O “National Health Service” inglês comemora o seu 70º aniversário este ano, é um dos serviços públicos em que os ingleses mais confiam e um dos serviços públicos de saúde mais antigos do mundo. Com o objectivo de o modernizar e adaptar a novas realidades os seus responsáveis elaboraram um documento intitulado “NHS Long Term Plan” que poderá aproveitar ao Sistema Nacional de Saúde português.

“And, when people no longer need to be in a hospital bed, they should then receive good health and social care support to go home.”

Por aqui passa uma aposta fundamental nos Cuidados Continuados. Em Portugal a realidade foi bem retratada na reportagem da RTP de 25 de Dezembro de 2018, da qual destaco esta frase: “15 das 25 camas do serviço de Neurologia do Hospital S. António estão ocupadas por casos sociais”. Para além dos custos financeiros que isto representa, temos como é óbvio o custo social de doentes que mereciam estar noutro ambiente que não um ambiente hospitalar e a falta de serviços médicos a outros que deles necessitam. Em Inglaterra, uma em cada sete pessoas com mais de 85 anos estão institucionalizadas em lares. Estas pessoas representam 185.000 admissões nas urgências por ano e 1.46 milhões de dias de internamento, sendo que 35/40% das admissões nas urgências podiam ser evitadas. Estudos sugerem que as pessoas residentes em lares não estão a ter os cuidados de saúde que deveriam, resultando em idas às urgências e internamentos desnecessários. Em Portugal a realidade não deverá ser muito diferente e se o for será para pior, pelo que é hora dos responsáveis traçarem um plano para combater esta realidade.

 “In this Long Term Plan we commit to increase investment in primary medical and community health (…). This means spending on these services will be at least £4.5 billion higher in five year’s time”.

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Neste documento os autores propõem-se a uma aposta efectiva nos Cuidados de Saúde Primários, investindo significativamente na prevenção da doença e promoção da saúde, procurando com isso diminuir o número internamentos, evitar a sobrecarrega das urgências hospitalares e obter poupança de recursos financeiros e maior satisfação social.

“Carers will benefit from greater recognition and support. The latest Census found that 10% of the adult population has an unpaid caring role, equating to approximately 5.5 million people in England – around 1.4 million of whom provide upwards of 50 hours care per week. 17% of respondents to the GP patient survey identified themselves as carers. We will improve how we identify unpaid carers, and strengthen support for them to address their individual health needs”.

Em Portugal a nova Lei de Bases da Saúde deixou cair o estatuto de cuidador informal.

 “The NHS will reduce pressure on emergency hospital services”.

Este plano prevê Centros de Saúde abertos até mais tarde e aos fins-de-semana, uma aposta clara na educação para a saúde nas escolas, de modo a capacitar a população onde e quando procurar ajuda médica, reforço da linha telefónica “NHS 111”, reforço da hospitalização domiciliária e a implementação em todo o território dos “Urgent Treatment Centre”, unidades de urgência intermédia que evitam o recurso às urgências hospitalares destinadas a casos mais graves.

“People will get more control over their own health and more personalised care when they need it. (…) this summer new research showed that, based on their tumour genetics, thousands of women with breast cancer could now avoid chemotherapy. And this autumn the NHS became the first national health system in Europe to give the go ahead to a breakthrough cancer treatment based on modifying a patient’s own CAR-T cells”.

Novas propostas de rastreio e terapêutica representam mais oportunidades para muitos doentes mas também uma pressão maior sobre os orçamentos dos países, pelo que será necessário uma análise detalhada de custo-benefício e maior investimento.

“More NHS action on prevention and health inequalities”.

Os sistemas de saúde europeus estão perante desafios que não diferem muito entre si, sobretudo no que diz respeito ao aumento da esperança média de vida e o respectivo envelhecimento populacional, o que representa maior procura dos serviços de saúde. Neste plano estão também em evidência os esforços para combater os factores de risco que mais causam mortes prematuras: tabagismo, dieta não-equilibrada, hipertensão arterial, obesidade e abuso de álcool e drogas. A aposta da prevenção requer mais e melhores Cuidados de Saúde Primários com consultas especializadas de cessação tabágica, obesidade, adições, entre outras.

Este plano inglês constitui uma boa base de trabalho para os desafios que os serviços de saúde irão enfrentar no futuro, mas em Portugal a nova Lei de Bases da Saúde pode limitar-se a potenciar o papel do Estado enquanto prestador de serviços de saúde, não apontando o caminho, tornando-se numa oportunidade perdida.

Médico