O que não posso, porque não tenho esse direito, é calar-me, seja sob que pretexto for.
Francisco Sá Carneiro

Entre a progressiva e imparável decomposição do SNS, da Escola Pública, e as greves dos professores; entre o estado lamentável da CP e da Marinha de Guerra Portuguesa; entre a crise da habitação e o assalto em cada ida aos supermercados; entre os baixíssimos salários e o desbarato na TAP, já não há como evitar o óbvio: a degradação da qualidade de vida dos portugueses resulta da má governação socialista. «A política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha».

Será um lugar comum, mas nem por isso menos verdadeiro: é preciso que o PSD venha, mais uma vez, trazer a ordem ao caos socialista que até as políticas de austeridade neste tempo de crise inflacionista esconde, mas as perdas de rendimento das famílias, dos pensionistas e das empresas, confirmam – alguém se lembra dos dias do PEC 3? «Ao cidadão, o Estado deve dar mais em troca do que lhe pede ou pedir menos do que aquilo que está em condições de reciprocamente lhe dar».

O passado é sempre o melhor preditor do futuro. Quem, com o sacrifício de todos, e perdas das quais muitos nunca recuperaram, levantou o país do descalabro da dívida? O PSD de Pedro Passos Coelho. Para depois, novamente, vermos o país desbaratado pelos mesmos socialistas de então. E esvaziado do significado do sacrifício de cada um. «O nosso povo tem sempre correspondido nas alturas de crise. As elites, as chamadas elites, é que quase sempre o traíram, e nós estamos a ver mais uma vez que o povo português foi defraudado da sua boa fé.»

A manutenção do Partido Socialista no poder não é sustentável. «Não há democracia, não há regime humano, sem respeito pela liberdade, sem moral pública, sem autoridade».

O governo socialista, tudo indica, será sucedido pelo do PSD. Mas qual? Com quem? Depois de Rui Rio, responsável pelo crescimento do Chega e da Iniciativa Liberal, um dos aliados de António Costa ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa — não este Presidente que agora temos, mas o que antes tivemos, o da anterior legislatura –, o PSD reorganizou-se com Luís Montenegro. Nem por isso fez o que deveria ter feito. Explico. «É evidente que prefiro o poder da razão à razão do poder».

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Cavalgar a descida socialista a partir das sondagens quando o demérito daqueles é super-evidente, não é o mesmo que justa e adequadamente promover essa queda a partir de uma oposição cerrada e crescer por mérito próprio nas intenções de voto. «A força forja-se na luta, a firmeza no combate pelos princípios, a coragem no enfrentar da crise».

Este PSD está mal orientado. Está mal na regionalização tal como esteve mal na questão socialmente definidora da eutanásia. E nunca deveria ter-se abstido na moção de censura da Iniciativa Liberal ao governo. Mas fê-lo. Pior. Fê-lo enquanto, em relação ao Chega e a qualquer aliança com este, mantém uma ambiguidade que o há-de assombrar se não esclarecer rapidamente a sua posição: quem fez alianças anti-democráticas foi o PS quando se aliou ao BE. É precisa uma demarcação inequívoca. Sabemos muito bem onde conduzem estas cedências à esquerda ou à direita. Vivemo-las à esquerda na anterior legislatura e colhemos os seus malefícios ainda hoje. Se dúvidas houver à direita, olhe-se para o Partido Republicano nos Estados Unidos, entregue aos demagogos, para a Polónia de Duda, ou melhor, de Kaczynski, para a Hungria de Orbán. Há alianças proibidas. «Não se pode — porque é ilegítimo e anti-democrático — escravizar o regime democrático a um qualquer esquema económico-social, a uma opção ideológica».

O mérito de Luís Montenegro foi como líder parlamentar entre 2011 e 2017, na realidade, entre 2012-2013, período negro da governação que permitiu a conclusão do programa resgate em 2014 e a posterior retoma económica. «A política (…) encaro-a efectivamente como um dever de cidadania».

Não vejo o PSD a fazer mais do que navegar à vista. Isto não é um plano suficiente. É um remendo. «A política envolve mudança, a política envolve risco!»

A oposição do PSD tem de ser forte. Estruturada. Incansável. O PSD tem de ser, obrigatoriamente, o filtro do Chega e da Iniciativa Liberal. Só assim os reduzirá aos seus números naturais enquanto reconduz ao PSD quem deve. Mas nem isto é suficiente. «Infelizmente ainda não nos organizámos como país e como povo».

É precisa uma ideia de país. Ambiciosa e exequível. Um propósito que seja motor de vontades e de futuro. De esperança. «Temos uma missão, um projecto, um intuito. O de reconstruir o nosso país».

PS: Todas as citações são de Francisco Sá Carneiro.

A autora escreve segundo a antiga ortografia