A tendência para o envelhecimento da população está confirmada por dados de organismos nacionais e internacionais. Portugal é o quinto país mais envelhecido do Mundo e estima-se que até final da década ocupe a terceira posição.

A organização da sociedade, tanto nas instâncias do trabalho como do lazer, da saúde, da educação e dos equipamentos sociais será afetada por uma população com uma estrutura etária previsivelmente traduzida, nos próximos dez anos, por uma relação de 20% por segmento até 20 anos de idade, para mais de 30% por segmento acima dos 60 anos.

Esta tendência será acompanhada de outras alterações, como a da distribuição assimétrica da população, com grandes concentrações no litoral e vastas áreas do interior em processo de profunda depressão demográfica, acentuada sobretudo na base da pirâmide de distribuição etária. Se, a isto, juntarmos o êxodo da população jovem ocorrida nos últimos anos, na procura de condições de vida e de empregabilidade que o País não conseguiu garantir, estamos perante um problema de enormes dimensões.

É inevitável que à mudança de estrutura demográfica da população correspondam mudanças de atitudes, nos valores e nas representações do desporto, com naturais reflexos na estrutura e dinâmica do tecido desportivo. A procura desportiva será, inevitavelmente, um reflexo dessa transformação no plano quantitativo e qualitativo.

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Compreender estas tendências é um primeiro passo para encontrar soluções para a expressão e o desenvolvimento do desporto. Daí que importe reconhecer os novos significados que o desporto representará para todos, os praticantes e os não-praticantes, os beneficiários e os contribuintes do investimento social que o próprio desporto constitui e implica, e as respetivas consequências em matéria de políticas públicas.

A compressão demográfica tenderá a penalizar, de um modo mais evidente, a acessibilidade à prática desportiva de excelência, quer pelas dificuldades resultantes de um quotidiano urbano pouco favorável em termos temporais e espaciais, às rotinas da preparação desportiva orientada para o rendimento, quer pelo isolamento dos atletas que, nas regiões do interior, não encontrarão as condições de organização competitiva que estimulem a emulação e a permanência no regime de treino. Por outro lado, a evolução sociológica que a família sofreu, consequência de novos modos de vida e de sociabilidade espelhada na redução quantitativa do número de crianças e jovens a par de um crescimento de formas de jogo eletrónico e práticas passivas, criará dificuldades acrescidas à captação desportiva em qualquer das suas dimensões.

A procura desportiva acompanhará as alterações ocorridas na matriz identitária que moldou o conceito de desporto e o novo perfil demográfico. A emergência de um desporto ao serviço não só “de todos” — um conceito algo abstrato — mas, doravante, também ao serviço de um segmento afluente cada vez mais representativo — o idoso — é uma condição incontornável para a reformulação de critérios e a adoção de medidas de apoio ao envelhecimento.

O edifício desportivo que se antevê adequado a esta condicionante demográfica terá de prever uma valência multigeracional, no sentido de alcançar soluções ajustadas a todos os segmentos etários da população, envolvendo instituições públicas e privadas e, especialmente, o movimento associativo, as autarquias e as instituições de solidariedade social.

Esta tendência demográfica, sabemo-lo, terá profundos efeitos na sustentabilidade do sistema de saúde e de segurança social, e o papel que o investimento desportivo pode ter nestes domínios não é politicamente despiciendo. Mas, para conferir escala ao seu potencial de criação de valor económico e social, as políticas públicas carecem de ajustar o seu modelo às circunstâncias e dinâmicas sociais atuais.

Neste enquadramento é incompreensível que um documento que procura preparar Portugal para a próxima década (Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica para a década,2020/30) se limite a prever “o desenvolvimento de uma cultura nutricional e de atividade física, que deve ser pilotado pela rede de Centros de Saúde, e que comece nas escolas e se propague ao conjunto da sociedade”. Se limite, ao fim e ao resto, a uma vulgaridade.

O desporto é um dos fatores diretos e indiretos com maior potencial para, numa abordagem preventiva, reduzir os encargos em despesas de saúde e prestações sociais. Representa um investimento importante dos poderes públicos junto das crianças e jovens, constituindo-se assim como um apoio à natalidade, diminuindo os encargos das famílias. Sabemos também que as políticas públicas, orientadas numa tal abordagem, tendem a ser mais eficazes e menos onerosas para o erário público do que aquelas que se fundam numa perspetiva reativa ou repressiva perante comportamentos de risco.

Sabemos também que existe uma ampla base de evidência devidamente documentada sobre a criação de valor e impacto económico de tais orientações estratégicas e políticas, que centram o desporto nos processos de desenvolvimento estrutural dos países, na eficácia da resposta aos constrangimentos gerados pelo envelhecimento e polarização geográfica da sua população.

O que esperam as políticas públicas — quem as planeia, decide e implementa — para responder a estes desafios?