O caso Bernardo já estava no lume há bastante tempo para fazer esquecer outros «casos» bem mais graves, a começar pelos dos seus colegas da banca, da advocacia, dos tribunais e, sobretudo, dos mandatos presidenciais e governamentais desde Sampaio a Sócrates, os quais deram nas devidas alturas cobertura financeira directa e indirecta a todas as actividades – boas e más – de Joe Berardo. Por fim, o «caso» acabou por rebentar no momento que o actual governo achou necessário desviar a atenção de crimes tão graves ou piores que continuam a ocorrer no nosso país. Que ninguém acredite em coincidências!

Berardo nunca foi um inocente mas também não deve ter sido o único responsável pelas golpadas que o levaram do «nada» ao píncaro das artes em Portugal e, finalmente, ao papel de «testa de ferro» de uma operação financeira que terá desfalcado o país em milhares de milhões de euros! A única coisa que nos resta esperar é que não levem daqui a chamada «coleção Berardo», cuja origem e destino ninguém conhece aliás… Quando e de onde veio? Quanto custou? Quem assinou os cheques? Se se conhecem, devem ser divulgados os nomes da próxima leva de acusados, como no caso Sócrates, os quais são tantos que há a possibilidade de todos eles escaparem ao castigo, a começar pelo ex-dono do BES: aqui, tudo começa e acaba no dinheiro!

Estamos perante o PS no seu «melhor»: depois da exuberância socrática – estilo «É tudo nosso!» – ao impune silêncio dos seus sucessores, António Costa proclama desde o primeiro dia do seu mandato «À justiça o que é da justiça» e, daí, o irreprimível sentimento popular, segundo o qual: «Não me façam rir que estou com cieiro»! Quem acompanhou este processo encabeçado por uma criatura que ninguém conhecia, desencantada da diáspora madeirense na África do Sul, ambos os territórios desconhecidos pelo culto da arte moderna assim como o inesperado colecionador não distinguiria provavelmente Eduardo Malta de Matisse ou de Chirico como de resto a generalidade da população portuguesa, perguntará: quem é o Joe e de onde veio dinheiro? Só espertalhões como os do PS é que se lembrariam de esconder o «cacau» numa galeria de arte…

Deste lado, só quem não teve oportunidade de assistir aos inúmeros eventos que então rodearam Joe e os seus «boys» da presidência da República e do governo, é que pode em consciência ignorar os objectivos da golpada: encher a «burra» e enganar o «povão»… Neste sentido, o caso Berardo e da colecção de arte do Centro Cultural de Belém não passam de uma luxuosa brincadeira sem medida de comparação com a destruição sistemática da economia portuguesa pública e privada promovida desde o governo Guterres até ao governo Costa, passando pelo delírio socrático do género «morram todos quantos aqui estão»! Se verificarem, não sobrou nenhuma instituição nacional financeira e industrial de peso.

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Não é à toa que o actual primeiro-ministro apenas chora hoje pelas perdas do turismo, o qual é, juntamente com a construção civil, um dos ramos económicos com menor produtividade e com mão-de-obra menos qualificada, da qual não é de esperar portanto grande aumento ao decrescente PIB do país. Com as raras excepções dos regimes social-democráticos dos países escandinavos, nunca foram de esperar aumentos significativos da economia estatal e não será aqui que isso acontecerá com a «geringonça», como de resto não sucedeu com nenhum governo PS desde o 25 de Abril: mostrem o contrário!

Entre a falta de entendimento daquilo que se está a passar no país e a inclinação da comunicação social para fazer propaganda do governo que a financia, isto é, o PS, não é de esperar que haja capacidade nem vontade para aprofundar as causas e efeitos de mais este fenómeno de corrupção em grande escala a que estamos a assistir e no qual Berardo está longe de ser o único responsável. Com efeito, se o tribunal e a mídia dirigem o foco para o lamentável personagem de Joe Berardo, não é que não saibam quem são os responsáveis designados pelos governos PS que participaram no processo e com que objectivos o fizeram, nomeadamente o presidente da CGD e do BCP no tempo de Sócrates, o socialista da primeira hora Santos Ferreira, aliás arguido no processo!

Por outras palavras, o caso Berardo está longe de ser uma mera fraude particular como o governo nos quer apresentar e a mídia tem confirmado até aqui. Tudo leva a crer, porém, que Berardo e a colecção de Belém são apenas operações convenientes da CGD e do BCP com vista a uma gigantesca operação bancária pouco anterior à crise desencadeada por José Sócrates… o qual continua entretanto a aguardar ser chamado ao tribunal. Eis por que razão a estranha figura de Berardo tem sido tão útil à propaganda do governo PS.