Entre aprender com o que acontece e apurar o que aconteceu, o país arde e as responsabilidades esfumam-se tranquilamente. Doze linhas são suficientes para descrever a governação e o regular funcionamento das instituições (democráticas).

António Costa e Eduardo Cabrita:
2017 – temos de aprender com o que aconteceu.
2018 – temos de aprender com o que aconteceu.
2019 – temos de aprender com o que aconteceu.

António Costa:
2020 – a pandemia suspendeu a aprendizagem.
2021 – temos de aprender com o que aconteceu.

António Costa e José Luís Carneiro:
2022 – o incêndio na Serra da Estrela deve ser estudado (temos de aprender com o que aconteceu).

Marcelo Rebelo de Sousa:
2017 – é preciso apurar “tudo, mas mesmo tudo, o que houver a apurar” (responsabilidades).
2018 – é preciso apurar responsabilidades.
2019 – é preciso apurar as causas (responsabilidades).
2020 – a pandemia suspendeu o apuramento (das responsabilidades).
2021 – é preciso apurar o que se passa (responsabilidades).
2022 – é preciso investigar (apurar) até ao fim (responsabilidades).

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As formulações ou as palavras que são utilizadas podem ser diferentes, mas a ideia por elas transmitidas é perene: no socialismo nada se conhece, nada se resolve, tudo se perde ou desconhece.

Entre aprender com o que acontece e apurar o que aconteceu, passamos anualmente pela mesma estupidez. Com os incêndios e não só. O SIRESP falha, as urgências não funcionam, o SNS definha, a colocação de professores é um caos, a banalização da autoridade é uma constante (esfaqueamentos e tiroteios são cada vez mais frequentes, esquadras da polícia nos centros da cidade fecham, populares cercam os postos da GNR), as forças armadas dispõem de menos meios, etc. Em suma, o país arde, literalmente também, enquanto as responsabilidades se esfumam tranquilamente.

Os abusos e os favorecimentos são uma constante. Gostaria de saber qual é o entendimento que o Presidente da República tem de “regular funcionamento das instituições democráticas”? Aceito que tenha um entendimento diferente do meu, mas o pagamento de favores através de uma porta giratória que implica o desperdício do dinheiro dos contribuintes não é algo danoso ao regular funcionamento das instituições? E da democracia?

Sobre o convite de Fernando Medina a Sérgio Figueiredo, todas as justificações foram dadas. Até a de que não haveria sobreposição funcional, apesar de o convite implicar a execução de funções que já eram feitas por organismos públicos. Porém, o melhor deste caso foi ter revelado qual é o entendimento que o Primeiro-ministro tem de gestão: opta por não resolver os assuntos. Quem foi que resolveu este problema? Sérgio Figueiredo, ao não aceitar o convite de Fernando Medina.

Eu classifico a gestão socialista como “coisa”. Ontem convidaram a comunicação social para demonstrar a eficiência do SIRESP e este falhou. Foram necessários sete minutos para comunicar. Que consequências terá no terreno uma falha de comunicação de sete minutos? E se se verificarem mais falhas de comunicação? O SIRESP, uma compra de António Costa, é a escolha perfeita para ilustrar a “coisa” socialista. Falha e não resolve os problemas. Tal como o Primeiro-ministro, responsável pelo Governo, mas que só gere o seu gabinete. O país não é problema dele. Efectivamente, António Costa não resolve nada. Limita-se a desperdiçar mais dinheiro e a esperar que as coisas se resolvam por si mesmas. O que raramente acontece.

Falando sobre o desperdício de dinheiro público, que pensam deste caso? A Lei de Programação Militar previa, entre os projectos estruturantes da defesa nacional, a aquisição de 6 Navios de Patrulha Oceânica (NPO), com um custo de 352 milhões de euros, contrato esse que foi elaborado quando o actual secretário de Estado da Defesa, Marco Capitão Ferreira, era o Presidente do Conselho de Administração da IdD – Portugal Defence. Na altura, o governo determinou que esta holding estatal recebesse uma comissão de cinco milhões de euros para gerir o “programa de aquisição” dos NPO’s, desviando a verba da Lei de Programação Militar, algo que está, e muito bem, diga-se, a ser objecto de questionamento pelo Tribunal de Contas. Era mesmo necessário que a IdD Portugal Defence fosse a entidade gestora? Se fosse a Marinha ou o Ministério da Defesa a gerir o processo, a compra dos NPO’s não ficaria 5 milhões mais barata? Ou, em alternativa, não seria possível utilizar esse dinheiro na compra de mais equipamento para as Forças Armadas? É muito estranho que a nota explicativa do OE2022 refira a promoção da economia de defesa, mas que não considere a poupança e a eficiência na gestão para esse fim.

Segundo a “coisa” socialista, o orçamento é maravilhoso. Infelizmente, a execução é miserável. Confrontados com a realidade que vivemos, é indesmentível que com os socialistas Portugal atingiu um nível de corporativismo inédito. Quais são os efeitos no regular funcionamento das instituições?

Dito isto, não é difícil perceber quem não aprende. A lista é liderada por António Costa. Quanto ao apuramento, nada se sabe, nada se conhece, tudo se perde ou desconhece. Que o diga o Presidente da República.

Post Scriptum – não entendo porque não contratam obstetras e ginecologistas por ajuste directo? A solução milagrosa socialista não serve para as urgências? Ou as urgências para que serve o favorecimento socialista exigem especificidade adicional?