Acabados de sair de uma revolução que muitos em Abril de 1974 quiseram que fosse uma Revolução (à francesa), mas que a maior parte dos portugueses no 25 Novembro de 1975 assegurou que fosse apenas uma (gloriosa) revolução, Portugal elegeu, em 1980, apenas 6 anos depois de Abril, a Aliança Democrática (AD), um projecto político de centro direita alicerçado numa ideia libertadora e modernizadora da sociedade portuguesa.

Mais recentemente, em 2011, depois de 7 anos de governação socialista, com a duplicação da dívida pública, a quase insolvência das contas públicas e o humilhante pedido de assistência externa, foi a convergência útil, pragmática, responsável e competente do PSD e do CDS que deu a resposta que o país urgentemente necessitava. Seguramente a braços com as suas diferenças, com os seus normais conflitos e também com os seus erros, foram o PSD e o CDS que conseguiram cumprir o pesado caderno de encargos legado pelo governo anterior do Partido Socialista e que conseguiram uma “saída limpa” e antecipada dos nossos credores da governação do país. Foram estes partidos que inverteram positivamente o ciclo de crescimento, que criaram condições para a saída do procedimento de deficit excessivo e que relançaram a economia nacional.

Hoje, a convergência prudente e moderada num conjunto muito alargado de temas fulcrais da governação que é possível encontrar entre um certo PSD, um certo CDS, uma certa Iniciativa Liberal (IL) e tantos independentes, encontra eco num muito alargado segmento do eleitorado, tantas vezes às avessas na hora de votar, tendo de escolher, a contragosto, entre pelo menos um destes três partidos, quando não a abstenção. A não existência de um projecto agregador, mobilizador e sinergético destas forças partidárias, pelo qual a sociedade clama, só nos traz uma certeza: a perpetuação, como pivot incontornável do sistema eleitoral português, do Partido Socialista no governo. Ora, para quem quer construir uma alternativa de direita a esta visão

socialista do Estado, esta falta de entendimento, regada, como gasolina sobre a fogueira, pelas tentações das diatribes identitárias, não lhe parece augurar grande futuro.

Recentemente em Espanha uma análise feita pelo ABC mostrava que, caso as forças políticas de direita unionistas tivessem concorrido juntas, e avaliando simplisticamente apenas o somatório dos seus votos, o país teria uma maioria absoluta destas forças e a estabilidade governativa que não logra alcançar há anos. Hoje não estaria a assistir a acordos entre o PSOE e a Unidas Podemos, dependentes que ficam das forças mais activamente destruidoras de Espanha, os separatistas Catalães e os herdeiros dos terroristas da ETA.

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Em Portugal, por seu turno, sem uma estratégia concertada, sem nenhum efeito sinergético entre si, com discursos aqui e ali divergentes no tom e na direcção, e já nalguns casos com algumas crises internas demasiado visíveis, o resultado da votação de PSD, CDS e IL nas últimas legislativas teria dado a esta “coligação”, à escala nacional, mais 10 deputados, tendo o PS obtido menos 8 e a CDU menos 2; ficando apenas a cerca de 120.000 eleitores do resultado do PS.

Ora, num contexto político marcado pela (i) polarização e fragmentação do eleitorado, em linha com as tendências no resto da Europa, (ii) por um sistema eleitoral, com o método de Hondt, os círculos eleitorais com os seus pesos distintos e a inexistência de um círculo nacional que aproveite os votos que não logram eleger nenhum deputado nos diversos círculos, (iii) onde o Partido Socialista ameaça tornar o sistema democrático português num single-party system, subalternizando os restantes partidos a meros instrumentos de suporte parlamentar, (iv) e onde é tão árduo construir uma sociedade liberta do jugo estatal, alicerçada no mérito, promotora de crescimento económico e garante de protecção dos mais vulneráveis, sem preconceitos de natureza ideológica quanto à melhor forma de o fazer, parece razoável reforçar o repto de convergência de Conservadores, Liberais, Democratas-Cristãos e Sociais Democratas (não socialistas). Sempre que os partidos o conseguiram, o eleitorado respondeu positivamente.

Dito isto, em plena discussão de lideranças no PSD, no CDS e na IL, seria caso para exigir, na lista de critérios para a definição do perfil dos candidatos, o critério 5.7: a disponibilidade para uma coligação eleitoral e para a construção de um programa equilibrado e útil à sociedade portuguesa, alternativo ao socialismo. 5.7 porque é esse um dos méritos do Movimento 5.7 – Nascidos a 5 de Julho: criar uma boa vontade, uma plataforma de entendimento, pragmática e útil ao eleitorado, que parece ser a única saída à vista para a situação em que a direita se deixou acantonar. Tudo o mais, pode bem ser mais do mesmo.