Este ano nasceu o quarto unicórnio fundado por Portugueses. É sem dúvida um motivo de orgulho, especialmente se considerarmos que o número de empresas tecnológicas avaliadas em mais de mil milhões de dólares, é um universo relativamente pequeno, em abril de 2021 contavam-se apenas 70 unicórnios em toda a Europa.

Mas estes dados positivos não devem esconder as fortes limitações que persistem à transformação digital em Portugal.  A atual fase de transição digital é altamente diferenciadora, porque gera ganhos enormes para os que estão na linha da frente da inovação, mas penaliza muito os que ficam para trás. Segundo um estudo da OCDE, as empresas que estão na ponta da tecnologia, tiveram ganhos de produtividade de quase 20% entre 2008 e 2016. Neste mesmo período, as empresas com intensidade digital média tiveram um ganho de produtividade de 5% e nas indústrias com baixa intensidade de digitalização, a produtividade desceu quase 3%.

Em Portugal, segundo o índice do Eurostat que mede a intensidade digital, cerca de metade das empresas Portuguesas tinha uma intensidade muito baixa (não ultrapassavam 3 numa escala de 0 a 10), enquanto na UE a percentagem de empresas com intensidade digital muito baixa era inferior a 40%, sendo que a UE já está atrasada face à Ásia e aos Estados Unidos.

Mais preocupante é que este fosso será cada vez mais difícil de ultrapassar, à medida que as novas tecnologias avançam para terrenos ainda mais complexos do ponto de vista do tratamento de dados, da inteligência artificial e de algoritmos de “machine learning”.

E o que é verdade para as empresas, aplica-se também aos indivíduos. Outro estudo da OCDE mostra que, entre 2013 e 2015 um aumento em 10% na utilização das tecnologias digitais gerava um aumento de salário de 3% em média na OCDE. Infelizmente, em Portugal o acesso à tecnologia e à educação para a transição digital tem-se revelado muito desigual. Na educação, em Portugal a percentagem de famílias desfavorecidas com competências digitais médias e elevadas é de apenas 10%, muito abaixo da média da UE de 21%. A dificuldade de acesso a competências digitais, agrava ainda mais o fosso entre os mais pobres e os mais ricos. Este é apenas um exemplo entre muitos da desigualdade persistente no acesso a competências, à tecnologia e até à infraestrutura digital no nosso país.

Por isso, quando celebramos o sucesso da inauguração esta semana do cabo ótico submarino Ellalink, que liga Sines a Fortaleza, no Brasil, reforçando a ligação digital entre os dois continentes, não podemos ignorar que, sem um enfoque das políticas públicas nas competências e o acesso das famílias mais pobres e das empresas mais atrasadas, os benefícios da transição digital para o bem-estar da maioria da população continuarão a ser uma miragem.

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