A falibilidade do ser humano é facto assente. Assumindo que nada sabemos, os erros por nós cometidos traduzem-se nas necessárias aprendizagens da vida. É natural que na política se erre também, mas quando os erros se tornam cada vez mais constantes, algo não está bem e é assim que os políticos constroem o seu caixão político.

Na política não há meios-termos, ou se está muito bem, nos píncaros da popularidade, ou se está muito mal, sofrendo-se as mais duras críticas chegadas de todos os lados. O caixão político constrói-se primeiro devagar, com um grande erro inicial que se desculpa pelo percurso de excelência antes percorrido. O segundo erro já é recebido mais criticamente e com menos condescendência. O terceiro já é uma grande martelada nos pregos que seguram o caixão. E, por falar em marteladas, um grande exemplo de uma pessoa que consistentemente constrói o seu caixão é o Presidente Marcelo.

Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito Presidente da República de Portugal com uma grande maioria, mas também já com uma grande legião de descontentes e que votavam no mal menor. O primeiro grande passo para a construção do seu caixão foi a maneira como lidou com Pedrógão Grande, com promessas feitas que o Governo nunca cumpriu. Desde então, o reinado do “presidente das selfies” tem vindo a perder carisma e popularidade, enredado numa mediocridade que não favorece ninguém, nem Portugal, nem os Portugueses, nem o próprio Marcelo.

Após a sua reeleição, com a sua legitimidade política reforçada, Marcelo teve um vasto espaço de oportunidades para brilhar e recuperar o charme perdido. Mas, apesar de Portugal, por um lado, e de ele próprio, por outro, muito necessitarem disso, optou por não o fazer.

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Neste momento, Portugal singra vacilante pelas águas rápidas de um rio socialista que parece seguir perdido no rumo e na orientação. E Marcelo, numa indiferença latente perante tudo o que vai acontecendo, parece estar a habituar-se paulatinamente a este registo laxista que afecta diariamente Portugal e os portugueses.

Durante a recente visita oficial ao Brasil, a martelada de Marcelo nos pregos do seu caixão foi tão grande que nem é preciso saber-se alguma coisa de relações internacionais e protocolos para se perceber que foi uma actuação vergonhosa.

Em vésperas de eleições no Brasil, o Presidente da República de Portugal não pode numa visita oficial reunir-se com um previsível candidato, suspeito de crimes e opositor ao actual presidente brasileiro. Ao desconvidar Marcelo, Bolsonaro esteve muito bem, porque a audácia do presidente português demonstrou uma falta de respeito que em nada beneficia as relações entre Portugal e o Brasil, principalmente numa altura em que têm cada vez mais surgindo divergências entre os dois países.

Mas, para não falar só deste acontecimento, também há diversas coisas pequeninas que contribuem para o caixão político de Marcelo.  Apesar de se dizer que o Presidente também é uma pessoa normal, isso não é verdade. Ser Presidente da República nada tem de normal, é, pelo contrário, extraordinário.

Parece-me pouco digno que o Presidente de Portugal dê entrevistas para a televisão de tronco nu ou que dê beijinhos em barrigas de grávidas. Gostava de ver o que diziam as pessoas que normalizam estas situações se víssemos a Rainha de Inglaterra a dar uma entrevista de biquíni…

Já todos sabem o que se diz sobre a mulher de César. Mas eu acrescento que ao Presidente da República não basta ser Presidente da República. Também tem de parecer. Até porque a entrega à causa pública é uma actividade nobre e maior, exigindo um registo de presença que esteja em linha com a representação das pessoas que democraticamente nos escolheram.

A época marcelista está mesmo a chegar ao fim.