Reuniões para mim, aulas para eles, mails para ela, aguarelas para elas … e este modelo passou a ser o dia normal de uma semana em casa de uma família de quatro filhos, dos quatro aos 17 anos. Reciclagem de computadores, alargar a mesa da sala de jantar, criar postos de trabalho em vários locais da casa, definir  horários e distanciamento entre postos … e mais algumas ações de preparação, foi o início.

Caso alguém externo à família entre nesta casa entre as 9:30 horas e as 18 horas (com alguns, por vezes, a iniciar às 5 horas e a prolongar até às 23 horas) pensaria certamente que tinha entrado num escritório empresarial, com dois diretores a chefiar equipas de trabalho e com desenvolvimento de projetos a clientes.

Não sendo uma verdadeira empresa, assemelha-se. Vejamos.

A gestão de operações e projetos está a ter uma base das melhores práticas empresariais, baseadas em metodologias Ágeis e SCRUM. De forma simplificada, há ciclos/sprints semanais planeados ao fim de semana, tendo por base o conjunto de requisitos (backlog) existentes, isto é, necessidades de desenvolvimento de trabalhos, de aulas e reuniões. Adicionalmente, existem reuniões de equipa ao final do dia, em pleno jantar, onde se analisa o que foi feito nesse dia, o que correu bem e menos bem e o que será o realizado em detalhe no dia seguinte.

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A gestão logística, quer na relação com fornecedores, quer na relação com os clientes finais, é de semana para semana cada vez mais otimizada usando tecnologias para suportar os ganhos de eficiência. As compras estão já num patamar de otimização onde a integração digital (compras online e comunicação de necessidades via WhatsApp) representa já mais de 80% das aquisições, mesmo para fornecedores de pequena dimensão. Há ainda o minimercado, que por uma questão de garantir a subsistência do pequeno comércio do bairro, se mantém em modelo tradicional de aquisição, isto é, o da deslocação pessoal ao fornecedor.

Na relação com os vários stakeholders, sejam clientes ou parceiros, isto é, sejam colegas ou clientes das “verdadeiras” empresas, professores, familiares ou amigos, todos os processos estão transformados digitalmente. Ou seja, Zoom, MS Teams, Meet, email ou redes sociais são as plataformas de integração e interação.

Mas há também coisas que não mudaram neste modelo de empresa mais digital versus modelos de empresas mais tradicionais: a gestão de recursos humanos (a coisa mais difícil em qualquer empresa). Com o passar dos dias, criaram-se algumas dinâmicas sindicais e reivindicativas dos trabalhadores na luta por melhores condições de trabalho, fortes necessidades de gestão de conflitos entre os vários trabalhadores e aposta na criação de dinâmicas motivacionais das equipas.

Há muito tempo que oiço dizer que “gerir finanças de uma empresa é como gerir o orçamento familiar”, mas a realidade é que pelo facto de estarmos retidos em casa, cada um a trabalhar na sua atividade e no seu departamento (e não apenas os adultos), estamos atualmente a estender o conceito a toda uma dinâmica de gestão empresarial da “porta de nossa casa para dentro”.

Como em tudo, existirão vantagens e desvantagens, as quais nos aperceberemos de forma mais aprofundada apenas daqui a uns meses ou anos. Mas uma coisa é certa: ficamos com uma dinâmica de grupo familiar mais coeso e de compreensão do que são as realidades profissionais e educativas de cada um.