No meu último artigo, publicado nas vésperas dos debates televisivos, abordei os principais desafios de Portugal e desafiei a comunicação social a incentivar os líderes partidários a apresentarem as suas soluções para esses desafios, em vez de se deixarem enredar com temas menores ou com cenários de coligações.

Neste artigo, num registo diferente, farei uma caricatura das principais ideias expressas neste período pré-eleitoral, particularmente nos debates fast food a que assistimos nas últimas semanas.

Começando pela esquerda, o PCP e o BE apresentaram-se fiéis a si próprios. Em pleno 2022, num mundo competitivo, globalizado e tecnologicamente evoluído, continuam a defender uma economia planificada, dirigida por um estado todo poderoso, governado por um grupo de visionários capazes de decidir para onde devemos ir em praticamente todas as áreas da nossa sociedade e economia.

Continuam a agitar bandeiras com as quais todos concordamos, de melhores salários e empregos, de combate às desigualdades e à pobreza. Mas a história já nos demonstrou que o modelo que o PCP e o BE defendem não contribuiu para melhores empregos e salários. Porque querer distribuir sem ter fórmulas para criar acaba sempre por se tornar insustentável. Porque um Estado todo poderoso num País com uma economia fraca tende a tornar-se ineficaz e ineficiente, quando não corrupto. Porque o Estado não conseguirá corresponder sozinho aos desafios das alterações climáticas, da transição digital e do envelhecimento da população e precisará da indispensável colaboração da sociedade civil e dos privados para ultrapassar todos esses enormes desafios.

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Ao contrário do PCP e do BE, o IL tem a vantagem de apresentar exemplos de países que aplicaram o seu modelo com enorme sucesso. Mas está em Portugal e sabe que será difícil aplicar uma revolução liberal num País genericamente pouco liberal. Não só por ser irrealista, mas porque acarretaria enormes custos e confrontos sociais sem se ter a certeza se iria funcionar.

Não nego. Muitas das suas ideias são positivas, mas necessitam do contexto certo e das pessoas certas para serem implementadas com sucesso. Por exemplo, não podemos exagerar na redução da carga fiscal sem deixar claro onde se vai compensar a perda de receita no curto prazo (não basta atirar com a TAP para cima da mesa). Tal como não podemos querer implementar uma reforma liberal na saúde e na educação sem antes garantir um Estado forte na negociação e regulação, uma sociedade civil e empresarial bem preparada para herdar essas responsabilidades e uma concorrência plena e sã nesses setores socioeconómicos.

O PAN abraçou a nobre e urgente causa da defesa do ambiente, mas deixou-se contaminar pelo seu animalismo radical e por laivos de moralismo e demagogia. O caminho para a sustentabilidade faz-se mais com inovação do que com proibição. Faz-se com a agricultura e não contra a agricultura. Faz-se com as energias renováveis, mas assegurando uma transição energética que não comprometa a competitividade da nossa economia. Faz-se conjugando a sustentabilidade ambiental com o crescimento económico e com a melhoria generalizada dos salários. Faz-se de uma forma progressiva, garantindo os respetivos mecanismos de transição. Não se faz com uma revolução biológica, vegana e animalista.

Vamos ao Chega. Quando falamos do Chega temos de falar das características políticas de André Ventura. Não é apenas a sua má educação. É o aproveitando que faz de temas inusitados como a prisão perpétua ou a castração química de pedófilos. É a estigmatização dos ciganos. É a reabilitação do lema Salazarista, Deus, Pátria e Família. É o populismo de apresentar a redução do número de políticos e a desvalorização dos seus salários como uma das soluções para os nossos problemas. É falta de seriedade quando propõe medidas socioeconómicas que não jogam entre si, prometendo reduções substanciais de impostos e portagens, limitando-se a dizer, de forma enganadora, que serão compensados por cortes em observatórios, institutos e afins. Em suma, é o descrédito de um político com muito pouco tempo de vida política, que ambiciona crescer rápido e que está disposto a tudo para o conseguir.

