Há muita gente que quer ir para o Inferno[1]. É, aliás, uma constante que, sempre que se constrói um paraíso socialista, as pessoas querem de lá sair. Isto aconteceu na URSS, no Vietnam e em Cuba. E continua a acontecer onde quer que a via para o socialismo comece a ser trilhada. E para onde querem fugir esses danados? Curiosamente, querem ir para países com democracia burguesa e economia de mercado, aquilo a que comum e metaforicamente se chama inferno capitalista.

E não são só eles. Também as massas injustiçadas, empobrecidas e reprimidas oriundas de todos aqueles países onde o poder político e económico é regulado e monopolizado por caciques, cliques, elites e mullahs. Também essa multidão de despojados de direitos políticos e económicos não procuram a bem-aventurança nos paraísos socialistas, mas querem ir viver para um dos infernos capitalistas que ainda vão existindo por este mundo e, se possível, obter entrada naquele inferno mais profundo e terrível, onde um Lúcifer encarnado[2], desbocado e tresloucado, preside à opressão dos pobres, das minorias e das mulheres com um boné MAGA encarnado[3]. Não há dúvida que o inferno continua a ser hot.

Esta atração das massas pelo inferno sempre foi incompreensível para almas informadas, abonadas e preocupadas pelo bem-estar dos outros, e sempre incomodou warxistas e waoistas, quanto mais não fosse pela irresponsabilidade social e pelo mau exemplo que constituem para os demais. Se os desgraçados não percebem onde está a sua verdadeira felicidade, a solução tem sido obrigá-los a ficar no paraíso, construindo cortinas, a de ferro na Europa, a de bambu na Ásia, para impedir o êxodo, e também a sua reeducação ideológica[4] através do trabalho, da dieta e da maceração da carne. Embora o desejo de que todos se salvem da selvática exploração capitalista seja, sem dúvida, meritório, fica a dúvida: até que ponto será legítimo tornar a salvação socialista obrigatória para todos, especialmente para os que a não querem?

Este desejo de que todos se salvem não é exclusivo dos socialistas, mas também é partilhado pelos cristãos. A Igreja tem ensinado, desde sempre, que Deus quer a salvação eterna de todos os homens sem exceção e que, também nós, devemos desejar a salvação de todos os nossos semelhantes, mesmo daqueles que nos fazem mal. Aquando de perseguições, seja em Roma no segundo e terceiro século ou no Japão do século dezassete, a literatura cristã da altura frisa sempre que, em momento algum, seja sob tortura ou no momento da execução, se deve desejar mal, temporal ou eterno, por palavra ou pensamento, nem a caluniadores, nem a magistrados injustos, nem a torturadores e carrascos cruéis. Como que a confirmar este preceito, em Fátima, o Anjo ensinou os videntes a orar: “Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do Inferno, e levai as almas TODAS para o Céu, e socorrei principalmente as que mais precisarem.”

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No entanto, tem sido doutrina constante da Igreja, que o Inferno existe e que qualquer um, até Sua Santidade[5], lá pode ir parar se não tiver cuidado com os pensamentos e palavras, atos e omissões. Aliás a doutrina cristã sobre o Inferno originou, um pouco surpreendentemente para alguns, com Cristo, que preveniu os seus discípulos que “larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele” (Mt 7, 13) e que profetizou que um Dia, terrível e glorioso, dirá aos do Bloco à sua esquerda: “afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo[6] e para os seus anjos” (Mt. 25, 41).

Também tem sido doutrina cristã, antiga e constante, que só vai para o Inferno quem quer: aqueles que voluntariamente, explicita ou implicitamente, rejeitam Cristo ou como Senhor, ou como Deus, ou como Salvador, ou Messias, Rei, Sacerdote ou Profeta. Ou ainda aqueles que não O aceitam como o Cordeiro de sete olhos e sete chifres (Ap 5, 6), nem ter gravado nas suas frontes o seu nome (Ap 22, 3). Contra esta doutrina, sã e ortodoxa, propagou-se nos últimos tempos, que são os últimos, a moda eclesiástica de que os homens[7] acabarão por ir todos para o Céu, queiram ou não queiram.

