Enquanto lá fora e cá dentro não se ouve outro falar de outra coisa que não seja o «caos» provocado por Donald Trump, segundo a contida expressão dos responsáveis da União Europeia, o mundo tremelica mas não cai… E alguém aproveita isso para passar entre os pingos da chuva, como sucede com o silêncio mantido pelo PS e os seus cúmplices governamentais acerca do mistério mais bem guardado de Portugal, a saber, a sorte passada e futura da Caixa Geral de Depósitos (CGC).
Enquanto o «caos» não assenta, é necessário porém que nos interroguemos acerca de mais esta manobra com que o actual governo esconde aquilo que se passa na banca portuguesa. Exclui-se, pois, a banca não-portuguesa, bem como o novo arranjo sino-angolano que continua a controlar o BCP mas não tranquiliza ninguém. Estamos a falar, portanto, do ex-BES e do centenário mealheiro do Estado, a CGD, a mesma que ainda há poucas décadas gozava do monopólio clientelar dos ordenados e pensões da Função Pública. Do ex-BES, só há a acrescentar que uma instituição pela qual apenas se interessam os fundos-abutres que rondam em torno dele só pode ser um banco falido. Devolvido sem pejo à família Espírito-Santo no início da década de ’90, o BES mancomunou-se, desde então, com o establishment partidário, de modo tal que só deixou esses restos para os abutres. Provavelmente, será cedido por tuta e meia pelo governo a fim de evitar mais perdas a registar como défice. Se houvesse dinheiro, talvez o PS o nacionalizasse em honra do PCP e do BE…
Quanto à joia da coroa estatal, a CGD, reina há largos meses um silêncio ensurdecedor, a ponto de não haver uma linha a seu respeito no último «Expresso». O trio governamental uniu-se sem falhas para impedir a continuação do inquérito parlamentar contra a decisão do próprio Tribunal da Relação. Entretanto, o vulgo foi sendo embalado com a inenarrável narrativa dos gestores que não queriam mostrar os rendimentos, como se o Ministério das Finanças se tivesse atrevido a propor-lhes tal coisa sem autorização do primeiro-ministro. Com papas e bolos foram os tolos enganados!
Eram outras as legítimas perguntas feitas pelos partidos da oposição, assim como o público em geral, o qual pagará por último as despesas do chamado do banco público assaltado por sucessivas camadas de clientes de luxo e de gestores designados pelos partidos políticos. O que quer então esconder a coligação governamental? Em primeiro lugar, ninguém fora do poder político viu o tal «plano de capitalização» aprovado por Bruxelas. Ninguém sabe ao certo quanto dinheiro será necessário nem durante quanto tempo. Ignoram-se as medidas exactas a tomar: conter a despesa e aumentar o lucro são promessas vagas de mais. O que gostávamos de saber é como isso será atingido. Promessas dessas são como as do «Novo Banco» e já sabemos como acabaram!
Há, porém, segredos mais concretos que o PS continua a esconder da opinião pública, com o apoio do PCP e do BE, que em qualquer outro caso seriam os primeiros a berrar contra o PS. Perante este escamoteamento da real situação da CGD, duas coisas chamam a atenção. A primeira é óbvia. Trata-se, simultaneamente, de esconder o valor exacto das chamadas imparidades, cujo buraco sobe e desce segundo os comentadores, e ao mesmo tempo esconder os nomes dos «caloteiros», entre os quais figura certamente a «fina flor» dos capitalistas protegidos pelos sucessivos governos, nomeadamente na era de Sócrates e Vara, acabando por levar o país à bancarrota!
O outro segredo dos partidos governamentais diz respeito ao futuro. Não só nunca nos foram dados a conhecer os passos concretos que a nova administração irá dar com o dinheiro que reclama como se escamoteou tanto quanto possível o facto, aliás óbvio, de vir a ser fechado um número considerável de balcões, com a respectiva redução de pessoal. Num documento inicial do Ministério das Finanças dizia-se em subtítulo que o aumento de capital seria de 2.700 milhões de euros mas, lendo o parágrafo até ao fim, o dinheiro a empatar seria superior a 5 mil milhões… Toda a informação é desse género!
Quanto ao fecho de balcões e à redução de pessoal, no Verão passado, o António Domingues – o milagreiro que iria mudar o mundo – falava em 3.000 funcionários a menos cujas rescisões custariam 700 milhões de euros. A Caixa era, com efeito, o banco que menos balcões fechara perante a informatização do negócio (metade da média nacional). Quais serão os números no Verão que vem? Porquê tantos segredos inadmissíveis?
Provavelmente, porque o PS tem de esconder o facto de quaisquer reduções de pessoal virem a ser combatidas pelo PCP, tornando mais cara ainda, se não impossível, a racionalização pública da Caixa, neste caso como noutros fáceis de imaginar. Esta sucessão de actos autoritários de silêncio, contra a vontade do Tribunal da Relação, revela pois a natureza do regime sob o qual estamos a viver, bem como os riscos que se perfilam diante de nós sem possibilidade de nos defendermos deles. O barulho à volta do caos provocado por Trump serve também para esconder isto!