O ano de 2020 ficará na história como o ano da pandemia e o da maior quebra da economia global desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com uma descida de mais de 4% do PIB global. Portugal deverá sofrer o dobro dessa quebra – mais de 8% – dada a sua exposição ao setor do turismo e forte ligação comercial a outras economias europeias também muito afetadas. Conseguirá a economia portuguesa reerguer-se em 2021, dada a magnitude da queda e o pesado fardo da nossa dívida?
2021 será, provavelmente, um ano vivido em ciclos distintos. O primeiro trimestre será ainda muito desafiante em termos económicos, com medidas sanitárias severas e um foco no desenrolar do processo de vacinação da população. O segundo trimestre será de progressiva normalização da nossa vida económica, com o completar da vacinação dos grupos de risco e uma redução dos internamentos e mortalidade causada pela Covid. O terceiro trimestre deverá ver um forte acelerar da recuperação económica, com o retomar da atividade turística na Europa e também do turismo nacional, já que 55% do Portugueses que habitualmente fazem férias fora da sua residência habitual só pensa tirar férias no Verão (apenas 10% pensa fazê-lo antes).
Um importante desafio nacional no primeiro semestre, é conseguirmos manter intacta a capacidade produtiva dos setores mais afetados pela pandemia, como é o caso da restauração, hotelaria, transporte aéreo, cultura, entretenimento e serviços às pessoas, para que a retoma económica seja mais forte. Assim, é fundamental continuar a apoiar os setores mais atingidos pela pandemia através de medidas públicas temporárias de subsidiação e capitalização.
Mas esta é também uma crise com impactos económicos e sociais muito desiguais. A sondagem realizada aos Portugueses em dezembro, pela RTP/Universidade Católica, revela que 20% das pessoas perderam mais de metade do seu rendimento, enquanto 70% se manteve igual e 5% subiu. Ironicamente, o nível de poupança médio das famílias portuguesas até subiu durante a pandemia, dadas as restrições ao consumo. Mas essa subida média mascara uma realidade económica muito difícil, em que a pobreza e a fome estão a aumentar, o que pede aos Portugueses uma forte dose de solidariedade e apoio social. Temos em Portugal uma excelente rede de IPSSs e Misericórdias que devem ser apoiadas em termos de donativos e voluntariado dada a sua capilaridade e eficácia no apoio às populações mais desfavorecidas, muitas vezes em estreita articulação com a juntas de freguesia e câmaras municipais.
Os Fundos Europeus de Recuperação deverão começar a chegar até ao final do ano, provavelmente já num período de recuperação económica, não sendo claro o seu impacto, dado o pouco que sabemos sobre o seu modelo de implementação. No entanto, há uma lição a tirar da nossa História. Sempre que Portugal procurou que outros resolvessem os nossos problemas, regredimos em vez de nos desenvolvermos. Quando nos apercebemos que estávamos sozinhos e só contávamos connosco próprios, tivemos a coragem e capacidade de nos reinventarmos enquanto economia e país. Um exemplo foi o período da Troika, em que, apesar das fortes restrições financeiras e políticas de austeridade públicas, Portugal e as nossas empresas foram capazes de se reinventar, gerar um enorme aumento de exportações de bens e serviços e criar emprego.
É altura de traçarmos um plano estratégico claro e consistente para Portugal, não para direcionar fundos europeus, mas para focarmos a nossa própria atenção, esforço e investimento. Os fundos europeus podem ser um complemento, uma ajuda à concretização desse plano, mas não deverão ser o seu propósito. É esse o caminho para sermos um país viável e próspero.
Um bom ano de 2021 para todos!