(Digito esse texto com apenas uma mão. A outra balança o carrinho. Joaquim havia dormido, mas acordou com uma porta que bateu. Eu preciso trabalhar. Eu quero aproveitar seus sorrisos recentes. Eu queria o dobro do tempo. Eu queria me sentir suficiente.)

Sabe? A culpa nem sempre é sua. O bebê não ganhou peso. A criança faz birras. As notas na escola não estão grande coisa. O adolescente não tira os olhos do telefone. O casamento do filho adulto não deu certo. Em algum lugar achamos que a culpa é sempre nossa. Fazemos uma busca sedenta por respostas que não existem. Será que foi porque bebi pouca água? Será que foi porque voltei tarde do trabalho? Será que foi algo que eu disse? Não. Não foi. A culpa nem sempre é da mãe.

Sabe? Você está fazendo o melhor que pode. Muitas vezes parece pouco. Parece que você poderia fazer bem mais e bem melhor. Mas você está sempre dando tudo o que tem. Você precisa dormir, precisa trabalhar, precisa tomar banho, tomar um vinho. Você precisa sair com amigos, precisa cortar o cabelo, precisa ler um livro. O melhor que você pode não é sacrificando a si mesma, é cuidando de si também.

Sabe? Você não precisa ser perdoada. Qual é o crime grave pelo qual você está se acusando? Não conseguiu dar um banho? Não teve forças para brincar? Não conseguiu ajudar nas tarefas de casa? Não ajudou um filho que já tem filho pequeno? Pare de pedir perdão. Você até pode querer dar conta, mas não há pecado nenhum em ter limites. Pelo contrário, são os limites que nos mantêm vivas.

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Sabe? Você é suficiente. Frequentemente você sente que precisa de mais tempo. De mais braços. De mais horas acordada. Não dá para dar tudo o que você quer dar aos seus filhos sendo uma pessoa normal. Mas algo está errado quando percebemos que todas as mães sentem que são menos do que deveriam ser e que diariamente vão se endividando perante os filhos e perante o mundo. Não. Não é preciso ser mais do que se é. Você é suficiente.

Sabe? Ser mãe não pode ser um aglomerado de culpas, cansaço e pedidos de perdão. Ser mãe não pode ser a sensação cotidiana de ser responsável por tudo o que não corre bem na vida dos nossos filhos. Ser mãe não pode ser uma pilha de tarefas a serem despachadas. Se a sensação é essa, algo precisa ser revisto. O grau de exigência, a partilha de tarefas, a intensidade da autocrítica.

Sabe? Você está se saindo muito bem. Pode não estar tudo impecável, mas está tudo operacional – e isso é um grande motivo para se orgulhar. Os deslizes vão acontecer, os acertos vão se revezando com os erros. E a gente segue. Mas tem que seguir orgulhosa e não afundando num mar de dívidas. Você está se saindo bem. Seja nesses últimos 2 meses, como é meu caso, seja nos últimos 70 anos, como no caso da minha avó. Somos boas mães e precisamos nos convencer disso.

(Sempre existe uma mãe precisando ler essas coisas. Pode enviar esse texto para as mães que te cercam ou pode dizer com suas próprias palavras. Mas diga. Espalhe essa mensagem. Muitas mães precisam disso.)