Nos tempos que correm, falar do CDS passou a ser falar do seu contestado líder, Francisco Rodrigues dos Santos. Mas ninguém pode negar, o Chicão preparou-se, exaltou-se, calçou as luvas de boxe e foi a jogo com um brilhozinho nos olhos. Tentou reabilitar as bandeiras históricas do CDS, da defesa do mundo rural, dos idosos, das touradas, das forças de segurança e da direita católica e social. No dia 30 veremos se o CDS se vai tornar no partido da mota ou se vai continuar a ser o partido do táxi.

O Livre, o que dizer do Livre senão que Rui Tavares quer ser o arauto da esquerda ecológica e moderna, expelindo todos os slogans e ideias do pós-modernismo, entre os quais a semana de trabalho de quatro dias, o aumento do salário mínimo nacional para 1.000 euros até ao final da legislatura, as 35 horas semanais de trabalho e os 25 dias de férias com progressão até 2030 para as 30h semanais e os 30 dias de férias anuais, o rendimento básico incondicional e um novo pacto verde. Sonhar é bonito e não custa um cêntimo, já o mesmo não se pode dizer de algumas das propostas do Livre.

O PS vem a jogo com o orçamento de estado chumbado e abandonado pelos seus parceiros da geringonça, procurando o apoio do povo português para o passar. Pede a maioria absoluta e acena com uma coligação imaginária com o Presidente da República. Apresenta um conjunto de propostas de benefício limitado para vários quadrantes da nossa sociedade, entre os quais os pensionistas, a função pública e os jovens. Acredita que deve ser o Estado a influenciar e por vezes até a ditar a estratégia económica do Pais, como se viu no PRR e na sua seletiva política de incentivos fiscais. Finge que o que dá com uma mão não tira com a outra, via impostos indiretos. Finge que uma potencial maioria absoluta não causaria mais danos à independência das nossas instituições democráticas, quando todos nos lembramos das controversas nomeações para a Procuradoria Europeia, para o Tribunal de Contas, para o Banco de Portugal e para tantos cargos de direção da administração pública portuguesa.

Mas, alimentado por uma máquina de propaganda experiente e implacável, lá vai cantando os seus cantos de sereia, sobre qualificações e inovação, sobre apoios sociais, sobre crescimento económico, sobre o reforço do SNS. Mas, os portugueses, mesmo conscientes de alguns avanços, não sentem todas essas maravilhas na sua pele, porque os salários reais teimam em não subir e as listas de espera para consultas, tratamentos, exames e cirurgias teimam em não diminuir.

O PSD, aproveitando o tombo do PS para a esquerda, apresentou-se ao centro. Já diz o povo, no meio é que está a virtude. O problema é que estar no meio por vezes é estar em lugar nenhum. É ter pouco salero e tentar agradar a gregos e troianos. Tem tido, no entanto, a virtude de apresentar uma posição socialmente aceitável e economicamente equilibrada. Procura não prometer o que sabe que não pode dar. Procura primeiro criar para depois poder distribuir. Mesmo estando ao centro, teve a audácia de apresentar reformas importantes, como a da justiça e do sistema político. Nesse capítulo arriscou e António Costa já aproveitou algumas dessas propostas para fazer gincana política.

Mas, por uma perversa coincidência do destino, a outrora criticada estratégia e personalidade de Rui Rio está a tornar-se na maior arma do PSD. Porque eis que nos encontramos nesta encruzilhada da história política portuguesa de termos de um lado Rui Rio, um homem que esteve décadas a construir uma imagem de credibilidade e seriedade, de um político que só diz o que pensa, de um economista que não promete o que sabe que não pode dar, e do outro António Costa, reconhecido por ser um político experiente e habilidoso, tantas vezes acusado de fazer tudo para se manter no poder, de ser “um fingidor” que “finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”.

No dia 30 de janeiro veremos para onde penderá o povo português.