Há duas explicações, igualmente válidas, para o surgimento desta moda intelectual pouco liberal e muito populista que vai, não só contra o ensinamento do Senhor, mas ainda contra a tradição pastoral milenária da sua Igreja. Uma é que, com a abertura eclesial ao mundo[8] e à sua cultura, protagonizada pelo Concílio Vaticano II, a doutrina cristã acolheu e absorveu a escatologia e praxis warxista. Assim, se os militantes socialistas forçam legitimamente as massas a entrar, em vida, no paraíso socialista para as não deixar a tornar a sair para o inferno capitalista, porque não hão de também os srs. padres obrigá-las a ir eternamente para o Céu após a morte? A isto se acresce que a descristianização das sociedades tradicionalmente cristãs, concomitante com o fecho dos trabalhos do mesmo Concílio, impeliu alguns sectores eclesiásticos a sentir a necessidade de encher o Paraíso com infiéis, dada a crescente míngua de fiéis.

A esta explicação sociológica junta-se a ecológica: a energia requerida para manter o Inferno já não em brasa, mas apenas razoavelmente hot, contribui indubitavelmente para o aquecimento global, o efeito El Niño, e para a subida dos oceanos. Com uma nova consciência ecológica, a Igreja sentiu-se obrigada não só a mandar para o Céu todos os que agora morrem, mas também a dar ordem de despejo a todos os que, demónios e danados, já tinham ido para a Geena, de modo a que as fornaças infernais possam vir a ser apagadas e desmanteladas. Espera-se que o governo português conceda uma isenção a satanás, semelhante às que concedeu ao pcp, no que se refere ao articulado sobre despejos selvagens de locatários idosos e detentores de contratos de arrendamento sem termo. Discute-se a possibilidade, em meios eclesiais restritos, e a pedido de dignatários do outro lado da linha de separação entre estado e Igreja, de apenas manter no Inferno uma pequena divisória, caso possa vir a ser abrasada a energia eólica, de modo a para lá enviar o sr. dr. Ventura a seu devido tempo. Como é óbvio, a explicação ecológica não é incompatível com a sociológica.

Parece, no entanto, que esta obrigatoriedade de todos irem para o Céu pode constituir uma injustiça e uma violência para algumas, quiçá muitas, pessoas. Para tal valerá a perna relembrar em que consiste o Paraíso Celestial. A teologia e a mística cristã descrevem a bem-aventurança celeste com imagens variadas, mas todas congruentes entre si. Uma é que o Céu é a Visão Eterna da Face de Deus (1 Cor 13, 12; 1 Jo 3, 2; Ap 22, 4). Outra é que a Vida eterna é o gozo interrupto da Presença do único Santo, Jesus Cristo (Jo 14, 3; 1 Ts 4, 17). Uma terceira é que será a celebração sem fim da Ceia das Bodas do Cordeiro (Ap 19, 6-9). Outra ainda é que será a celebração eterna da Divina Liturgia (Sacrosanctum Concilium 8). Nesta linha, S. João Paulo II descrevia a Missa como o “Céu na terra” explicando que “a liturgia que celebramos na terra é uma participação misteriosa na liturgia celeste” (Angelus, 1996.11.03). Dito por outras palavras, de acordo com estas simbologias o Céu será uma Missa sem fim, eterna. Mesmo entre católicos, quantos é que quererão ir para o Céu sabendo que é uma Missa, não já daquelas que demora uma hora, nem duas ou três, nem sequer uma “eternidade”, mas e…t…e…r…n…a…m…e…n…t…e…?

Depois temos os ateus. Não será que obrigá-los a olhar, olhos nos olhos, Aquele em quem não acreditam, um suplício infinito e eterno? Não demostraria mais espírito desportivo, para já não dizer que seria mais humano e caridoso, deixá-los ir para o Inferno, o estado onde há ausência de Deus (Audiência papal, 1999.07.28)? E que dizer de obrigar as pessoas de outras religiões a participar numa cerimónia cristã, a celebração Eucarística, por toda a eternidade? Não será isso uma forma de proselitismo, que se é intolerável neste mundo (Vídeo mensagem de Sua Santidade, 2019.11.22), não será abominável pela eternidade? Não seria antes de deixar que os maometanos fossem para o seu Jannah, por muito infernal que seja numa perspetiva Cristológica, e os budistas para o seu Nirvana, por muito mindless que seja numa perspetiva tomística?

