24th of June 2020

As ordens e contra ordens do desconfinamento em Portugal vai fazê-los pagar alto preço! Claro, o resultado foi a Lusitânia acabar posta no índex, eliminada, das pontes turísticas que o Reino Unido está a abrir para os britânicos poderem apanhar sol no sul da Europa. Bye bye turistas!

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Por isso em St Andrews tenho de ficar, sem poder regressar ao Porto. E entrou-me o spleen. Sim, por que hoje é dia do seu Santo no Porto, a noite dos alhos porros a acariciar as caras mais mimosas, dos manjericos com a bandeirinha onde aparece sempre uma quadra popular atrevida, dos martelinhos a estalar amavelmente na cabeça de todos, dos gracejos, uns mais abrejeirados que outros, trocados entre juventudes infinitas, homens e mulheres que nessa noite deixam de ter idade. Transversalidade e capilaridade social levada ao extremo!

Sempre achei surpreendente que uma festa citadina levasse à rua uma população inteira. Só os entrevados e os recém-nascidos é que ficam em casa! O Porto , não há muitos anos, era uma cidade soturna, cinzentona, triste, cuja população todas as noites recolhia cedo à toca. excepto uma, repetida, ano após ano, de 23 para 24 de Junho, durante séculos: a noite de S. João. Entretanto, nestas duas últimas décadas, a cidade transformou-se num Porto alegre e cheio de vida. Sabe o que não mudou e refinou? foi a mágica da noite do seu Sankt Hans!

Não me venha com o seu Oktoberfest e a engurgitação de cerveja levada ao extremo, nem com o Carnaval do Rio, onde até desfilei nos meus verdes anos, mas que é uma orgia! O Porto, que eles consideram uma nação — e com toda a razão! — tem um sentido de orgulho colectivo único: aquele festejo da noite mais longa extrai dos tripeiros uma alegria de civismo irreplicável!

Este ano, esse civismo portuense foi levado ao rubro. Porquê? Pois olhe, devido ao maldito CV19, a cidade, pela primeira vez, ficou em casa na noite de 23 para 24 de Junho, sem um protesto, numa disciplina de que só os tripeiros são capazes. Estou em crer que o Mayor da cidade (Mr Moreira, creio), que teve a amabilidade de se me dirigir aqui há umas semanas lá no Porto quando eu me passeava no Molhe, foi muito eficaz. Para salvar a população da infeção, de forma mágica transformou a noite de S. João de 2020 num não acontecimento! E conseguiu! I must raise my hat bem alto! Mas o Santo, além de rapioqueiro, é miraculoso: também ajudou!

Uma das coisas divertidas dessa noite são os alhos porros e os martelinhos que levam a gracinhas atrevidas trocadas entre pessoas de sexo diferente que se cruzam nas multidões das ruas para nunca mais se verem! Se os velhos são peritos nas piadas sexy, agora imagine os novos! Nos tempos que correm, noutros países onde reina o híper absurdo do politicamente correcto, este exemplar comportamento portuense é inimaginável!

Agora com o Me Too esquecido, há outras mil minorias activistas a impôr os seus diktat ao mundo, e a ofuscar a democracia: calam nas Universidades os mais reputados académicos que se atrevam a contrariar os seus cânones, derrubam os monumentos dos pais das pátrias (no Ohio até o Cristóvão Colombo foi à vida!), levam as turbas à pilhagem, exacerbam o racismo. Basta uma insinuação que não “cumpra” com que está a dar para uma minoria, para a figura pública ou a mais privada pessoa que venha à tona, ser crucificada, apedrejada, insultada.

A brandura dos costumes da nossa querida Lusitânia dificulta muito o aparecimento desses quadros obscenos. Claro que Portugal tem bolsas irrelevantes de meia dúzia de ignorantes e imbecis que querem imitar, mal, o que se faz, como eles dizem, “lá fora”. O racismo, e o socialismo identitário, só lá aparece a martelo… Mas no Porto é o martelinho e o alho porro que conseguem a admirável fusão social de milhões! Milagre de Saint John the Baptist!! My spleen!

Nesta fase da vida temos de ter cuidado, pois reunimos um ramalhete de características que as minorias odeiam e querem liquidar: somos brancos (sem dar por isso, quanto a raças, o Hans e eu somos daltónicos), heterossexuais (proud, e respeitando todos, como tantas vezes temos falado) e, tal como apreciamos, elogiamos abertamente a beleza das mulheres que a exibem para nos seduzir. Além disso, temos raízes e educação judaico-cristã, prezamos a família como célula fundamental da sociedade organizada, somos partidários da liberdade de expressão respeitando opiniões contrárias às nossas,  etc. Ou seja, somos um anátema para os activistas! E olhe, quando formos velhos, temos que ir para um convento/fortaleza para não sermos eutanasiados…

Quando atingirmos o rubicão, se formos passar a noite de S. João a Oporto, com os admiráveis tripeiros e tripeiras, vamos sobreviver! Abraços do

27 Juni 2020

Estou numa tal ansiedade com a questão da mudança de imagem da Woschiems que não consigo sair de Krefeld. Com se não chegasse a agenda muito pesada causada pelo CV19, levei uma grande coça aqui na Alemanha com a mega fraude do Wirecard em cujas contas se descobriu esta semana que nunca existiram os €1,9 biliões em caixa que lá apareciam. As acções em três dias baixaram 80% e o chefe foi preso. Olhe, um assunto muito salgado.

