Ursula Von der Leyen e Emmanuel Macron estão juntos na China. Contudo, embora partilhem o propósito de deter Pequim no envio de armas para a Rússia, as missões dos dois líderes são diversas. A presidente da Comissão espera apressar os Europeus na adoção de uma abordagem geopolítica das suas relações externas. Macron vai numa viagem de negócios.

Ciente das ambiguidades que este “double act” representa, a presidente da Comissão Europeia quis tornar clara a sua posição num discurso na semana passada. Numa das suas mais importantes declarações até agora, tentou mostrar que, também na Europa, a era da primazia dos negócios sobre a geopolítica está a chegar ao fim.

Receosa de que as lições da invasão russa da Ucrânia acerca da necessidade de manter a distância com as potencias autoritárias estejam a ser esquecidas, a mensagem de von der Leyen foi clara e direta. Apelou à Europa para ser “mais corajosa” com a China, argumentando que Pequim se tornou “mais repressiva em casa e mais assertiva no estrangeiro“. No essencial, a chefe da Comissão parece querer alinhar a Europa pela posição americana face a Pequim.

No pormenor, contudo, von der Leyen distinguiu-se de Washington. Em vez da estratégia americana de dissociação, que propõe o abandono total das cadeias de produção, a chefe da Comissão anunciou a estratégia de “de-risking“. Isto significa que a Europa deverá diminuir drasticamente o seu envolvimento tecnológico com a China. Deverá cortar os laços comerciais em sectores sensíveis como a electrónica, a computação quântica, a robótica, a inteligência artificial e a biotecnologia.

Em paralelo, a Europa e os EUA aprofundam a cooperação comercial nesta área. No novo Conselho de Comércio e Tecnologia EU-EUA, estabelecido em 2021, a Comissão e a administração americana discutem as formas de criar um espaço digital baseado nos valores democráticos. A coordenação das abordagens é vista como essencial para que o Ocidente mantenha a curta vantagem que ainda conserva no desenvolvimento da inteligência artificial face à China. É convicção geral, mesmo para Vladimir Putin, que quem controlar a inteligência artificial controlará o mundo.

Apesar de ser mais limitada do que a abordagem de Biden, a estratégia de Von der Leyen, sendo implementada, alterará fundamentalmente os fluxos comerciais e os investimentos entre a UE e a China. Para isso, contudo, é necessário que os Estados membros estejam dispostos a apoiar a Comissão. Pouco promissora é, por isso, a postura do seu companheiro de viagem, Emmanuel Macron.

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