Temos portanto que contra este liberalismo espiritual, milenar na Igreja, que defende que só vai para o Inferno quem quer, se opõe um certo autoritarismo teológico e espiritual, que ensina que no final dos tempos todos têm de ir para o Céu, queiram ou não. O principal argumento dos teólogos deste autoritarismo modernista é que, sendo Deus o Todo-Poderoso, uma vez que deseja que todos se salvem (1 Tm 2,4), todos têm de lhe obedecer e ir para o Céu. Se assim não fosse e, se no final dos tempos, Ele não conseguisse ganhar em toda a linha contra o demónio e não alcançasse que todos, homens e diabos, crentes e incréus, com vontade ou sem ela, fossem parar ao Céu, para a tal Missa eterna, tal constituiria uma enorme vergonha para Si e prova de que há coisas que o Todo-Poderoso não consegue. Para demonstrar que de facto é Todo-Poderoso, reza o argumento, Deus terá que destruir o Inferno, e não só destrui-lo mas arrasá-lo e salgá-lo, como os antigos generais romanos faziam às cidades inimigas que queriam obliterar totalmente para todo o sempre, e deportar os seus habitantes para o Céu ou, no mínimo, passá-los à espada para a inexistência ontológica.[9] Além disso, dizem os teólogos da tirania divina, revestidos com uma nova mentalidade ecológica, se assim não fosse, a Encarnação de Cristo, a sua Paixão, Morte e Ressurreição seriam desperdiçadas na medida em que o seu efeito salvífico não fosse totalmente eficaz, e arrematam que não pode haver desperdício nem na ecologia, nem na escatologia divina. Finalmente acrescentam que os homens não sabem verdadeiramente o que querem, nem o que é bom para eles, como a sua resistência visceral ao warxismo sobejamente demonstra, pelo que é necessário que Alguém faça as escolhas corretas por eles, principalmente as escatológicas, & as faça implementar.

A resposta das correntes teológicas, mais antigas e liberais, a estes argumentos de caráter caudilhista, autoritário e ditatorial é que não há incompatibilidade entre Deus ser Todo-Poderoso e o livre-arbítrio dos homens, que permite que alguns escolham seguir pela via da perdição e prefiram ir gozar a eternidade para o Inferno. Notam que Deus, na Sua infinidade, é bem-aventurado na sua essência, em si mesmo: nada do que acontece na Sua criação lhe tira ou acrescenta glória, felicidade ou qualquer outra coisa, pelo que não faz sentido em falar em derrota de Deus. O Seu ato de Criação não foi feito com o objetivo de Se tornar mais poderoso ou feliz, mas dar às criaturas o dom de serem; e que sendo, pudessem ser felizes se quisessem. De modo semelhante, a redenção operada pelo Seu Filho Unigénito na cruz foi uma dádiva à humanidade caída cuja munificência é já de si um desperdício infinito: uma gota de sangue, para já não dizer que uma gota de suor, de Jesus Cristo seria mais que suficiente para atonar todos os pecados da humanidade, incluindo a incúria estatal em Pedrogão Grande.

Acrescentam ainda que nem podia ser de outro modo porque Deus é infinitamente justo e quer remunerar os homens espirituais com dons espirituais, e os carnais com os frutos da carne (Mt 25, 14-30). E não só infinitamente justo mas infinitamente misericordioso, dando dons espirituais aos que querem os frutos do espirito e os frutos da carne aos que querem dons materiais. Para além disso, em Deus não existe qualquer divisão: a sua essência é infinita. Logo, não suporta divisões, nem nEle há qualquer divisão de qualidades. Isto é, em Deus a Sua Sabedoria é o mesmo que a Sua Justiça, a Sua Justiça é o mesmo que a Sua Misericórdia, a Sua Misericórdia é o Seu Poder, o Seu Poder é o Seu Amor, o Seu Amor é a Sua Sabedoria, e assim por diante. Assim, no Dia do Julgamento, quando Nosso Senhor disser aos do hemiciclo à sua esquerda “afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno”, não só estará a ser totalmente Justo, mas também a ser todo Misericordioso, cheio de Sabedoria, de Poder, Santidade, Glória, Humildade e Amor. A nós, à primeira vista, isto pode parecer estranho, porque estamos acostumados a contrapor, como opostas, a perfeita justiça à perfeita misericórdia, mas é esta a maneira de ser do Todo-Poderoso, segundo a autorizada opinião de S. Agostinho, S. Tomás de Aquino e de uma multidão de teólogos vários.

Assim, o Deus querer que todos se salvem, ajusta-se perfeitamente ao Seu querer que todos sejam livres e que livremente escolham o Bem que, em última análise, é querer ir não para a glutonia e ira, deboche e preguiça, roubo e avareza, mentira e orgulho do Inferno, mas para a Missa eterna, beatífica e sem fim do Paraíso. Por isso é doutrina católica ortodoxa que, no Dia do Julgamento, no instante antes de Cristo pronunciar a Sua sentença, cada pessoa terá ela mesma, ao contemplar a Misericórdia Divina (que é a sua Justiça, Majestade, Amor, etc.), pronunciado, de acordo com o seu estado de alma, que refletirá o estado desta, a sua preferência eterna e definitiva sobre o seu próprio destino. Isto é, é cada qual que decide nesse momento se vai para o Céu ou para o Inferno, preferência que mais não será confirmada pelo Deus da Misericórdia (e da Justiça, da Majestade, do Amor, etc.), quando disser aos bloquistas à sua esquerda “afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno”, e o oposto para os eleitos à sua direita (com a eventual exclusão do sr. dr. Ventura).

