A produção anual da General Motors (GM) permitiria dar um automóvel a cada português (cerca de 10 milhões de veículos em 2016), enquanto que a produção da Tesla Motors, apenas permitira oferecer um carro a cada habitante de Queluz (não foi além dos 76,500 veículos). Ou seja, a GM produz cerca de 130 vezes mais automóveis do que a Tesla (a Ford 87 vezes mais). Na realidade, a produção mundial da Tesla é ainda inferior à da Autoeuropa em Palmela. A GM obteve em 2016 receitas de $166,4B, enquanto as da Ford foram $151,8B e da Tesla se ficaram pelos $7B. Ao longo dos 13 anos de existência, a Tesla apenas apresentou lucros durante 2 trimestre e em 2016 teve um prejuízo de US$ 746 milhões.
Dito isto, ficámos esta semana a saber que o produtor automóvel mais valioso da América da era Trump (em capitalização bolsista ou market cap) já não tem sede em Detroit, nem produz veículos que dependem de combustíveis fosseis…. A capitalização bolsista (market cap) da Tesla Motors (que produz veículos elétricos e está sediada em Silicon Valey) atingiu $51B no dia 10 Abril, um pouco acima dos $50,9B da GM e dos $44,8B da Ford. A capitalização bolsista de uma empresa é uma estimativa do valor total da empresa a partir da sua cotação em bolsa. É calculada multiplicando a cotação atual pelo número total de ações emitidas em circulação (não somente as cotadas, mas todos as existentes no mercado). A subida estratosférica das ações de Tesla de $40 em 2013 para mais de $312 esta semana, impulsionou a empresa para o seu valor mais alto de sempre, excedendo em $1 milhão o valor da GM.
Faz algum sentido? Pode a Tesla valer mais do que a GM? Estará a começar uma nova era da indústria automóvel, ou uma nova bolha?
A capitalização bolsista reflete melhor a expectativa no futuro, do que o presente, e é certo que as pessoas e os investidores estão totalmente apaixonados pela Tesla e depositam no genial Elon Musk o seu capital (e principalmente a sua confiança). Os investidores valorizam a “história” das empresa e do seu criador e não se preocupam apenas com os números. Não interessa muito se a Tesla está ou não a dar lucro. Mais importante, acredita-se que vai dominar o mercado automóvel, que vai criar o carro mais limpo e seguro do planeta, que vai dominar o mercado das baterias, e pelo caminho, reinventar a rede elétrica.
Como antes aconteceu com a Apple ou Amazon (para além doutras que já nem nos lembramos…) a Tesla simboliza a inovação e o futuro e acredita-se que vai dominar em todos estes (grandes) mercados. Os investidores querem investir em projetos com rapidíssimo potencial de crescimento e a Tesla pode oferecer isso. Já antes o valor da UBER, a empresa que se tornou a maior transportadora do planeta sem possuir nenhum carro (e que não está cotada em bolsa) tinha ultrapassado o market cap da GM e Ford. Mas o desafio da Tesla parece ainda maior, pois não é “apenas” (e não seria pouco) uma proposta de serviço, mas passa por produzir e distribuir milhões de complexos automóveis. O desejado “Modelo 3” não pode ser menos do que absolutamente perfeito e, mais difícil ainda, a Tesla terá de ser capaz de aumentar rapidamente a sua capacidade de produção e efetivamente produzir carros e baterias em massa, não apenas o suficiente para uma cidade como Queluz em cada ano, mas milhões de carros elétricos e deslumbrantes.
O que é que a Tesla tem? Tem certamente mais graça do que ninguém… mas estado de graça também. Que tudo lhes corra bem.