Chegou a altura de escrever o meu artigo anual sobre futebol. Ainda bem que não vou felicitar o Sporting, como o ano passado, mas celebrar a vitória do Porto. Ou melhor, a dobradinha do Porto (por isso, só escrevo hoje e não o fiz na semana passada).

O grande mérito destas vitórias pertence a Sérgio Conceição, tal como todas as outras vitórias do Porto nos últimos cinco anos (mais dois campeonatos e uma taça de Portugal). Sérgio Conceição é um excelente treinador. A equipa sabe sempre o que deve fazer no jogo, nos bons e nos maus momentos, nas jogadas de bola corrida e nas bolas paradas, o que mostra muito treino, e de uma grande qualidade.

Os jogadores, os titulares e os suplentes, gostam e respeitam Sérgio Conceição, o que revela uma enorme capacidade de liderança. Mais importante, os jogadores melhoram a sua qualidade com Sérgio Conceição. Diogo Costa chegou a titular do Porto e da seleção com 22 anos, muito raro para um guarda-redes. João Mário foi transformado num grande defesa direito. Vitinha é indispensável, tem uma qualidade superior, e também já chegou à seleção. Fábio Vieira será o próximo fora de série do Porto (que talento). Octávio tornou-se um médio completo, à volta do qual se organiza o jogo do Porto.

Sérgio Conceição também fez de Mbemba um defesa central de classe mundial. Quando chegou, Luiz Diaz era um talento irregular, mas dois anos e meio depois partiu como um dos melhores jogadores do mundo, sendo agora titular do Liverpool. Até Marega jogou futebol quando foi treinado por Sérgio Conceição.

Além de tudo isso, Sérgio Conceição é um grande portista e isso conta muito para todos os Dragões. O Rubem Amorim também é um grande treinador, mas não é sportinguista. Roger Schmidt pode ter sucesso no Benfica, mas não é seguramente benfiquista. No caso de Sérgio Conceição, juntar a sua elevada qualidade como treinador ao amor que sente pelo Porto, é perfeito.

Como portista, o meu maior receio é que Sérgio Conceição abandone o Porto. Seria o melhor que poderia acontecer ao Benfica e ao Sporting (por isso, todos os dias, a Bola, o Record e o Correio da Manhã publicam notícias sobre a sua possível saída). Sérgio Conceição tem a ambição legítima de lutar para ganhar uma competição europeia. E não terá que ser a Champions, o que no Porto é quase impossível nos dias que correm, e ele sabe. Pode ser a Liga Europa. O Porto tem melhor equipa do que o Entraicht de Frankfurt, vencedor da Liga Europa. Mas a venda de Luiz Diaz em Janeiro impossibilitou que o Porto lutasse pela competição europeia.

Foi uma venda criminosa. Foi, antes de mais, uma traição que a direção do Porto fez a Sérgio Conceição: tiraram-lhe o melhor jogador a meio de época. Mas também foi uma venda péssima em termos financeiros. Luiz Diaz poderia ter sido muito melhor vendido não fosse a gestão ruinosa da direção do Porto nos últimos anos. A delapidação dos activos do Porto é inaceitável. Temos visto jogadores mal vendidos, jogadores a saírem do clube a custo zero, e compras de jogadores caros que nunca chegam a jogar. Sérgio Conceição estará certamente cansado da gestão errática do Porto. Como é possível um clube com o sucesso desportivo do Porto estar na falência practicamente há cinco anos?

Custa-me dizer, mas está na altura dos portistas encararem a realidade: hoje a figura indispensável do Porto não é Pinto da Costa, é Sérgio Conceição. Com Pinto da Costa, o Porto perdeu quatro campeonatos seguidos para o Benfica. Chegou Sérgio Conceição, e o Porto voltou a ganhar.

Pinto da Costa teve o mérito de contratar Sérgio Conceição, mas o seu tempo de Presidente do Porto esgotou-se. Nunca esquecerei tudo o que ele fez pelo Porto. Fez de um clube regional um grande europeu. É o melhor Presidente da história do futebol português. Sou um portista de Lisboa. Sou incapaz de contar o número de discussões que tive nos últimos 40 anos para defender Pinto da Costa (milhares?). Mas devemos encarar a realidade. Pinto da Costa é o responsável pela gestão danosa do Porto. E as vitórias desportivas não podem impedir os portistas de aceitarem a realidade. Pinto da Costa deveria aproveitar a dobradinha para sair em beleza. Seria o ‘Presidente Emérito’ do Porto, porque os portistas nunca esquecem os seus. Mas organizaria eleições para os sócios escolherem o seu sucessor: um portista com energia para se dedicar ao clube e sobretudo com capacidade para mudar a política desportiva do clube. E sobretudo dar a Sérgio Conceição os jogadores que ele merece.

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