Aliás, a declaração assinada por Sua Santidade com o  grande imã Sheik Ahmad el-Tayeb, em que se afirma que Deus deseja a pluralidade de religiões, vem dar força a este milenar argumento contra o despotismo escatológico: se Deus deseja uma pluralidade de religiões, com certeza que aceitará de bom grado uma pluralidade de estados existenciais após a morte, independentemente de serem chamados infernos ou paraísos. Enquanto uns, sejam muçulmanos, cristãos ou budistas, preferirão ir por toda a eternidade para os braços das houris no Jannah, outros optarão por assistir à Divina Liturgia eterna. Para uns, como S. Paulo, o apóstolo, as houris serão o Inferno, que os outros chamarão paraíso; uns chamarão à Missa, a eterna Ceia das Bodas do Cordeiro, paraíso, enquanto para os outros tal mais não será que uma grande seca.

Que maior prova, não só de liberalismo, mas também de liberalidade, podia Deus Nosso Senhor nos dar, ao permitir que cada qual possa escolher, pessoal e responsavelmente, entre passar a eternidade ou numa estância mais hot que qualquer praia Cabo Verdiana ou a participar na Sagrada Liturgia que não tem fim? Por isso, srs. padres, por favor, e em nome do Amor, da Justiça e da Misericórdia divina, deixai que o Inferno continue a ser hot como sempre foi, e permiti que cada qual possa escolher, pessoal e responsavelmente, para onde quer ir passar a eternidade. Em vez de nos beatificar logo, a todos nós que somos uns patifes, lembrai-nos antes do que quer dizer “nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu.” (Mt 7, 21)

U avtor não segve a graphya do nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nem a do antygo. Escreue como qver & lhe apetece.

[1] Inferno: (metaforicamente) economia capitalista; (na realidade) sociedade socialista — se alguém tem dúvida leia: Arquipélago de Gulag de Aleksandr Solzhenitsyn; (por analogia — segundo a interpretação do pe. A. Sosa SJ) local de eterno sofrimento; Hades; onde o verme não morre e o fogo não se apaga; Geena; lixeira para humanos; segundo a filosofia escolástica, o centro do universo; abismo; (teologia) onde há ausência de Deus; residência atual dos srs. Karl Marx e Friedrich Engels e de toda a alargada família socialista que já partiu; local que, na narrativa de Eugenio Scalfari, Sua Santidade declarou não existir— retirando a esperança, a última virtude cardeal que lhes restava, aos cristãos que acreditavam na construção de uma sociedade socialista; de notar que, sobre a realidade desta declaração acerca da irrealidade do Inferno, o Vaticano desmentiu e negou, Sua Santidade calou, e o Superior General da Sociedade de Jesus, o pe. Arturo Sosa SJ, confirmou e redobrou; meios ligados ao sr. arcebispo Carlo Viganò, com quem Sua Santidade irá conviver no Céu por toda a eternidade, caso o Inferno de facto não exista, revelaram que S. Paulo se encontra atualmente a finalizar a sua Carta aos Venezuelanos sobre este quente e candente assunto que, dizem, seguirá as linhas da primeira carta do mesmo santo autor aos Coríntios, nomeadamente onde escreveu: “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não vos iludais: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os pedófilos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os beberrões, nem os caluniadores, nem os salteadores herdarão o Reino de Deus.” (1 Cor 6, 9-10) É expectável que o grupo parlamentar do ps proponha uma moção a condenar a falta de inclusividade expressa nestas linhas.

[2] Encarnado: ser espiritual que tomou provisoriamente corpo material, como em “o dr. Ventura é um demónio encarnado”, quando não se pretende fazer referência ao seu benfiquismo.

[3] Encarnado: cor do Sport Lisboa e Benfica; tonalidade da pele de pessoas de raça amarela, branca e preta pela parte de dentro; não confundir com vermelho: o arq. Louçã é vermelho ao contrário do dr. Ventura que é encarnado.

[4] Ideologia: religião secular com credo, divindade(s) e moralidade; a principal diferença entre ideologia e religião reside em que, sendo aquela uma religião, não quer ser classificada como tal, para assim poder gozar dos privilégios vedados àquelas que aceitam o epiteto, o menor dos quais não será poder fazer eleger deputados como o pan e formar governo como o ps.

