No ano de 1991, a 24 de Agosto, a Assembleia da República da Ucrânia declarou independência face a Moscovo, pondo fim à designação de União Soviética ou URSS. O colapso do império soviético logo deu lugar ao império russo, que nas suas essências assentam ambos na escravização ou prisão dos povos.

Durante os 31 anos da Independência, a Ucrânia não conseguiu livrar-se da propaganda do Kremlin e até 24 de fevereiro de 2022 cerca de um terço a metade dos ucranianos não valorizavam em particular o significado desta data, apesar do grande sacrifício dos nacionalistas ucranianos ao longo da história que heroicamente lutaram contra potências invasoras e de regimes totalitários sejam, a União Soviética ou a Alemanha Nacional-Socialista, mantendo sempre o foco na luta pela Ucrânia independente.

Há que sublinhar que a decisão da declaração de independência da Ucrânia em 1991, com uma Assembleia da República da Ucrânia composta na sua maioria por comunistas, não deixou de corresponder a uma decisão que sempre foi desejada pelo povo ucraniano, a de sair da URSS, sendo uma natural consequência do colapso da economia e da ideologia do Estado soviético.

Enquanto muitos celebraram efusivamente a independência da Ucrânia, uns poucos, naquela altura, aperceberam-se de que a luta pela independência não teria ainda terminado e foi assim que nas terceiras eleições presidenciais da Ucrânia livre, em 1999, o candidato do “Movimento  Popular da Ucrânia”, Vyacheslav Chornovil, terá alegadamente morrido num acidente de viação seis meses antes das eleições, resultando daí a vitória do presidente Leonid Kuchma, com inclinações pró-russas, vencendo assim tacitamente o candidatado do Partido Comunista da Ucrânia que viu neste golpe uma forma de ascender, dando assim reinício ao processo de aproximação à Rússia.

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Teve então início um dos momentos mais negros da história da Ucrânia livre, com o início do crescimento e domínio dos oligarcas pró-russos e a vaga de corrupção na Ucrânia, causando o êxodo de centenas de milhares de ucranianos para todo o mundo ocidental, incluindo para Portugal.

Foi então que no ano de 2004 os ucranianos, fartos dos abusos por parte dos políticos e do caos na governação, saíram às ruas para se bater por uma nova escolha, conseguindo com sucesso defender a nova escolha do presidente pro-ocidental Viktor Yushchenko.

Vencida a batalha, mesmo assim a maioria dos ucranianos naquela altura não acreditava que o principal travão ao desenvolvimento da Ucrânia era a Rússia e a sua influência na Ucrânia que indirectamente controlava ainda as mais importantes instituições do Estado ucraniano.

Esta “tolerância” dos ucranianos em relação à Rússia levou de novo os eleitores ucranianos a escolherem novamente um presidente pró-russo, Victor Yanukovich, que foi autor da decisão de não aproximar a Ucrânia da União Europeia e de outras organizações, como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que já contam com membros Observadores Associados, nomeadamente da Geórgia, Turquia, Hungria, República Checa, Eslováquia ou Reino Unido.

Pouco tempo depois, de novo, o povo ucraniano saiu às ruas, barricando-se e, a custo de combates mortais, defendeu a sua escolha de ser livre de ter uma Ucrânia livre.

Este grito de liberdade e de independência da Ucrânia fez o inquilino do Kremlin, criminoso de guerra e de hediondos crimes contra a humanidade, Vladimir Vladimirovich Putin, perder a paciência por perceber que não conseguia facilmente controlar os ucranianos e que estes constituem uma ameaça forte à manutenção do império russo, podendo constituir no rastilho para os outros povos ocupados por Moscovo. Foi então que deu início à invasão militar direta de 2014.

Quem não acompanhe com frequência a política ucraniana ou a política regional poderá pensar que todas estas alternâncias de poder poderiam ser naturais ou até espontâneas, mas não o foram. Eram consequências directas dos planos B, C ou D de Vladimir Putin, colocados em marcha para tentar reganhar o poder de controlo do Estado Ucraniano e por conseguinte dos seus valiosos recursos e posição geoestratégica. O plano de Putin teria, no seu objetivo final, o controlo político, económico e militar da Rússia desde Vladivostok até a Lisboa e pressupunha que sem o controlo, domesticação ou até a eliminação do factor ucraniano nunca conseguiria realizar este objetivo.