Por outro lado, o hacking tornou-se num tormento. O grupo Woschiems tem uma empresa politicamente incorrecta na Austrália (carvão…). Como sabe o governo australiano está a ser vítima de inomináveis agressões por parte dos chineses, dado terem-se atrevido a criticar a barbaridade que os amarelos andam a pôr em prática em Hong Kong, liquidando todos os processos democráticos em vigor, e violando os tratados que assinaram.

Eu contei-lhe que fechei todas as contas no Hong Kong and Shangai Bank, por eles terem apoiado essas hitlero-comunistas medidas chinesas. E, além de ter declarado a Huawei anátema (rabiaram…), já estou a retirar todas as empresas financeiras que o grupo tem em Hong Kong para Tokyo! Mas estou a sofrer com isso: os chinocas estão executar um ataque cibernético  à Austrália equivalente a um bombardeio da segunda guerra mundial! E que atinge toda a infraestrutura daquele país. E a Woschiems Coal Operations Pty foi tocada de asa. Disse à nossa gente australiana que, além de terem de destruir tudo o que for Huawei (política de grupo, que chega a telefones móveis, tudo para o lixo)  a maneira de desacelerar essa violência será ajudar o governo australiano a contra-atacar em força, a defesa que nos resta frente à criminalidade governamental chinesa. Isto já nem é uma guerra fria, é uma guerra gelada! O célebre “perigo amarelo” ataca em força!

Muito obrigado por se lembrar de mim na noite e dia de S. João. A sua harenga em louvor do Porto parece algo exagerada mas, vinda de si, aplaudo! O William deve ter adquirido a raça tripeira! Cuidado, não mostre esta carta a ninguém, pois se transparece que eu admiro uma raça que é tripeira, trucidam-me!  É coisa a que acho graça, pois em lusitano dizer-se “fulano tem raça” -se for fulana é mais saboroso- trata-se de uma expressão de admiração. Mas vá para Heidelberg, Oxford, ou Harvard dizer isso: é linchado! Escreva isso num artigo de opinião e, nos tempos que correm, é insultado até aos trisavós! Mas, aqui muito entre nós, admiro a sua opção por essa magnífica raça pela qual está a querer optar, Será por osmose? E está a parecer que quer adquirir mais a nacionalidade do Condado Portucalense (pela sua descrição dir-se-ia que aquilo é um Reino, não um condado!) do que a da Lusitânia propriamente dita! Não acho mal. Apesar da nossa paixão comum pelo Vinho do Porto e pelos incomparáveis vinhos tintos do Douro, tem de perceber que, quando longe de Krefeld, me sinta mais de raça alfacinha, que é bem prazenteira!

Como se a tenaz e as incertezas causadas pelo CV19 não fossem suficientes, tive conhecimento que a minha compatriota Angela Gulbenkian foi presa esta semana em Lisboa. Fui apanhado de surpresa pois, como sabe, tenho feito algumas transações importantes no mundo da arte, o que me fez cruzar com ela um par de vezes e até tenho uma fotografia com ela e o Ai Weiwei (a Angela impressionou-o…), o que agora me envergonha! A sobrinha neta do genial Calouste Gulbenkian manchou o nome que adquiriu ao casar com Duarte Gulbenkian. Estou em crer que ela nunca teve ligações à Fundação, apesar de ter tentado, até nos endereços de email. Deitaram-lhe a mão por burla de milhões, devido à compra de um quadro de Isabel II da autoria de Andy Warhol, que nunca pagou, e pela venda fraudulenta de uma abóbora da celebrizada japonesa Yayoi Kusama. Vai ser extraditada para o Reino Unido. Espero que a magnífica Fundação Gulbenkian não fique tocada com esta história. Graças ao nome, pintou a manta (e esta expressãozinha, hein?) num mercado de arte extremamente opaco, em que todos os cuidados dos grandes (e pequenos) colecionadores são poucos.

Façamos uma prece a Johannes der Täufer, e uma saúde a todos os Hans, com um Chryseia 2011: merecem!

Abraço deste seu Freund,

Palavras Cruzadas é o título de uma série de cartas íntimas trocadas entre dois amigos. Um é alemão (Hans Hoffmann), residente em Krefeld, perto de Dusseldorf, e outro escocês (William Archibald), residente em St Andrews, na Escócia, mas ambos com casa em Portugal, país que os apaixonou. A correspondência tende a revelar um Portugal e um mundo vistos por Hoffmann na perspectiva da floresta, mas mais como árvore nas cartas de Archibald. Misturam nessa correspondência acontecimentos políticos, sociais culturais e económicos tanto portugueses como internacionais, revelando o seu cosmopolitismo. Usam de ocasional ironia em factos por vezes semi-ficcionados.