a ter lugar as últimas campanhas de propaganda partidária até à votação do próximo dia 30. Apesar da máquina do PS e, em especial, do primeiro-ministro cessante terem quase toda a comunicação social ao seu dispor, a «voz do povo» soa hoje de modo muito diferente do que se passou há pouco mais de três anos. Além das frequentes práticas clientelares e autoritárias do governo cessante, os anos da pandemia acrescentaram-se inevitavelmente ao cansaço do eleitorado com o PS e com o seu omnipresente leader, que pretende agora ver-se livre das muletas do PCP e do BE. A «traição» de António Costa ao «pacto da geringonça» não aumenta a simpatia dos eleitores: é uma questão de comportamento…

A inviabilização do orçamento e a pressa com que o presidente da República dissolveu o parlamento, seguramente de acordo com o 1.º ministro, fizeram o resto. Os resultados da anterior eleição (Outubro de 2019) valeram ao PS 36% dos votos que lhe deram 108 deputados, faltando apenas oito para alcançar a maioria absoluta que tudo lhe permitiria. A verdade, porém, é que esse resultado já representava uma forte distorção à proporcionalidade entre votos e deputados a favor do PS!

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Não é certo, porém, que o líder do PS consiga obter dois anos e meio mais tarde aquilo que já então ambicionava. Para isso, o PS teria no mínimo de se aproximar de 40% dos votos, como algumas sondagens chegaram a dar-lhe. O facto é que a desproporcionalidade eleitoral tem vindo a tornar-se cada vez maior… e a democracia cada vez pior! Este, sim, é um enorme problema que tem vindo a agravar-se em benefício dos dois partidos de poder, pelo que não é de esperar que o sistema eleitoral seja revisto a sério. Com efeito, se é certo que os 50% das maiorias de Cavaco Silva (1987-1995) foram benéficos para a economia e não só, o mesmo não se pode dizer dos 45% de José Sócrates (2005-2011), o qual acabou na bancarrota que se sabe e cujos efeitos continuamos a sofrer, começando pela dívida externa galopante!

Além da pandemia, é este o pano de fundo social e económico que domina a cena eleitoral criada pelo Presidente da República e pelo 1.º ministro fim de darem ao PS a maioria absoluta parlamentar: 115+1 dos deputados… e de fazer o que quiser nos próximos quatro anos! Foi assim que o líder socialista começou por abordar a campanha actual com visível desprezo pela oposição mas também pelos dois partidos «esquerdistas» que tinham catapultado Costa e o PS para o poder em 2015.

Inesperadamente, o PM depressa se viu isolado em campanha e nos sucessivos debates televisivos, perdendo as ilusões da tal maioria absoluta, em breve renunciando a ela publicamente mas desprezando sempre a oposição e os antigos aliados. Sozinho no palco, perdeu não só a confiança em si mesmo como os objectivos governamentais, abandonando o país à sua sorte em pleno surto pandémico com dezenas de óbitos diários… A oposição, liderada por um PSD subitamente renascido por Rui Rio, despertou para a campanha ao mesmo tempo que entravam em cena os seus potenciais aliados. Entretanto, o PS e os seus parceiros da antiga geringonça tremem com a ideia de perder por completo o poder. Cabe aos votantes manifestarem-se nas urnas. Por mim, votarei na Iniciativa Liberal.