Os ucranianos foram por natureza rebeldes contra qualquer totalitarismo durante toda sua história milenar, dando nome aos mais nobres e corajosos combatentes da Europa do Leste, os Cossacos.

A primeira república ucraniana enquanto Estado foi proclamada em 1917, sobrevivendo até 1921 devido ao início da guerra dos russos e União Soviética contra o novo Estado nacionalista ucraniano e no mesmo formato de agressão que se sucede nos dias de hoje. E ainda nem existia a alegada desculpa da NATO. A Ucrânia sucumbiu sem hipóteses, não teve na altura os apoios que tem agora e com a agravante de os camponeses ucranianos acreditarem na propaganda dos comunistas russo-soviéticos de que iriam ter suas terras para cultivo se não apoiassem o governo central da Ucrânia independente. O resultado foram os sete milhões de mortos à fome, o conhecido “Holodomor” ou a grande fome de 1932-33, para a eliminação do povo ucraniano e da sua identidade nacional.

Toda a história provou que os ucranianos não podem acreditar na boa-fé ou boas intenções russo-soviéticas, pois não é a boa vizinhança que estes pretendem, ou a paz, mas sim a paz debaixo da anexação russa e a eliminação completa da resistência da Ucrânia livre e independente.

Os russos autodenominam-se pastores, são territoriais, a expansão do seu império está incrustado a nível genético na sua mentalidade e todos os não russos nas vizinhanças são tomados por inimigos ou ameaças.

Infelizmente, hoje estamos a pagar pelo mesmo erro histórico. Desde o ano de 2014, quando foi anexada a Crimeia e ocupada o Donbass, a população ucraniana em geral não acreditava numa guerra total com a Rússia, foi assim que o Presidente Zelenskyi ganhou as eleições com 73 por cento e com um programa político assente no diálogo com Putin e na crença de que a Ucrânia tinha de terminar o conflito pela via diplomática.

Em 2022, oito anos mais tarde, de novo a destruição total de dezenas de cidades do Leste da Ucrânia, bombardeamentos diários, massacres, dezenas de milhares de mortes de civis, mortes de centenas de crianças, violações de mulheres e homens ucranianos, e o abandono do país por mais de 10 milhões ucranianos.

Será que é desta vez que os ucranianos vão perceber a importância do Dia da sua Independência Nacional? Da sua Língua, dos seus Costumes, das suas Tradições e da sua História?

Quando cheguei a Portugal senti logo o valor que os portugueses dão aos seus símbolos nacionais, enquanto país livre e independente, com as suas próprias preferências políticas. Se Portugal fosse vizinho da Rússia, já os portugueses teriam sido declarados pelos russos como nazis, por este seu orgulho nacional. Mas é graças a este sentimento dos portugueses que Portugal é há séculos um país independente.

Não posso deixar de recordar algumas palavras de solidariedade de um grande poeta português, José Valle de Figueiredo, que foi autor do poema de apoio da resistência checa contra a invasão soviética “Requiem por Jan Pallach” que já dizia:

Eles vieram das estepes e disseram:
É proibido morrer pela Pátria,
é proibido resistir à opressão,
é proibido combater a ocupação. (Refrão)
É proibido amar os campos verdes do seu país.
É proibido amar o verde da esperança.
É proibido amar a Esperança
 
Estás proibido, Jan Palach!
És proibido, Jan Palach!
Estás proibido de existir, Jan Palach!

Terminando José Valle de Figueiredo com a frase “esta nossa terra será livre, e nela crescerão livres as virgens, as mães e os filhos e nela crescerão livres as flores”.

Gostaria que os ucranianos aprendessem este espírito português de independência, liberdade e de solidariedade para com os povos oprimidos. Amar o seu País, não significa odiar os outros. Amar o seu País, significa acima de tudo amar e respeitar os seus símbolos nacionais pois o sentido de identidade nacional é a arma mais poderosa para defender a Independência e a Liberdade de todo um Povo que já morreu, que vive e que haverá de nascer.

Slava Ucrânia!

Glória a Portugal!