Nos seus primeiros seis meses de mandato, Marcelo Rebelo de Sousa tem sido um presidente omnipresente. Com um agenda intensa (alguns diriam quase caótica) e uma constante presença na comunicação social, será hoje relativamente consensual afirmar que Marcelo tem procurado alargar o mais possível a sua base de apoio. Mas seria um erro reduzir esse esforço a uma mera táctica política. Todo o historial de Marcelo sugere que a sua postura é genuína e corresponde ao carácter e modo de ser do actual Presidente.
O alargamento da base de apoio político é particularmente importante se recordarmos que a eleição de Marcelo à primeira volta foi em larga medida tornada possível pelo facto de o seu principal opositor ter sido Sampaio da Nóvoa. O abismal resultado dos candidatos apoiados pelo PS nas últimas presidências não foi certamente alheio ao bizarro alinhamento que levou a que a facção dominante do PS apoiasse o mesmo candidato presidencial que movimentos de extrema-esquerda como o PCTP-MRPP, o Livre ou o POUS.
Marcelo foi eleito à primeira volta por mérito próprio, mas sabe que os 2,4 milhões de votos que o elegeram estão claramente abaixo dos cerca de 2,8 milhões votos conquistados por PSD e CDS nas legislativas de 2011. Esgotado o efeito de mobilização do eleitorado moderado que o extremismo de Nóvoa provocou, Marcelo tem por isso procurado – e bem – manter e alargar nas ruas e na arena mediática a base de apoio que conseguiu eleger.
Note-se no entanto que tal não implica necessariamente dar carta branca à “geringonça” montada e liderada por António Costa. Marcelo usou já por duas vezes o seu poder de veto político, enviando em ambos os casos mensagens fortes e claras em matérias relevantes para o país. Ainda assim, o teste decisivo para o Presidente Marcelo colocar-se-á quando for confrontado com uma crise política, algo que dificilmente deixará de acontecer na actual legislatura. Nesse cenário, e perante a impossibilidade de agradar a todos, a popularidade que tem cultivado poderá ser-lhe muito útil, mas será sem dúvida esse o verdadeiro teste de fogo de Marcelo enquanto Presidente.
André Azevedo Alves é professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa