O Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, representado corporativamente na pena do seu sr. vice-director, publicou recentemente no Observador um interessante position paper sobre os erros da ética sexual (e-sexual) da Igreja Católica1. É um artigo profundo, revelador, divertido, mas pouco polémico.

É pouco polémico porque não há nele nada que a grande maioria das pessoas, católicas2 ou não-catòlicas, filósofas ou não-filòsofas3, não concorde. É verdade que um leigo empenhado, médico praticante, e um sacerdote4 celibatário, vieram a público esgrimir algumas objeções aos argumentos expostos pelo Centro de Filosofia (aqui, aqui & aqui). Mas, sejamos francos: ambos representam-se apenas a si próprios ou, quanto muito, a uma minúscula minoria.

Será que algum outro sr. padre terá feito homilia, ou algum sr. bispo escrito carta pastoral, refletindo sobre o tema ou impugnando os considerandos do Centro de Filosofia? Não consta. A transcrição do seu silêncio daria para encher volumes. Ou será que há algo na argumentação du Centro de Filosofia que Sua Santidade não subscrevesse? Improvável.

Nestas circunstâncias é evidente que a posição dù Centro de Filosofia sobre a e-sexual, expressa como refutação da atribuída à Igreja Católica, é muito consensual e pouco polémica e, dado este facto, é totalmente compreensível que o dito Centro não se tenha dado ao trabalho de responder, num paper posterior, à maioria dos argumentos avançados pelas duas vozes discordantes mas se tenha focado apenas naquilo que para si é essencial.

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No entanto podemos perguntar-nos: será que a opinião maioritária, ou a prática comum e a convenção social, estabelecem o certo e o errado em questões de ética? É ético ser nazi se for na Alemanha de Hitler ou imolador de seres humanos se for no México pré-colombiano?

Também é um texto francamente divertido. Por um lado, o tom inocentemente simples e pueril do texto é delicioso tendo em conta a dissonância com imagem popular que os filósofos gozam de velhotes de linguajar complicado e rabugentos de caracter, com ar de estarem sempre zangados e às avessas com o senso comum, estado psicológico corporalizado nos longos e desgrenhados cabelos e barbas que a sua imagem profissional naturalmente evoca.

Por outro lado, pela hilaridade que alguns argumentos naturalmente produzem, especialmente quando lidos em voz alta num círculo de amigos a beber cerveja. Um exemplo: então não é que o Centru de Filosofia acha que não há nada de moralmente errado em usar o olho para piscar, assim e sem mais qualificação? Atendendo que a filosofia dá “atenção, … máxima, em relação à terminologia e à argumentação”5, parece legitimo deduzir que o Centro de Filozofia está assim a defender uma teoria ética, rival à teoria da lei natural, segundo a qual “nada há de moralmente errado”, nunca e em qualquer circunstância, num piscar de olho. Muito boa!… Nem mesmo no piscar do olho que tantas direções escolares fazem, pessoal y sistemicamente, a assédios sexuais praticados nas suas instituições, das primárias às universitárias? E o piscar do olho é feito “usando o olho”, na expressão do Centro, ou usando a pálpebra? Sendo filósofos, não biólogos, é compreensível que os membros do Centro de Fylosofia não saibam da distinção entre olho e pálpebra, nem entre a potência de cada um, tal como ilustres juristas atualmente já não conseguem definir o que é uma mulher. Mas será que a patente e gozada ignorância sobre conceitos básicos da biologia que filósofos e juízes agora gostam de exibir, potencia o filosofar sobre a ética sexual e o fazer jurisprudência sobre a violência sexual?

Outro aspeto positivo do paper do Centro de Filosofya é o revelar, não tanto a sua ignorância de biologia, mas o modo como faz filosofia. Uma análise hermenêutica do texto em questão indicia que o seu método de filosofar segue as seguintes linhas mestras:

  1. Formular de modo erróneo, ou deturpado, a tese a rebater (no presente caso “a ética sexual da Igreja católica”).
  2. Demonstrar que que a formulação errónea está errada.
  3. Concluir que a parte contrária está errada e precisa de evoluir.

Note-se que este modo de argumentar não é exclusivo do Centro de Filosophia: políticos, empresàrios e outros profissionais utilizam-no diariamente como se verdadeiros sofistas6 fossem. O que parece ser revelador da enorme & justificada influência intelectual que o Centro de Philosophia atualmente exerce sobre largos sectores da vida nacional.