[5] Sua Santidade: alto funcionário eclesial com título vitalício, eleito por colégio de cardeais[10]; papa; existe alguma controvérsia na imprensa jacobina sobre o significado do título: se um santo[11] homem santifica a cátedra pecaminosa, se uma cadeira santa santifica o homem pecador, ou se a santidade, ao contrário das pulgas, não é uma condição transmissível entre homens e cadeiras. Controvérsia semelhante ocorre com as cátedras da Universidade de Coimbra, não em relação à santidade, mas entre bom senso e pulgas.

[6] Diabo: o filho do vizinho de cima; demónio; político mediático de direita como o dr. Ventura; puro espirito impuro; o dono disto tudo; ser que faz fumo, a dar fé a S. Paulo VI que terá declarado que “por alguma frincha, o fumo de satanás entrou no templo de Deus” (Homilia, 1972.6.29); a crença no diabo é convicção antiga como se pode verificar num fragmento, recentemente descoberto, do Credo do Concilio de Trauliteia (séc. 3): “… / Creio o diabo …/ Vanglória falsa, de vanglória falsa / Criado, não gerado, insubstancial e inconsubstancial com o Criador / Por ele nada foi feito / E contra nós homens e para nossa perdição / Subiu do Inferno / Não encarnando de Eva mas por ela introduzido neste mundo / Para que padecêssemos e fossemos sepultados /…”.

[7] Homem: uma das duas configurações com que que os Homens vêm a este mundo, nus para evitar confusão na classificação, verificável nos órgãos reprodutores e determinada pelo DNA; uma teoria filosófica sebosa e cerebrosa recente nega que esta divisão se fundamente corporeamente no baixo abdómen mas que se encontra realmente no córtex pré-frontal em dois neurónios de tipo x e y que determinam o sexo; pessoa com características estruturais, funcionais e comportamentais inferiores à média; no hétero-patriarcado branco, aquele que serve de sustentador e provedor, sendo classificado como ‘bom’ ou ‘mau’ com base na capacidade da mulher vestir Chanel ou outro trapo de marca; membro da espécie animal Homo Sapiens, espécie que, nos intervalos em que trabalha pela extinção dos seus semelhantes, se ocupa da preservação das outras, como sapos, cobras e lagartos; apesar de todos os esforços para se autoextinguir, a espécie prospera com tanto vigor que já infeta toda a terra habitável e a Espanha, pondo em causa a sustentabilidade ecológica da mãe terra; na frase que remete para esta nota, ‘homens’ designa ‘Humanidade’, isto é, homens e mulheres, já que o texto se refere ao Cristianismo; se a discussão teológica feita acima tivesse como o Budismo como referência, então ‘homens’ significaria somente homens, com exclusão de mulheres, pois só aqueles podem entrar no Jōdo 浄土, o Paraíso da Terra Pura, sendo que as mulheres têm que reencarnar antes como homens neste mundo para depois lá poderem serem admitidos. Como será operada a reencarnação da última mulher como homem, para poder ter acesso ao paraíso de Amida, é uma questão que ultrapassa a competência e não cabe no estreito vaso do engenho deste lexicografo.

[8] Mundo: o estado terrestre da existência humana, especialmente quando sufixado pelo diabo e a carne; estado não-terrestre da existência humana, quando prefixado pelo ‘outro’.

[9] Baseados numa teoria filosófica clássica que defende que o ser, por mais miserável que seja, é metafisicamente superior ao não ser, a grande maioria dos teólogos católicos ortodoxos defendeu, até recentemente, que lhes sendo dado a escolher no dia do Juízo entre um Inferno eterno e a não existência, qualquer alma, tendo nesse dia uma visão clara das consequências da sua escolha, fará a opção ontologicamente correta e escolherá por viver eternamente no Inferno como sendo a melhor das duas alternativas. Como evidência da verdade desta teoria, S. Boaventura deu o exemplo do arq. Louçã que sempre terá preferido a existência miserável no inferno capitalista, não só às delícias do paraíso venezuelano, como também ao prazer do não ser num cemitério de prazeres.

[10] Cardeal: alto funcionário eclesial com título vitalício, eleito por um papa, para ter a possibilidade de vir a eleger e vir a ser eleito papa; dignidade eclesiástica cujos benefícios espirituais não foram imediatamente aparentes a Nosso Senhor Jesus Cristo, cujas vantagens organizacionais lhe passaram desapercebidas, e cujos benefícios temporais não O atraíram.

[11] Santo: warxista que já morreu e está no inferno; pessoa que foi para uma Missa e de lá já não volta.