O escândalo da projecção televisiva dos resultados da eleição dos deputados para o parlamento da Madeira residiu no desplante sem vergonha com que os profissionais dos programas da SIC e da CNN – jornalistas e comentadores – desvalorizaram desde o primeiro minuto a enorme diferença de votos entre a aliança PSD-CDS e o PS com uma presumida sondagem à boca de urna promovida pela Universidade Católica.

Ainda no decorrer da votação, todos os «opinantes» da TV insistiam repetidamente na distância atribuída pela tal sondagem a qualquer «maioria absoluta» por parte da lista PSD-CDS, quando esta já rapidamente se destacara do PS e viria, afinal, a obter mais do dobro de votos que o PS, ainda que tendo de se contentar no fim do dia com menos um deputado do que a soma dos dois partidos quatro anos antes.

O resultado da aliança viria, pois, a ser no passado domingo 23 deputados relativos a 43% dos votantes em vez dos 24 adicionados pelo PSD e o CDS (21+3) há quatro anos! E era esse deputado a menos que os agentes da propaganda televisiva não se cansavam de comparar com a actual «maioria absoluta» do PS, arrancada aliás com pouco mais de 40% dos votos.

Ao mesmo tempo que empurravam com o pé para debaixo da mesa a fraquíssima votação do PS na Madeira, os locutores e comentadores da televisão silenciaram o que se estava a passar com o PS ao cair de 19 para 11 deputados enquanto a actual lista única do PSD+CDS somou praticamente o mesmo número de mandatos obtidos há quatro anos! Entretanto, enquanto António Costa dispensava comentários à população portuguesa no domingo eleitoral, os canais de televisão repetiam cansativamente que era muito mais grave a «direita unida» ter perdido um deputado do que o PS perder oito dos deputados eleitos em 2019 e consolando-se apenas com um do PC e outro do BE…

O segredo desse incessante discurso dos profissionais da comunicação social ao repetirem durante horas e horas seguidas a «falta» de um deputado da coligação PSD+CDS dificilmente pode ser encarado à margem desse facto extraordinário de o governo socialista não ter hesitado, por ocasião da pandemia, em remunerar, com escassíssimas recusas que se saibam, os órgãos de comunicação social. Com efeito, tanto quanto se sabe, esse governo continuaria a financiar há perto de quatro anos a dita comunicação social a fim de «ajudar» todos os órgãos de propaganda de alguma dimensão com a honrosa excepção do «Observador»…

Imagino que poucas serão as pessoas, nomeadamente os madeirenses, que se deixaram enganar pelas sondagens feitas à saída das urnas e, sobretudo, pelos programas de televisão com que nos massacram todas as noites através das chamadas «notícias» e neste caso lamentável dedicou horas e horas a repetir a mesma escandalosa «narrativa»… Numa palavra, ficámos cientes do que eram capazes tais «órgãos».

Do princípio ao fim da contagem dos votos, os ditos «órgãos» não operaram um minuto sem insistir nas alegadas probabilidades de perda de votos por parte do PSD e do CDS perante números escandalosamente inflacionados que aproximavam o PS de percentagens imaginárias vizinhas dos seus anteriores 19 deputados, os quais acabaram por se ver reduzidos a pouco mais de metade (11)! Entretanto, a aliança PSD+CDS perdeu apenas um deputado que já foi facilmente cooptado entre um dos pequenos partidos locais.

Tal experiência madeirense não deixará de contribuir para relançar a aliança demo-cristã, que fora afastada das últimas eleições legislativas pelo PSD de Rui Rio, com esta expectativa madeirense de 43% superiores à escassa percentagem de 41% obtida com dificuldade pela actual «maioria absoluta» do PS… Na mesma linha, combinando igualmente a dispersão eleitoral de inúmeros pequenos partidos encabeçados pelo PSD e o CDS, desde o ano 2000 que tal combinação, cunhada como sendo de «direita», afastou a ditadura socialista e apoderou-se da assembleia legislativa dos Açores.

Entretanto, os manipuladores televisivos da informação eleitoral omitiram o período durante o qual o PS viu seriamente reduzida a sua representação madeirense a praticamente metade dos mandatos obtidos quatro anos antes de 19 para 11. A mesma falta de informação relevante foi omitida pelos «habituais do controle eleitoral», fazendo total silêncio acerca do crescimento do movimento local Juntos pelo Povo (JPP), que passou de 3 a 8 deputados, bem como do inevitável CHEGA, que se estreou na Madeira com 4 deputados, e finalmente um representante da Iniciativa Liberal e outro do PAN.

Uma vez mais, os canais e os comentadores de televisão disseram a respeito destes novos intervenientes que substituíram a habitual «esquerda de serviço»! Outro facto deliberadamente ofensivo para as actuais candidaturas ao parlamento madeirense foi igualmente utilizado pelos «donos da televisão» ao sustentarem o despeito alimentada pela TV ao dar a palavra ao antigo «dono» da Madeira, Alberto João Jardim. Adivinharam com certeza!