Mas o Centro de Fylosofia aplica este método de modo especialmente exímio, o que deve encher de orgulho toda a intelectualidade tuga. Neste caso, começa por formular explicitamente “as linhas argumentativas” da e-sexual da Igreja Católica, abrangendo as “mais teológicas” da encíclica Humanae Vitae e as “mais filosóficas” de Elisabeth Anscombe, com cinco preposições. A terceira preposição, aquela que será posteriormente demonstrada falsa é a seguinte: “Um ato é moralmente apropriado só se tal ato realiza os propósitos naturais ou biológicos dos órgãos.” (enfase acrescentada)

O único problema com esta formulação é nunca ter sido feita pelo magistério da Igreja Católica, embora de facto pareça ser a que um sr. padre com doutoramentos em acompanhamento pastoral y sociologia das migrações poderia fazer na improvável situação de ser confrontado sobre o assunto. Mas o parecer não implica o ser, como já dizia o outro. O Centro de Filosufia, ao ser capaz de atribuir esta sua formulação à doutrina da Igreja Católica, de duas uma:

  1. Ou está a revelar um conhecimento deficiente do objeto da sua investigação científica, certamente apropriado para um Centro de Investigação financiado pela FCT, provavelmente fruto de uma anàlise hermenêutica heterodoxa7 e aturada8dos textos dos Padres e Papas da Igreja.
  2. Ou adotou um sistema ético, que envergonharia qualquer sigano9, que lhe permite atribuir, conscientemente & sem vergonha, a outrem algo que este não disse e com que não concordaria.

Em qualquer caso, é curioso que o Centro de Filósofia não se tenha inquirido (possivelmente através da constituição de um grupo de trabalho especializado), se faria sentido a algum fiel ou clérigo católico que aceitasse a formulação da lei moral que o Centro lhes atribui, ajoelhar-se para rezar. Será ingenuidade esperar que o resultado desse exercício teria evitado o dislate?

O erro na formulação que é feita da e-sexual da Igreja Católica, seja fruto de conscienciosa ignorância profissional ou da aplicação de uma ética alternativa na argumentação filosófica do Centro, concentra-se na minúscula expressão “só se”. A expressão pode ser minúscula, mas a deturpação é gigantesca. Será necessário dizer que o argumento que invalida a deturpação, por muito delicioso, sólido e hilariante que seja, não constitui prova contra a verdadeira e-sexual da Igreja Católica?

Note-se ainda que a insistência feita no paper em avançar o prazer10 como motivo eticamente justificador da ação humana também é revelador da filiação intelectual do Centro. Depois de Cálicles (fl. séc 4 a.C.) ninguém havia defendido de modo tã convincente a proeminência que o prazer deve ter na motivação das pessoas, excetuando possivelmente o malfadado Peter Singer. “Se coçar dá prazer, quanto mais comichão melhor” parece ser o princípio básico da filosofia ética do Cento, princípio certamente partilhado e praticado pela maioria dos nossos concidadãos, a avaliar pelo resultado das últimas eleições.

Mas, para além de revelar como o Centro de Filosofja faz filosofia e qual é o princípio ético que o orienta nas suas tomadas de posição sobre a e-sexual, o paper também demonstra a profundidade do conhecimento que existe no Centro sobrefilosofia, mais concretamente sobre história das ideias. A descoberta que foi S. Tomás quem verdadeiramente “fundou” a “teoria ética” da lei natural certamente que dará em breve ao Centro a fama e projeção internacional há muito merecidas.

Também a sua insistência de que não deve haver nunca confusão11 entre “o ‘ser’ e o ‘dever ser’ (ou … o descritivo com o normativo)”, assim & sem mais qualquer qualificação ou delimitação, indicia a profundidade da reflecção filosófica que se faz no Centro i constitui um passo de gigante no filosofar da humanidade que abrirá vastos horizontes de investigação na ontologia e nas ciências naturais: por exemplo, a proposição de que do facto do ser pardal não seguir que esse animal deva ser pardal, do ser mulher não requerer que deva ser mulher, ou de um átomo ser carbono não implicar que deva ser carbono, mas possa reagir como se fosse um átomo de oxigénio, abre possibilidades inauditas ao progresso cìêntífìcõ e no combate ao aquecimento global.

Igualmente, a crença que o Centro demonstra na mutabilidade da doutrina ética da Igreja Católica (por contraponto à sua aplicação em contextos históricos e culturais diferentes) revela a profundidade da sua fé religiosa de que essa doutrina não foi revelada por Deus Nosso Senhor (uma fé que engloba numerosas y variadas teologias incluindo a Ateísta, Budista, Comunista, Judaica, Maometana, a do cardeal12 Marx, a Xintoísta, Zoroastriana e outras). O que é uma fé legitima. Mas será legitimo um organismo estatal como é o Xentro de Filosofia promover assim tão pública & descaradamente a sua religião num estado que se quer laico? Então há algumas religiões mais iguais que as outras?

O que levanta uma questão: o Cento de Philosofia é financiado com o dinheiro de quem? Será com o dinheiro dos contribuintes? Será que é o IVA, que circuncisa13 as nossas compras no supermercado, e o IRS, que castra o nosso nível de vida, que são usados para produzir investigação científica desta importância, qualidade e sectarismo? Ou será através da emissão de dívida pública que gerações futuras alegremente empurrarão encosta acima com a eutimia de um Sífiso?

Fica então a questão: será ético, seja segundo a teoria das virtudes, ou a do consequencialíssimo das regras, a do utilitarismo dos atos, ou outra, obrigar o povo português a pagar, com o dinheiro que tanto lhe custa ganhar, a masturbação intelectual do tipo da que é feita para produzir este importante e prazenteiro position paper do CentrU di PhylosuphyA? Ou não será antes um abuso?

