Estamos próximos do centenário da revolução de Outubro. Esta revolução foi, após várias tentativas, o ponto de partida para a implementação do comunismo na Rússia e criação da União das Republicas Soviéticas Socialistas (URSS). Após a revolução de 1917 houve ainda uma guerra civil até 1922 (perdida para os comunistas pela incompetência e corrupção endémica do exército branco). Em nome da revolução foram assassinados o Imperador Nicolau II e a Czarina Alexandra juntamente com as suas quatro filhas, as Grã-duquesas Olga (23 anos), Tatiana (21 anos), Maria (19 anos), Anastasia (17 anos) e ainda o Grão-duque Alexei (14 anos). Recordar os nomes dos assassinados e as suas idades ajuda-nos a concretizar o terror que foi a revolução. Antes de serem imperadores e herdeiros eram pais e filhos, irmãos e crianças. Foram fuzilados sem direito a julgamento. Foi assim com os Romanov e foi assim, durante e após o período revolucionário, com milhões de famílias Russas, Ucranianas, Polacas, Checas e Eslovacas, Chinesas, Vietnamitas, Cambodjanas, Cubanas, Norte-coreanas, apenas para citar alguns povos, que viveram ou ainda vivem sob a alçada do comunismo.
Que a revolução de Outubro criou um regime de brutal opressão, que subjugou os povos que governou, é uma evidência para qualquer pessoa com um mínimo de honestidade intelectual. Mas honestidade intelectual não existe no Partido Comunista Português, que hoje, pela mão do socialista António Costa, é uma peça chave na governação de Portugal. Digo isto porque, apesar de ter mais de um ano, deparei-me há pouco tempo com a resolução do Comité Central do PCP de 18 de Setembro 2016 na qual é celebrada a revolução de Outubro. Esta resolução é mais uma excelente demonstração da capacidade comunista de revisionismo histórico.
No ponto 3 da resolução do PCP, no qual se apresentam os extraordinários feitos alcançados pela União Soviética está escrito que “A URSS, num curto período de tempo histórico, alcançou um significativo desenvolvimento industrial e agrícola (…)”. Facto histórico e comprovável: Os planos quinquenais de Estaline para industrializar a URSS foram um fracasso de proporções bíblicas. A alteração e criação do tecido industrial por decreto criou uma indústria rapidamente obsoleta, totalmente orientada à política de exportação do Estado, já que esta era a única forma do mesmo obter capital (após o “não pagamos” a URSS deixou de ter acesso ao mercado de capitais). A nacionalização da terra, a criação de objetivos de produção completamente desajustados à realidade agrícola (a ideologia a tentar transformar a realidade), o homicídio em massa, a deportação de muitos e a escravização dos proprietários que ficaram (dos pequenos aos grandes), conjugado com a política de exportação agrícola para servir os interesses do “Comintern”, provocou fome em toda a URSS, em particular na extraordinariamente fértil Ucrânia, originando a grande fome de Holodomor que se estima ter causado milhões de mortos. Ainda hoje a Rússia sofre as consequências desta coletivização.
Continuando no mesmo ponto aparece o seguinte “(…) empreendeu a solução da complexa questão de nacionalidades oprimidas, incrementou os valores da amizade, da solidariedade, da paz e cooperação entre os povos”. Este ponto é tão espetacular como o anterior. A solução das nacionalidades oprimidas resolveu-se através de um dos maiores crimes que a história da humanidade já viu. A deportação de povos inteiros considerados inimigos da revolução realizada por Estaline, foi a forma encontrada pelos comunistas para a solução das nacionalidades oprimidas. Foram milhões de famílias que foram alvo deste crime. Não importava se tinham idosos, bebés ou doentes, tinham de ser deportados. Foram milhões os deportados e foram milhões os mortos nessa épica marcha da morte. A solução era simples, o sentimento patriótico e nacionalista é mais facilmente combatido se as populações não viverem nos seus países, e por outro lado sempre se colonizava as estepes cazaques. A URSS pretendia com isto promover o Estado Nação que surgiu em força após a primeira Guerra Mundial com o fim dos grandes impérios (na mesma linha o genocídio dos arménios pelos turcos fez parte do esforço de criação do Estado Nação Turco), bem como aproveitar mão de obra escrava para colonizar as estepes do centro asiático. E assim se resolveu o problema das nacionalidades oprimidas, acabando com elas. Para o nosso simpático, evoluído e moderno PCP isto é motivo de comemoração.
Por último gostaria de destacar a seguinte frase da resolução “Após a vitória sobre o nazi-fascismo, pelo seu exemplo e enorme prestígio, pela força das ideias do socialismo que projectou, pela solidariedade e intervenção na política internacional (…)”. Sobre isto não nos podemos esquecer que um dos primeiros aliados de Hitler foi a União Soviética. A frieza e o pragmatismo comunista levaram à celebração do tratado Molotov-Ribbentrop, no qual ficaram acordadas duas coisas muito simples: 1) A divisão da Polónia entre a Alemanha e a Rússia após invasão da Alemanha; 2) A exportação pela URSS de bens essenciais (e.g. cereais, aço e petróleo) para alimentar a máquina de guerra Alemã no seu ataque ao mundo livre. Tudo mudou quando Hitler procurou o que considerava ser o “espaço vital” para a expansão do povo alemão nas terras férteis da Ucrânia e nos poços de petróleo de Baku. Até literalmente à véspera da invasão Alemã, a URSS continuou a enviar bens em massa para alimentar a Wehrmacht.
Mas as críticas ao comunismo ultrapassam e muito o período de Estaline. Que o digam os Húngaros que tentaram acabar com o comunismo no seu país e foram esmagados pelos tanques russos a mando de Nikita Khrushchev. Que o digam os Checoslovacos que sofreram destino semelhante sob a aplicação da Doutrina Brejnev, que promoveu a invasão pelos países do Pacto de Varsóvia da Checoslováquia em 1968. Que o digam os alemães da RDA que foram aprisionados no seu próprio país. Que o digam os chineses que sofreram a Revolução Cultural e a grande fome. Que o digam os Cambojanos que foram alvo do maior massacre em termos relativos da história (dos 7 milhões de Cambojanos estima-se que foram mortos 2 milhões pelos Khmer Vermelhos). Que o digam por fim os estimados 100 milhões de mortos pelos comunistas em todo o Mundo.
Sobre isto e muito mais a resolução do PCP não tem uma palavra a dizer. Não só não tem uma palavra a dizer, como procura ao longo de todo o documento fazer um branqueamento da história assombroso. Enquanto o nosso PCP comemora os 100 anos da revolução de Outubro, o Mundo civilizado e livre lamenta os 100 milhões de mortos sob regimes comunistas. Enquanto o PCP celebra a viagem de Iuri Gagarin à volta da Terra, os Cubanos e os Norte-coreanos continuam à procura de liberdade.
Com esta resolução o PCP demonstra toda a sua natureza. Um partido parado no tempo que, através desta resolução, procura branquear os maiores crimes feitos à humanidade em nome da ideologia mais mortal produzida pelo Homem (considerando apenas os já nascidos, porque nada provocará tantos mortos como o aborto).