O Partido Socialista e o Chega têm o seu melhor interesse à frente do superior interesse de todos os portugueses.

O desenvolvimento do país e da qualidade de vida de cada um de nós a curto, médio e longo prazo, está subalternizado pela obtenção, e manutenção, de poder partidário a curto prazo. Obviamente, quando digo Partido Socialista, refiro-me a este umbiguista, aparelhista e sem visão para Portugal que emergiu com Sócrates e hoje é governo. Quanto ao Chega sabemos todos de onde vem: das franjas da insatisfação quer da direita quer da esquerda, do empobrecimento daquela que foi a classe média, da exclusão profissional e social.

Esta Moção de Censura, e quem quer que se dê ao trabalho de a ler poderá verificá-lo, não tem o tom tonitruante a que o Chega nos habituou nas suas populistas tiradas parlamentares. Antes aponta todas as áreas problemáticas desta vergonhosa governação, no entanto, com a facilidade de não oferecer soluções. Ou seja, nada constrói além do clamor à esquerda: cuidado, vem aí o Papão… E o Papão é o «fascismo» como este Partido Socialista o inventa para nos desinformar: tudo quanto está à direita deste Partido Socialista, ainda que seja centro, centro direita, direita liberal ou populismo, é aglutinado pelo Papão. Os fascistas. Como tivemos a infeliz oportunidade de verificar nas últimas eleições legislativas, funciona. A erosão democrática que causa é, para estes intervenientes, o Partido Socialista e o Chega, coisa de somenos já que funcionam ambos em cadeia de realimentação: ambos crescem enquanto o centro moderado desaparece e a polarização aumenta.

Já tive oportunidade, aqui no Observador, de escrever sobre este processo e os seus custos conforme o vimos em França – sempre com a salvaguarda de França ser um país rico e nós um país pobre. E sobre os Estados Unidos onde o Partido Republicano tem vindo a ser devorado pelos seus extremos e ao serviço de quem, deliberada ou inocentemente, estão. E os novos meios tecnológicos de desinformação e manipulação disponíveis para potenciar as mais fundas cisões como os mais fragmentados e superficiais tribalismos.

A toxicidade desta forma menor de estar na política, isto é, ao serviço do aparelho e em serviço próprio, está a destruir a democracia.

É verdade, somos um país pequeno, periférico, pobre, que esbanja os seus recursos naturais e humanos como se fora riquíssimo, ora alienando e destruindo, ora empurrando para a imigração ou para o descaso. É verdade, a nossa relevância internacional é ínfima excepto para a predação turística ou dos fundos imobiliários. Mas nem por isso, nem por estarmos numa excepcional deriva socialista no que à Europa diz respeito, e aos Estados Unidos, ambos em rota para o autoritarismo através de direitas de diferentes filiações, devemos fechar os olhos nesta hora charneira: o mundo está a mudar. E a mudança não nos beneficia quando assenta no desmantelamento progressivo do Estado de Direito.

É absolutamente necessário que nos juntemos nas nossas diferenças, repito, diferenças, para da discussão encontrar um chão comum, um consenso do qual se crie uma visão para o país. Uma ideia futurante de ser Portugal.

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