Para um liberal clássico, conservador (entendendo o conservadorismo como a validação histórica daquilo que funciona), o indivíduo é a fonte do poder, deslocando-se a sua lealdade para a família, célula base da sociedade, e desta para a Nação, entendida como uma comunidade com uma história e tradições comuns, a mesma língua e baseada num território delimitado por fronteiras por si reconhecidas. A Nação pode incluir diferentes raças, diferentes credos e diferentes ideologias políticas, mas mantém-se unida pelas suas raízes culturais e por aqueles que, nos seus cemitérios, jazem por ter lutado para garantir a sua liberdade, integridade e independência. Então, quem poderá merecer o voto de quem assim se identifica?
Antes de tudo, convém referir que nunca existirá um partido que defenda exatamente tudo aquilo em que cada um acredita, ou teria que haver um partido para cada indivíduo, mas deverá existir um que mais se aproxima das suas crenças políticas e objetivos.
Esta área foi tradicionalmente ocupada por dois partidos, o PPD/PSD e o CDS/PP, até ao aparecimento da IL e do Chega que, de alguma forma, vieram disputar esse eleitorado. É, provavelmente, sobre estes quatro partidos que recairá a opção de voto da maioria incluída no espaço não socialista, social e politicamente de direita. Exclui-se desta análise a vertente económica, já que todos se afirmam defensores do livre mercado e da iniciativa privada, divergindo somente no grau de intervenção do estado na sua regulação, ou mesmo como agente económico.
Para não ser demasiado extenso, ir-se-á utilizar a exclusão de partes como método de obtenção de uma conclusão.
Comece-se pela Iniciativa Liberal. No dia 12 de junho deste ano, 2023, o presidente do partido, Rui Rocha, referiu taxativamente, numa entrevista ao Diário de Notícias, que “nas liberdades sociais e políticas… aí já estamos nas áreas dos partidos mais à esquerda”. Não diz que está nas áreas dos partidos à esquerda, mas sim na área dos partidos mais à esquerda. E tem razão! Desde a aprovação da proposta de lei sobre a eutanásia (sem ter em conta os reparos do Presidente da República), até à liberalização do consumo de substâncias psicotrópicas para fins recreativos, passando pela aprovação da proposta de lei da aplicação da “autonomia de género” nos estabelecimentos de ensino do primeiro ciclo e do pré-primário, não subsiste qualquer dúvida que, sociologicamente, é um partido de esquerda, ou melhor, encontra-se na área dos partidos mais à esquerda, como o seu presidente tão explicitamente referiu. Assim, a IL, (auto)exclui-se das opções.
Partido seguinte, o CDS/PP. Em relação às eleições europeias, este partido encontra-se integrado no mesmo grupo parlamentar, o Partido Popular Europeu (PPE), que o PPD/PSD. Pode-se inferir que, em termos de políticas europeias, não há diferenças relevantes entre esses dois partidos. Tendo em conta a actual dimensão do eleitorado do CDS/PP, porquê optar então por este partido? Correndo o risco de não eleger qualquer deputado europeu, os votos poderão ser perdidos e, como tal, ser inconsequente esta opção. Se assim é nas europeias, como será nas legislativas? Para as legislativas a abordagem é diferente. Democracia-cristã, com maior ou menor roupagem “popular”, não é igual a social-democracia. Contudo, historicamente este partido fez parte de soluções de governo com o PS e com o PPD/PSD. Sobretudo com este, quer em coligações pré-eleitorais, quer em acordos pós-eleitorais. Ainda que social e politicamente seja um partido de centro-direita (com as dúvidas que a aplicação da doutrina social da Igreja possam legitimamente levantar), parece lógica a questão de ser ou não inconsequente a decisão de se optar pelo CDS/PP em detrimento do PPD/PSD, já que deverão acabar juntos numa qualquer solução governativa, ou, na hipótese mais extrema, poderão ser votos perdidos, à imagem do que aconteceu nas últimas eleições legislativas. Assim, esta não será a melhor opção.
Quanto ao PPD/PSD, antes de tudo, é um partido social-democrata na sua génese. A grande diferença da social-democracia para o socialismo original é que estes defendem a revolução para se atingir uma sociedade igualitária, sem classes, enquanto que aqueles defendem um caminho democrático para atingir o mesmo desiderato. Uma sociedade igualitária não é uma sociedade livre e quem se considera de direita defenderá sempre a liberdade sobre a igualdade. Só por isto já seria lógica a exclusão do PPD/PSD. Contudo poder-se-á ir um pouco mais longe. Este partido tem mostrado ser demasiado estatista, defendendo a intervenção do estado em diversas áreas, muito para além daquilo que um liberal clássico, conservador, reconhece como necessário. Também, historicamente, já esteve numa solução de governo com os socialistas e tem sido a opção de governação numa óptica de alternância com o PS. Insiste ainda em aceitar a cerca sanitária imposta pela esquerda, impedindo uma solução de governação alargada à direita, excluindo cerca de 15% dos eleitores. Sabemos onde nos encontramos e, ainda que com uma menor quota parte do PPD/PSD, sabemos quem nos trouxe até aqui! Valerá a pena conceder-lhes uma vez mais o benefício da dúvida? Quem sempre fez igual não pode esperar resultados diferentes…
Resta o Chega! Será este o partido perfeito? Haverá partidos perfeitos? Historicamente, nunca esteve envolvido em soluções de governo. É duramente criticado pelos partidos de esquerda e pelos partidos de “direita que a esquerda autoriza”. Assume-se como um partido liberal na economia (ainda que defenda a intervenção do estado nalgumas áreas que consideram estratégicas) e conservador nos costumes. Assume que a lealdade do indivíduo se desloca para a família e daí para a Nação. Tem demonstrado abertura para uma solução que afaste a esquerda do poder. Não é, certamente, o partido perfeito, mas pode merecer uma oportunidade, e é já a opção de cerca de 15% dos eleitores.
Em conclusão, ainda que haja um partido que possa merecer a confiança de quem pertence à área cultural (social e política) de direita, vê-se como necessário que os agentes políticos se entendam e se aliem no desígnio comum de afastar o socialismo da governação, impedindo a mexicanização do regime, para bem de Portugal e para a prosperidade e liberdade dos portugueses!