U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue coumu qver & lhe apetece. #EncuantoNusDeixam

  1. Igreja Católica: caminho que, segundo Sua Santidade, se faz acompanhando um irmão que quer ir para o Inferno; os seus membros, conhecidos como católicos, formam uma sociedade comunista em que têm tudo em comum e nada em nome individual, sendo que o tudo é Deus e o nada é tudo o resto, incluindo “património”, “vivências” & afins; dividem-se em clérigos e laicos sendo que os primeiros, vivendo permanentemente no pecado grave e irremível de clericalismo, estão todos, segundo uma evolução doutrinal recente, destinados ao Inferno.
  2. Católico: seguidor da doutrina da Igreja Católica na medida que esta não seja incompatível com a sua vida de pecado. A distinção entre o verdadeiro crente e o meramente nominal será feita apenas no Dia do Juízo e terá como base as obras de cada um (Mat 25, 34-46). Embora seja pelos frutos que se julgará a fé (Luc 6, 44), e a folhagem da vida não deixe distinguir claramente a sua espécie y qualidade, isso não impede que a especulação sobre se uma pessoa é verdadeiro ou falso católico se tenha tornado num passatempo popular, nomeadamente entre clérigos quando celebram missas de corpo presente.
  3. Não-filosofia: uma teoria filosófica que defende que todas as escolas filosóficas estão estruturadas numa distinção primordial que as próprias não são capazes de analisar e que apenas a não-filosofia pode aclarar; a não-filosofia é assim a prática filosófica que procede de axiomas transcendentais que conduzem a teoremas que não são interpretáveis filosoficamente. Com este paradigma, haverá algum maluquinho que não queira ser filósofo em vez de não-filosofo? Quando abrem vagas para investigador no Centro de Filosofia?
  4. Disclaimer: este lexicógrafo trabalhou em tempos numa instituição em que o referido sacerdote é capelão, período durante o qual foi regularmente abusado por ele. Nem a Igreja Katólica, nem as autoridades civis, deram até ao momento qualquer passo para investigar os referidos abusos. O que é meta-compreensível pois esses abusos eram verbais, não molestavam, eram públicos e geravam, além de debates acalorados, sonoras gargalhadas de todos os presentes.
  5. Renato Epifânio e Ana Sofia Lopes, “Estará a filosofia ‘na moda’?”, Observador, 10 de Outubro de 2022.
  6. Sofista: membro de uma seita filosófica que confunde opinião com ontologia, conhecimento com sabedoria, prazer com felicidade e conveniência com virtude. Em Portugal são militantes nu ps.
  7. Heterodoxo: polite para deficiente; caricatura & caricaturista da ortodoxia14.
  8. Aturar: virtude que consiste em aguentar uma chatice quando não se tem o vício da longanimidade, sendo que a leitura de textos patrísticos por um sofista contemporâneo constitui o exercício em grau mais heroico desta virtude. Como em outras áreas da vida moral, a confusão entre os mencionados vício e virtude é prevalecente.
  9. Sigano: membro de uma nação que segue o seu caminho sem chatear15 ninguém, ao contrário de socialistas e du sr. eng. Costa; seguem-no os subsídios e alguns animais domésticos; pessoa que nos enche o coração de alegre esperança ao nos fazer visionar uma risonha fortuna futura, lendo-nos a sina nos signos, em troco de uma percentagem sobre a fortuna presente, tal como o fazerem u ps e o sr. eng. Costa.
  10. Prazer: a via mais atraente para a infelicidade e o modo mais agradável de se ser infeliz; o matar por puro prazer, ou surplus killing, que é algo natural não só nos seres humanos, mas tb em outras espécies animais, não será justificável eticamente com os mesmos argumentos usados pelo Centro contra a ética sexual atribuída à Igreja Católica?
  11. Confusão: identificação de um objeto com outro, tal como um representante institucional se confundir com a instituição que representa, especialmente quando fala e atua com o crachá institucional ao peito, algo que o sr. prof. Marcelo ainda não percebeu; estado de entidades que estão de tal modo misturadas que não é possível fazer distinção entre elas, como o socialismo e a miséria; falta de correspondência entre a realidade e a compreensão dessa realidade, como na ética sexual do Centro de Phjlosofia e como na caracterização que o Centro faz da ética sexual da Igreja Católica.
  12. Cardeal:alto funcionário eclesial com título vitalício, eleito por um papa, para ter a possibilidade de vir a eleger e vir a ser eleito papa; dignidade eclesiástica cujos benefícios espirituais não foram imediatamente aparentes a Nosso Senhor Jesus Cristo, cujas vantagens organizacionais lhe passaram desapercebidas, e cujos benefícios temporais não O atraíram.
  13. Com uma taxa de iva a 23% da massa de cada transação, a circuncisão operada pelo iva no supermercado causa a remoção de muito mais do que somente o prepúcio.
  14. Ortodoxia: posicionamento correto dos ossos no esqueleto e, por analogia, posicionamento correto das ideias na tola. Ao posicionamento correto dos ossos apenas no pé chama-se ortopedia.
  15. Chatear: dar chá a quem prefere café, uma característica de suciedades, guvernos e pulíticos sucialistas.