Uma das escolhas tem a ver com a visão para a economia do país. O Chega tem que escolher se está ao lado do sector privado, dos empresários e de quem cria riqueza, ou se quer ser apenas mais um partido com um discurso económico populista contra os grupos económicos, juntando-se ao PCP, ao Bloco e até ao PS.

Esta questão fica para uma outra oportunidade. Hoje, quero tratar de uma escolha política. O Chega vai eleger deputados europeus no próximo ano. Após as eleições europeias, quando os seus representantes chegarem a Bruxelas, o partido terá que escolher a bancada onde se vai sentar. O partido de Ventura terá duas opções: a bancada do ECR (os conservadores europeus), ou a bancada do ID (a direita mais radical). No primeiro, sentam-se o partido de Meloni, o Vox e os Democratas da Suécia. No segundo, estão Marine Le Pen, Salvini e o AfD.

Há uma tendência para colocar todos estes partidos na mesma categoria, e é verdade que partilham políticas comuns, mas há igualmente diferenças cada vez mais importantes. O tema mais significativo que os separa é a posição em relação à guerra na Ucrânia. Meloni e o Vox são partidos a favor da Aliança Atlântica, estão ao lado da Ucrânia e atacam a agressão da Rússia. O Chega tem a mesma posição. Le Pen e Salvini são ambíguos, sem defenderem Putin, também não o atacam como um ditador que não respeita os valores democráticos e liberais. A AfD é ainda pior com muitos dos seus membros a apoiarem a Rússia.

A posição em relação à guerra na Ucrânia é um daqueles momentos definidores da natureza política de um partido ou de um regime. Não há meio termo. Ou se está do lado de um país agredido, que quer construir uma democracia e fazer parte da Europa. Ou se está ao lado de uma ditadura agressora que pretende o fim da União Europeia e da Aliança Atlântica. O que está em causa é demasiado importante para se aceitar neutralidades. O Chega terá que escolher entre sentar-se com aqueles que defendem uma Europa atlântica e democrata, ou entre aqueles que “compreendem” a ditadura russa.

Mas a escolha do grupo parlamentar em Bruxelas também vai mostrar se o Chega quer ser apenas um partido de protesto, ou se se quer transformar num partido de poder. Meloni é PM de Itália e, muito provavelmente, no próximo ano após as eleições europeias, o Vox estará no governo de Espanha em coligação com o PP. Os Democratas suecos também fazem parte da maioria que governa a Suécia.

É igualmente muito provável que o grupo dos Conservadores, onde estão o partido de Meloni e o Vox, se vá aliar ao PPE, o partido do PSD, durante a próxima legislatura do Parlamento Europeu. A escolha que o Chega fará no próximo ano em Bruxelas indicará muito sobre a sua opção no futuro em Portugal entre a responsabilidade política e o populismo demagógico e irresponsável.

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