Há 9 meses o Observador publicou um texto meu intitulado “O Brexit do nosso descontentamento”. Longe estava eu de imaginar que passado este tempo o título então utilizado era tão premonitório.
O Brexit está num labirinto com solução desconhecida. A incompetência da primeira-ministra May e dos deputados britânicos levaram a esta situação. E a hipótese de adiamento da data de saída está agora em cima da mesa.
Gosto muito do Reino Unido, é o nosso aliado mais antigo, vivi lá durante alguns anos e até coloquei o “Big Ben” na minha página do “facebook” (apesar de não a usar muito) porque é o símbolo da democracia e da liberdade.
Mas os problemas dos britânicos não têm de ser os problemas dos portugueses. O que se passa agora no Reino Unido interessa-me porque é uma forma de ver a democracia funcionar com todas as suas imperfeições. Mas o que lá se vai passar depois da saída apenas aos britânicos diz respeito.
A visão geral na Europa é que deve ser o Reino Unido a resolver o problema que criou. Não concordo. O que me preocupa seriamente são os efeitos negativos da saída nas economias europeias e o que me interessa enquanto português é o que é que a UE está a fazer para os prevenir ou minimizar.
Esta deveria ser também a preocupação dos responsáveis europeus desde o início do Brexit. A melhor forma de a abordar era, sem qualquer dúvida, facilitar ao máximo a saída dos britânicos de forma a prejudicar o menos possível os restantes países.
Mas não, a opção foi exactamente a contrária. Os responsáveis europeus resolveram dificultar a saída, dividindo o acordo em dois momentos (saída e relações pós-Brexit) para prolongar a incerteza e alimentar o risco, agora cada vez maior, de ter os países da UE envolvidos nesta confusão que se tornou o Brexit.
Portugal não deveria ter de sofrer com as opções dos britânicos. Mas infelizmente parece cada vez mais certo que a incerteza vai continuar a aumentar, e com ela o risco de se gerar um forte efeito negativo da saída do Reino Unido.
O processo do Brexit deixa-nos assim uma importante e preocupante lição. Tal como o Euro se revelou um poço sem fundo e sem corda para se de lá sair, o Brexit está a demonstrar que também a UE é uma prisão de onde ninguém pode sair porque a sua chave desapareceu. A consequência é que as saídas, quando as houver, serão feitas à bruta e com um custo grande para as populações.
PS. Uma das coisas que mais me espanta neste processo é a atitude suicida da Irlanda, que será de longe o país mais prejudicado com o Brexit mas que, na ânsia de conseguir juntar a parte Norte da ilha, parece estar disposta a hipotecar o bem estar da sua população.
Director do Gabinete de Estudos do Ministério da Economia
O texto reflecte apenas a opinião do autor